Geração de oportunidades perdidas
A empregabilidade dos jovens em todo o mundo está muito comprometida. O sinal de alerta foi dado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) ao divulgar, em meados do ano passado, o número recorde de quase 81 milhões de desempregados com idades entre 15 e 24 anos – um contingente duas vezes superior à população total da Argentina.
A novidade, entretanto, é que a situação dos países desenvolvidos está muito mais complicada do que a de nações subdesenvolvidas ou em desenvolvimento. Enquanto o índice de jovens desempregados dos primeiros aumentou 34,1% entre 2008 e 2009, na América Latina o índice cresceu 11,4%.
A gravidade da crise levou a OIT a prever o surgimento de “uma geração perdida, constituída de jovens que abandonaram o mercado de trabalho e perderam as esperanças de poder trabalhar e ganhar a vida decentemente”, conforme atesta relatório divulgado em 2010.
Entretanto, apesar do aparente clima de estabilidade abaixo do da linha do equador, no Brasil os jovens continuam a liderar o ranking de pessoas com maior dificuldade de entrar no mercado de trabalho. Uma das razões – que não é nova, pois foi detectada há décadas – é a falta de integração entre o mundo acadêmico e o mundo do trabalho.
Esse descolamento gera um cenário pernicioso que impede o pleno aproveitamento da expansão do mercado de trabalho: cresce aos milhares a oferta de vagas, mas elas permanecem em aberto diante a crônica carência de profissionais capacitados para enfrentar os desafios da economia moderna.
O tamanho do problema? Pesquisa realizada pela consultoria PricewaterhouseCoopers revelou que 63% dos presidentes de empresas no Brasil temem um apagão de mão de obra. Portanto, mais do que nunca, o País precisa institucionalizar práticas de inclusão profissional de jovens, com destaque para o estágio de estudantes, e empenhar-se com mais vigor para fazer valer leis como as da aprendizagem e as das cotas de pessoas com deficiência.
Outra vertente da solução é o estímulo ao ensino profissionalizante – solução já ensaiada pelo Brasil e que está sendo colocada em prática pela China, interessada em manter seus espetaculares índices de crescimento da produção. No Brasil, a necessidade de ação é premente e o preço da omissão será a concretização das previsões da OIT: uma geração de oportunidades perdidas.
(*) Luiz Gonzaga Bertelli é presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), da Academia Paulista de História (APH) e diretor da Fiesp.
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