ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MAIO, QUINTA  09    CAMPO GRANDE 26º

Cidades

Filho de desembargador com "renda de 7,8 mil" movimentou 1 milhão em 9 meses

Três dos 4 filhos do desembargador afastado foram alvo de operação por transações bancárias suspeitas com pai

Por Lucia Morel | 09/02/2024 16:48
Vânio Maran e Divoncir Júnior, dois dos filhos do desembargador afastado. (Foto: Redes Sociais/Campo Grande News)
Vânio Maran e Divoncir Júnior, dois dos filhos do desembargador afastado. (Foto: Redes Sociais/Campo Grande News)

Investigação da Polícia Federal que culminou ontem na Operação Tiradentes coloca o filho mais velho do desembargador afastado, Divoncir Schreiner Maran, como “principal operador” do suposto esquema de lavagem de dinheiro de propina que teria sido recebida pelo magistrado para colocar o megatraficante Gerson Palermo em prisão domiciliar.

Vânio César Bonadiman Maran movimentou R$ 1.074.532,05 em suas contas bancárias no período de nove meses (junho de 2021 a março de 2022). Entretanto, mesmo sendo advogado com inúmeras causas estaduais e federais, no mesmo período ele declarou à Receita Federal que seus rendimentos mensais não ultrapassam R$ 7.687,50.

Para a ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que autorizou as buscas e apreensões de ontem, Maria Isabel Gallotti, baseada na petição da PF, “foram várias as movimentações financeiras atípicas identificadas. Possivelmente, o investigado (desembargador) valeu-se de seus familiares para ocultar ou dissimular ganhos ilícitos”.

São apontados cinco indícios de movimentações bancárias suspeitas em relação a Vânio, todas envolvendo também seus irmãos e o pai. Os dados foram obtidos através de quebras de sigilo bancário autorizadas e repassadas pela Receita Federal. A primeira delas é de movimentação indiscriminada de transferências bancárias, tanto de Vânio quanto de seu pai.

São várias as transações suspeitas, segundo interpretação da PF. O terceiro ponto analisado foram os registros cartorários envolvendo duas escrituras de imóveis em nome dos quatro filhos do desembargador. Nesse caso, houve débito de R$ 2 milhões para compra de imóvel que “não se pode precisar a forma de pagamento”, porque não aparece em movimentações oficiais.

Há também inconsistência em transferências bancárias de mais de “meio milhão de reais feitas pelo desembargador em favor de seus filhos” e por fim, “grande quantidade de depósitos que circulam na conta de Vânio Maran”, todas inferiores a R$ 50 mil, limite que dispensa possíveis esclarecimentos ao COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Valores – O montante dos depósitos sob suspeita, conforme as investigações, chegam a R$ 746,5 mil, sendo R$ 175,1 mil em espécie. Outros 243 depósitos são de terceiros.

Também foi identificada transferência a outro filho de Schreiner Maran, Rafael Fernando Ghelen Maran, proprietário do Rancho Jatobá. “No contexto da análise preliminar fiscal ora apresentada, verificou-se que o rancho é um dos compradores de gado do rebanho de Divoncir Schreiner Maran, com notas fiscais destinadas a Vânio Maran”.

Entretanto, o que acendeu o alerta das investigações foi que, no ano de 2020, “não se identificou transações bancárias envolvendo vendedor e comprador, encontrando-se pendente de apuração como decorreram os pagamentos, o que pode resultar em omissão de despesas de Rafael Maran”, cita a análise da Polícia Federal.

Mais filhos e familiares – Os outros dois filhos do desembargador - Divoncir Schreiner Maran Júnior e  Maria Fernanda Ghelen Maran – também receberam ou pagaram através de transferências suspeitas.

“Divoncir Junior depositou em favor de Vânio Maran quantia que totaliza R$ 137.393,65, fracionada em inúmeras operações bancárias, sob a justificativa de recebimento por suposto repasse de carta de consórcio, contemplado ao irmão por R$ 75.000,00, lançando dúvida sobre o saldo remanescente, de mais de R$ 60.000,00”.

Os dados coletados pela PF indicam ainda que entre 5 e 6 de julho de 2021, Vânio transferiu R$ 24 mil para Rafael, Divoncir Júnior e a outra irmã, Maria Fernanda Maran, o que somou R$ 72 mil. Nesse meio, surgiu a figura de ex-funcionário do escritório de advocacia em que Divoncir e Vânio são sócios, Cristian Araújo, também alvo da operação, que seria "laranja". As contas bancárias dele foram usadas para “passagem” de valores da família Maran.

A esposa do desembargador, Viviane Alves Gomes de Paula, e a ex-servidora de seu gabinete, Gabriela Soares Moraes, também estão sob suspeita. Sobre Viviane recaem “indícios de inconsistência” que, segundo a PF, mostram possível evolução patrimonial, “bem como elementos que indicam a tentativa de confundir a real origem dos bens pertencentes ao casal”.

Quanto a Gabriela, a suspeita decorre de lançamentos que, “embora omitidos em sua declaração, são oriundos de recursos provenientes do pai e da mãe da investigada e de recebimentos sem identificação”. Para a Polícia Federal e para a ministra do STJ, por conta disso, “cabe esclarecer se houve lançamento dos valores em suas respectivas declarações e qual seria a origem desses valores com omissão de identificação”.

Nesse contexto, os demais investigados e o desembargador teriam atuado em conjunto, de forma coordenada. É estritamente necessário, portanto, o deferimento da busca e apreensão em seus respectivos endereços. Apenas assim será possível identificar ainda mais documentos, anotações, provas em arquivos digitais, comunicações entre os investigados ou outros elementos aptos a robustecer, desmentir e esclarecer a acusação”.

A defesa do desembargador, advogado André Borges, avalia que “nada de concreto e vinculado à decisão no habeas corpus foi apurado na investigação em curso”, citando a decisão que soltou Palermo. Para Borges, há “apenas suspeitas infundadas e fatos antigos, que poderiam e serão esclarecidos”.

Para ele, a medida de ontem – a operação da PF e consequente afastamento do desembargador – foi drástica e “exigiria muito mais, nos termos da lei”. “Mais adiante surgirá o único resultado para isso tudo: arquivamento ou absolvição. Divoncir Maran, um homem agradável e de enorme coração, jamais merecia isso que estão fazendo com ele”, encerra o defensor.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias