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Na pressão dos estudos, excesso de energéticos é risco para adolescentes

Em altas doses, energéticos e outros estimulantes podem causar arritmia e ansiedade, explicam especialistas

Por Mylena Fraiha | 28/04/2024 09:09
Nova "onda" entre os jovens, energético é escolhido por estudante de cursinho da Capital (Foto: Paulo Francis)
Nova "onda" entre os jovens, energético é escolhido por estudante de cursinho da Capital (Foto: Paulo Francis)

De sabores, preços e tipos variados, as bebidas estimulantes, como energéticos e café, estão se tornando cada vez mais populares entre os pré-vestibulandos e concurseiros. No entanto, especialistas alertam que essas bebidas podem ser mais perigosas do que parecem quando consumidas de forma desregrada.

A nova tendência entre os jovens é o consumo de energéticos, especialmente entre os pré-vestibulandos que buscam estimulantes para aumentar sua produtividade nos estudos. Essa observação foi feita pelo biólogo e coordenador pedagógico do cursinho Refferencial, professor Edilson Soares da Silveira.

"Em nossa experiência com pré-vestibulandos, que estão se preparando para o Enem e outros vestibulares, notamos isso. A grande ansiedade decorrente da falta de tempo para estudar leva muitos deles a recorrerem a substâncias psicoativas, como energéticos, café e outras que contenham taurina e cafeína", explica Edilson.

No entanto, essa busca por um melhor desempenho pode ser contraproducente, já que substâncias como taurina e cafeína podem afetar a qualidade do sono, conforme destaca Edilson. "Eles tentam permanecer acordados por mais tempo em busca de maior rendimento nos estudos. No entanto, acabam privando-se do sono, o que gera outros problemas de natureza fisiológica".

Em relação ao conteúdo dessas bebidas, uma lata de 355 ml de uma marca popular de energético contém 1420 mg de taurina, 114 mg de cafeína e 20 g de açúcares, enquanto outra marca conhecida, em uma lata de 474 ml, apresenta 800 mg de taurina, 65 mg de cafeína e 23 g de açúcares.

Quanto ao café, um estudo da International Coffee Organization constatou que, em média, uma xícara contém cerca de 80 mg de cafeína. No entanto, não há um consenso estabelecido sobre o limite seguro para o consumo de cafeína por crianças e adolescentes, embora a Sociedade Brasileira de Pediatria enfatize que seu consumo não traz benefícios à saúde desses grupos.

A Academia Americana de Pediatria desencoraja o consumo de café e outras bebidas cafeinadas para crianças menores de 12 anos e recomenda que, para aqueles entre 12 e 18 anos, o consumo diário seja limitado a 100 mg de cafeína, equivalente a uma xícara de café. Para os adultos, as diretrizes da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estabelecem um limite máximo de 400 mg de cafeína por dia.

Aluna faz pausa para tomar café em cantina de cursinho da Capital (Foto: Paulo Francis)
Aluna faz pausa para tomar café em cantina de cursinho da Capital (Foto: Paulo Francis)

De ansiedade a arritmias - “Eu costumava consumir bastante energético, mas percebi que não estava mais tendo o efeito desejado com a quantidade que tomava. Cheguei a consumir quase um litro de energético por dia”, é o que conta o estudante Arthur Ibrahim Matsumoto, de 19 anos, que tem estudado para ser aprovado em um curso de Medicina.

Arthur explica que perto dos vestibulares, ele começou a aumentar as doses de cafeína. “Quando estava chegando perto do vestibular, comecei a consumir café energético. Só que  isso acabou causando aumento nos batimentos cardíacos e problemas de arritmia cardíaca, o que me fez parar imediatamente”.

Arthur explica que já teve problemas cardíacos por causa de consumo excessivo de energéticos (Foto: Paulo Francis)
Arthur explica que já teve problemas cardíacos por causa de consumo excessivo de energéticos (Foto: Paulo Francis)

Ao Campo Grande News, outros pré-vestibulandos citaram situações parecidas. A estudante Sarah Curi Coutinho, de 17 anos, explica que não teve uma relação positiva com os energéticos. “No começo eu tomei, mas não me dei bem. Percebi que estava aumentando muito os batimentos cardíacos”.

Entretanto, Sarah explica que o café se tornou o novo "queridinho", mas que ela o aprecia com moderação. “Virou um hábito. Tomo uma dose depois do almoço, porque dá um sono. Só que tomo de manhã, quando acordo, e depois do almoço. E tento ter uma boa hora de sono e noto que o café não interfere de noite, porque tomo mais cedo”.

Com um copo na mão, Sarah explica que prefere o tradicional café (Foto: Paulo Francis)
Com um copo na mão, Sarah explica que prefere o tradicional café (Foto: Paulo Francis)

Já o estudante Guilherme Silveira Pinto, de 20 anos, explica que já usou energéticos, mas preferiu trocar pelo café, por ser uma opção menos industrializada. Entretanto, ele nota que é preciso manter o equilíbrio no consumo. “Já cheguei a notar uma pequena abstinência, aí comecei a dar uma maneirada”.

Guilherme diz que trocou energéticos por café, por ser uma opção menos industrializada (Foto: Paulo Francis)
Guilherme diz que trocou energéticos por café, por ser uma opção menos industrializada (Foto: Paulo Francis)

De acordo com a psicóloga especializada em educação, Natália de Oliveira Silveira, o consumo exagerado de energéticos pode levar os adolescentes a desenvolverem uma série de problemas relacionados à saúde mental.

“A chance do adolescente desenvolver ansiedade, estresse, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, pensamentos suicidas, abuso de substâncias e drogas é grande. Além disso, também foi observado que problemas cardíacos também estão associados com ingestão exacerbada do energético”, comenta Natália.

Outro ponto ressaltado por Natália é que, embora o energético mantenha o cérebro em estado de alerta, a presença de cafeína e açúcar na bebida pode afetar a qualidade do sono e desencadear distúrbios como insônia e sonolência.

O jovem poderá ter o sono desregulado, o que irá afetar na sua disposição no outro dia, além do seu desempenho, autoestima, humor, aprendizagem, memória e entre outras questões. Além do mais, quando o indivíduo não dorme bem, o cérebro tende a ficar em estado de alerta e perigo, o que pode gerar ansiedade e uma percepção errônea de determinada situação”, explica a psicóloga.

Equílibrio é a chave - De acordo com o professor e biólogo Edilson, uma rotina equilibrada, que inclua horas adequadas de sono, planejamento de estudos e momentos de descanso e atividade física, é mais importante do que horas extenuantes de estudo.

Alunos que mantêm uma organização com horários de estudo, sono e exercícios físicos, e têm tudo planejado, têm mais facilidade para obter sucesso. Isso é um fato. Por outro lado, aqueles que são um pouco mais desregrados não estão necessariamente excluídos da possibilidade de passar, mas acabam privando-se do sono, o que pode impactar seus resultados”, comenta Edilson.

A psicóloga Natália também destaca a importância de uma boa noite de sono para os estudantes que estão se preparando para os vestibulares. "É fundamental ressaltar que uma boa qualidade de sono contribui para uma melhor capacidade de armazenamento de memória, maior disposição, facilidade de aprendizado, melhora do humor, aumento do apetite e da confiança", afirma.

Além disso, ela recomenda evitar dicas como: "Estude enquanto eles dormem". "Não recomendo essa prática, pois pode prejudicar o funcionamento cerebral da pessoa! Dê prioridade ao sono! Um sono adequado leva a boas decisões, um aprendizado eficaz e uma melhor qualidade de vida!", aconselha a psicóloga.

Coordenador pedagógico do curso Refferencial, professor Edilson, explica a necessidade de organizar uma rotina de estudos saudável (Foto: Paulo Francis)
Coordenador pedagógico do curso Refferencial, professor Edilson, explica a necessidade de organizar uma rotina de estudos saudável (Foto: Paulo Francis)

Para manter o equilíbrio, o coordenador pedagógico do curso Refferencial explica que organizar a rotina é um dos pontos essencial na vida dos estudantes. “É possível manter o equilíbrio entre os estudos e a qualidade de vida. Só é preciso ter planejamento e estabelecer uma rotina com horários definidos, para que o aluno possa acordar, tomar seu café, seguir sua rotina de estudos, fazer uma pausa para almoçar e reservar um momento à tarde para descansar. Também é essencial reservar um tempo para caminhar e realizar exercícios físicos”.

A psicóloga também ressaltou a importância da saúde mental dos estudantes, especialmente durante períodos de alta pressão, como o pré-vestibular. "A terapia promove o equilíbrio emocional, permitindo que as pessoas encontrem maneiras saudáveis de enfrentar a ansiedade e o estresse nesta fase, o que, consequentemente, reduzirá as chances desses sintomas afetarem seu desempenho", conclui Natália.

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