Santa Casa abre concurso, mas poucos médicos se inscrevem
O hospital abriu 200 vagas, mas recebeu apenas 105 inscrições
O maior hospital de Mato Grosso do Sul abriu concurso para contratar 200 médicos em 26 especialidades, mas o número de inscritos é menor que o de vagas.
Na segunda-feira (23) serão aplicadas as provas, a quantidade de médicos e a triagem pode fazerque o número de contratados diminua ainda mais, já que o candidato tem que acertar no mínimo 50% das 50 questões de múltipla escolha de conteúdo específico.
Segundo o diretor clínico da Santa Casa, Luiz Alberto Kanamura, mesmo com o concurso, os setores da pediatria, pronto socorro, pronto médico, plantão hospitalar e terapias intensivas ficarão com déficit de profissionais, porque não tiveram o número suficiente de inscritos. Na pediatria foram abertas 14 vagas, o número de inscrições não chegou à metade.
Das 200 vagas, apenas 23 são para médicos celetistas (CLT), ou seja, contratados pelo hospital, as outras são para prestadores de serviço. O salário de um CLT é de R$2.400, com a obrigatoriedade de cumprir um plantão de 12h por semana. Já os prestadores de serviço recebem por plantão. O hospital paga R$600 por cada plantão de 12h.
Hoje, a Santa Casa tem 600 médicos entre prestadores de serviço e CLT distribuídos em 31 especialidades. São 598 leitos e, até às 15h19 dessa sexta-feira (20), 594 pessoas estavam internadas.
Para Kanamura, o déficit de médicos no hospital não é o causador da superlotação. “São vários fatores. A falta de leitos, a quantidade de pacientes que vem do interior e muitos outros. É um problema da saúde pública”, relata.
Questionado sobre a demora na realização de algumas cirurgias, o diretor clínico do maior hospital do Estado disse que tem pacientes que precisam realizar cirurgias em até 24h, mas que devido à superlotação faltam leitos. “Isso não deveria acontecer, se está com sobrecarga e a Santa Casa não pode operar esses pacientes deveriam ser transferidos para outros hospitais”, afirma.
Para o diretor do Sindicato dos Médicos, João Batista, as condições de trabalho no hospital não estão atraindo os profissionais. “Alguns não querem trabalhar lá e, outros já estão em hospitais que pagam melhor”, diz.
Assim como diretor clínico do hospital, João também afirma que não é a falta de médicos que sobrecarrega o hospital. “A superlotação acontece basicamente por falta de leitos. No caso da Santa Casa, o centro cirúrgico fechado e a suspensão das cirurgias eletivas também colaboram para que isso aconteça”, afirma.
Angustia: A esposa de Carlos Matias, 42 anos, sofreu um acidente de motocicleta no último dia 13 na cidade de Chapadão do Sul, município que fica a 321 quilômetros da Capital. Ela fraturou o maxilar e no mesmo dia foi transferida para Campo Grande para realizar uma cirurgia, já que o hospital daquela cidade não tem estrutura para fazer esse tipo de procedimento.
Foi aí, que a angustia de Carlos começou. Desde o dia 13 ele tenta que a esposa, Luciene Rodrigues, 39 anos, faça a cirurgia que só foi marcada para o dia 24 deste mês. “Eu pergunto para os médicos se não tem como a encaixar, mas eles dizem que tem que esperar porque tem muita gente na frente”, relata.
Ele tem medo que a recuperação seja prejudicada pela demora. “Ela está com a boca toda torta. Antes ela nem comia”, diz.
A equipe do Campo Grande News encontrou o motorista em um orelhão na porta do Prontomed tentando ligar para o plano de saúde da empresa onde trabalha.
Desde que a “saga” por uma vaga no centro cirúrgico começou, Carlos tenta conseguir atendimento pelo plano HB, mas a Santa Casa não tem convênio com a empresa. “Já liguei no 0800, agora vou ligar nesse outro número aqui. A gente tem plano de saúde, mas estamos dependendo do SUS aqui”, afirma.
Carlos é motorista de uma usina em Chapadão do Céu, em Goiás e, desde o dia do acidente está em Campo Grande acompanhando a esposa. O médico deu um atestado de acompanhante por 15 dias, mas a empresa não aceitou. “A firma não aceitou o atestado. Vou perder 15 dias de trabalho, mas eu não posso deixá-la aqui sozinha”, afirma.
A única vez que Luciene precisou de atendimento médico na Capital, foi quando foi dar a luz ao filho mais velho. “Há 18 anos isso não era assim. Agora a gente vem para cá e fica 15, 30 dias dentro do hospital”, indigna-se Carlos.
O motorista passa o dia no hospital. Por volta das 23h ele vai para a pensão que está sendo paga pela prefeitura de Chapadão.
É durante as noites solitárias que o eito aperta mais. Com os olhos cheios d’água ele fala da esperança de conseguir que a esposa faça a cirurgia o mais rápido possível. “Agora só fica a esperança de conseguir que ela seja operada logo para irmos para casa”, diz.