Só praças "adotadas" por moradores não estão abandonadas e têm lazer
Abandonadas pelo poder público, as pequenas praças espalhadas pelos sete setores do Conjunto Aero Rancho, o bairro mais populoso de Campo Grande, são adotadas pelos moradores. A cidadania acaba garantindo a preservação dos espaços verdes e mantendo áreas de lazer para as comunidades. Só o trabalho voluntário para superar o descaso e a escuridão ao cair da noite.
Entre as praças, a mais famosa é a do "senhor Ari". Isso mesmo, a praça leva o nome do ex-comerciante, que cuida dela há 25 anos. “Criei meus filho aqui, construi esses bancos, plantei essas árvores, pago todo mês para trabalhadores fazerem a limpeza, aqui é uma extensão da minha casa”, responde o Ari Flores.
Ele desembolsa um valor alto para manter a praça. Além de ceder a energia da própria residência para iluminar esta que parece a mais verdadeira “praça” de todas visitadas. “Gasto todo mês R$ 250 reais para a limpeza e a energia da praça é por minha conta, vocês podem ver que toda a fiação sai da minha casa”, mostra Flores.
Sobre todos no bairro chamar a praça pelo seu nome, Ari é humilde na avaliação. “Acho que só chamam ela assim porque já tive um comércio em frente a ela”, avalia.
Diferente das demais praças, essa seu Ari garante que é bem frequentada aos fins de semana pela vizinhança pelos atrativos, como bancos, árvores, sombras e uma atenção digna.
Outra moradora, sem aguentar esperar pela assistência das autoridades, colocou a mão na massa. Neraci Ferreira, 53 anos é uma das primeiras moradoras do bairro, há mais de duas décadas. Ele mora em frente a praça da rua Audax Camargo César com travessa Ricky Nelson e, de uns meses para cá, plantou 27 mudas de diversas espécies.
“Plantei ipês, goiabeiras, jabuticabeiras, meu sonho é ver toda essa quadra com sombras. Se pensarmos em praça aqui na região as únicas dignas estão dentro do Parque Ayrton Senna”, comenta a moradora.
O outro lado - Moradores dizem que há anos onde deveriam existir traves, redes e bancos, para a pratica de esportes e lazer, existe apenas um espaço vazio sem nada. Um dos piores exemplos é a “praça” localizada na esquina das ruas Aziz Salamene com Audax Camargo César.
No local não existe um banco sequer (a não ser do ponto de ônibus), apenas terra e postes com luzes queimadas. “Moro aqui há oito anos, já fazem três anos que a praça não tem iluminação, as luzes ficavam ligadas o dia inteiro até que queimaram e não funcionaram mais”, comenta o borracheiro José Aparecido Matos, 53 anos.
De acordo com Matos, em razão da escuridão que toma conta do local quando anoitece, o espaço vira área de consumo de droga. “É só o dia acabar que o cheiro forte de droga cresce”, conta o borracheiro. José lembra que a melhor fase da praça foi quando havia um trailer de lanches e os proprietários cuidavam da estética do bairro.
Algumas quadras dali, na rua Pedro Corrêa da Silva, com a Ivete Vargas, um playground e um campo de areia estão instalados na praça. Mas depois de muitos anos, a areia do campo quase toda se foi e o parquinho está com brinquedos danificados. “Desde que mudei para cá, há três anos a praça está nesta situação, naquela época as pessoas frequentavam bastante ela, mas agora ninguém pisa nela e não querem deixar as crianças brincarem” revela o fiscal de lojas, Marcelo Soares, referindo-se aos inúmeros riscos de doenças na areia frequentada por animais.
O morador ainda conta que a vizinhança colabora para a depredação da praça. “Jogam lixo, além de termos que esperar o enorme tempo para a prefeitura vir limpar ainda jogam lixo”, ressalta Soares.
O Campo Grande News entrou em contato com o secretário de Infraestrutura, Transporte e Habitação, Semy Ferraz, para saber de algum projeto de revitalização para o bairro.
Semy diz atravessar um momento de criação e avaliação de projetos para os bairros. E prometeu avaliar as situações das praças do Aero Rancho. “Iremos analisar os casos onde possamos instalar campos de esportes, academias ao ar livre e playground às crianças”, respondeu Ferraz.