Veto a vendas provoca impasse com vizinhos ao Carnaval de rua da Capital
A notícia chegou aos moradores nesta quarta-feira, durante fiscalização de equipes da Semadur
Uma proibição inusitada está provocando a revolta na Vila dos Ferroviários, em Campo Grande. Após anos aproveitando o Carnaval de rua para tirar uma renda extra, os moradores da região receberam a notícia que a venda de qualquer tipo de alimento, bebida, e até o aluguel de banheiro das casas, foi vetado.
A proibição só chegou aos moradores nesta quarta-feira (7), faltando dois dias para o início das festas, quando equipes da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) foram ao local para uma fiscalização.
Desde que o carnaval de rua se tornou tradição na região, os moradores resolveram aproveitar o grande movimento de pessoas para reforçar a fonte de renda da família. Nas ruas General Melo e Doutor Ferreira, que todos os anos recebem a estrutura principal do Cordão Valu, é raro quem não optou pelo comércio nessa época do ano.
Foi exatamente por isso, segundo os moradores, que a notícia foi recebida com quanta indignação. “Trabalho aqui a mais de 10 anos, isso nunca aconteceu”, contou Zé Dias, de 62 anos. A venda de cervejas e refrigerantes no local começou junto com o Cordão Valu, hoje um dos maiores blocos da cidade.
Mas nessa manhã Zé Dias foi informado que não poderia vender as bebidas. Aos moradores, os fiscais da Semadur afirmaram que qualquer tipo de comércio foi proibido e que os flagrados pelos fiscais, mesmo dentro de casa, seriam multados. “Falaram que mesmo se tivesse dentro de casa ia pegar. Que vai ter Guarda Municipal e Polícia Militar para isso”, contou.
A atriz e diretora Beth Terras, de 58 anos, decidiu investir na venda de caldos há três anos e já se preparava para sexta-feira (9) quando recebeu a notícia da proibição. “A gente aguenta tanta coisa, aguenta a sujeira, criança pequena que não dorme, mas sempre apoiamos, aproveitamos para ganhar um dinheirinho. Isso é injusto”, reforçou.
Conforme Beth, até o aluguel dos banheiros foram proibidos pela Semadur. “Vamos sofrer ainda mais”. Não muito longe da casa da atriz, a cabeleireira Diva Ramona Ferreira, lamenta a compra já perdida. Foram R$ 500 investido em água, refrigerante e cervejas. “Comprei ontem. O que vou fazer com essas bebidas agora?”.
Moradora da região há 11 anos, Diva resolveu usar o espaço do salão - localizada na Rua General Melo - como comércio durante o carnaval há 4 anos. Com a filha grávida de 5 meses desempregada, a cabeleireira é a responsável por manter a casa e mais uma vez, viu na festa uma chance de ganhar um dinheiro extra.
“Falei para minha filha que ia vender porque ia conseguir um dinheirinho extra, e agora isso”. Preocupada com a notícia, Diva ligou na Semadur para confirmar a proibição. “Falaram que se vender eles vão tomar tudo e que deveríamos ter pedido alvará 3 a 4 meses antes, mas nunca falaram nada”.
Para os moradores, a explicação para a proibição é de que o Cordão Valu será patrocinado pela Rotele e por isso só a empresa poderia vender no local. “Se eles tivessem falado antes podíamos comprar direto deles, não tinha problema”, reforçou Zé Dias.“Antes era só diversão, parece que quando começa a crescer só pensam em faturar”, lamentou.
Diante da proibição, os moradores falaram até em bloquear a rua para evitar os foliões a terem acesso as duas ruas. “Se não querem que a gente venda, que não façam carnaval aqui então”, alegou Beth.
Prefeitura - Por meio de nota a Semadur informou que nos locais onde ocorrerão os desfiles das escolas de samba, cordões e blocos, os interessados em realizar vendas de bebidas e/ou comidas no perímetro delimitado para a realização do Carnaval deverão estar devidamente licenciados.
Apenas poderão vender os que possuírem o Alvará de localização e funcionamento para aquele determinado local. "A medida evitará que ocorreram problemas na comercialização em locais não apropriados. Desta forma, agindo preventivamente, evitaremos a venda de bebidas alcoólicas à menores de idade".