Evangélica demitida por usar saia pretende denunciar caso à Justiça
Vítima de preconceito religioso, a jovem evangélica de 20 anos que teve emprego recusado por usar saia comprida quer ir além da denúncia feita na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul e agendou audiência no Ministério do Trabalho na próxima segunda-feira (9) para tratar sobre o caso. Ela, que pediu para ter a identidade preservada e preferiu não revelar o nome das empresas, conta que em pelo menos sete lojas e mercados de Campo Grande ficou claro que a vestimenta era o motivo de não ter sido contratada.
A peregrinação em busca de trabalho foi no final do ano passado. “As pessoas pegavam meu currículo e me olhavam de cima a baixo e perguntavam: você pode usar calça? Eu respondia que não por conta da minha religião. Então diziam que eu não poderia trabalhar porque não era o padrão”, relata.
Em um dos casos ela chegou a ir para o serviço e foi demitida ao fim do dia. “No final do expediente a gerente me chamou e falou ‘olha, eu não vou poder ficar com você porque achei que você fosse chegar aqui e colocar calça’”, conta.
“No dia seguinte, quando fui buscar meu acerto, citei para a mesma gerente a constituição, onde nela está garantido meu direito no artigo 5º inciso sexto e oitavo, e ela me respondeu da seguinte forma: ‘eu sou formada em direito e administração e conheço muito bem a constituição, só que eu não posso fazer nada’ e ainda falou que eu estava faltando com respeito”.
Essa conversa, segundo a vítima, foi ouvida pelos colegas e clientes que estavam no local. “Foi constrangedor. Todos ficaram olhando”, conta.
Constrangimento - A estudante não é a única a ser vítima do preconceito religioso e a roupa tampouco é o único motivo para a discriminação motivada pela crença da pessoa. A secretária Lady Rodrigues, 32 anos, é adventista e guarda o sábado. Ela já teve trabalhos recusados muitas vezes porque os patrões não aceitavam em dispensá-la do ofício nesse dia do fim de semana.
“Era uma loja no comércio, foi mais ou menos em 2008. Tentei arrumar alguns empregos e infelizmente não conseguia não por falta de experiência, mas pela questão do sábado. O dono explicou que precisaria de alguém que estivesse no sábado e que por esse motivo ele não poderia me contratar. Você se sente constrangido e desvalorizado e acaba ficando desanimado, porque você pensa que não vai conseguir se colocar no mercado de trabalho”, diz.
Os problemas vão além. Quando conseguiu arrumar trabalho, houve rejeição por parte dos colegas que não entendem que a guarda do sábado é em função religiosa. “Eles ficam chateados porque trabalham em um horário x e eu não. Acaba pesando. Nós tentamos explicar que a gente não fica em casa descansando, a gente procura estar em comunhão com Deus, que é na igreja, fazendo atividades sociais. A gente usa o sábado para ajudar o próximo”, conta.
Vantagem - Para a vendedora Luciene Feitosa, 28 anos, a restrição quanto ao sábado a ajudou a conseguir trabalho. Ela trabalha em um dos shoppings da Capital e como o local funciona todos os dias, a folga semanal dela é fixa no sétimo dia da semana.
"O dono da loja me surpreendeu. Ele disse que precisava de gente que trabalhasse aos domingos, dia em que ninguém quer trabalhar”, conta. "O contratante nunca teve nenhum tipo de preconceito. Ele está aberto a negociação, a ver em que pode ajudar nessas possibilidades dele. Todo mundo já sabe que sexta eu entro mais cedo e saio mais cedo. Como todos têm direito a uma folga por semana, a minha rigorosamente é sábado. Não tem como mudar".
Ela chegou, inclusive, a virar exemplo entre as colegas. "Teve uma vez que uma menina questionou. Disse que era evangélica e queria sair mais cedo. Usou a minha questão para beneficiar ela também. No caso, nessas cinrcunstâncias, todo caso é negociável", relata.
Emblemático – O bispo Antonio Toneti, presidente do Conselho de Pastores de Campo Grande, entidade vinculada à AEB (Aliança Evangélica Brasileira), disse ao Campo Grande News que ficou surpreso com o caso da estudante.
“Nós não temos visto esse tipo de preconceito ser uma coisa constante. EU me choquei um pouco porque hoje é raro termos esse tipo de problema. Foi a primeira vez que eu vi nos últimos anos”, relata.
Segundo ele, casos de adventistas passarem por situações constrangedoras no mercado de trabalho são mais comuns do que rejeição por conta da roupa, situação que ele, em nome da entidade, repudia totalmente. “É um preconceito absoluto, não pode acontecer. A nossa posição é extremamente contaria a isso. Uniforme pode ser calça e pode ser vestido, na mesma proporção”