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Interior

Ao defender cliente, advogado é detido e algemado por policiais militares

OAB divulgou nota de repúdio contra dois policiais acusados de abuso de autoridade em ocorrência de trânsito, ontem em Dourados

Helio de Freitas, de Dourados | 18/08/2015 10:59

Ao tentar tirar foto do cliente que estava algemado no banco de trás da viatura, o advogado Jeferson Antonio Baqueti foi detido e também algemado por policiais militares. O fato ocorreu ontem à tarde em Dourados, cidade a 233 km de Campo Grande.

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) acusa os PMs de abuso de autoridade. Em “nota de repúdio”, a entidade afirma que houve violação das prerrogativas do advogado.

De acordo com a diretoria da 4ª Subseção da OAB em Dourados, os fatos ocorreram por volta de 15h de ontem, na esquina das avenidas Presidente Vargas e Ponta Porã.

Acionado pelo cliente que tinha sido detido por direção perigosa, Jeferson Baqueti foi para o local e ao chegar constatou que o homem, cujo nome não foi divulgado, estava no banco de trás da viatura, algemado.

Ignorou STF – Nesse momento o advogado teria perguntado ao sargento Inácio e ao soldado Geneilson se o cliente permaneceria algemado, já que, por não oferecer qualquer resistência, poderia ficar sem as algemas, como determina a Súmula Vinculante 11 do STF (Supremo Tribunal Federal) – que restringe o uso de algemas apenas a casos de resistência, receio de fuga ou para garantir a integridade física própria ou alheia.

“Sem obter qualquer resposta satisfatória do sargento Inácio, sendo que este somente disse que o advogado deveria realizar seu trabalho no 1º Distrito de Polícia Civil, o advogado Jeferson Antonio Baqueti, ao utilizar de seu aparelho celular para registrar o fato de seu cliente estar algemado, teve a investida dos policiais contra si para retirar o aparelho celular, sendo que neste momento foi também ilegalmente detido e algemado”, afirma a nota da OAB.

Para a entidade, os dois policiais militares tiveram “atitude ilegal, abusiva e covarde” e violaram as prerrogativas do advogado.

Ao tomar conhecimento do caso, o presidente da 4ª Subseção, Felipe Cazuo Azuma, foi à 1ª Delegacia de Polícia Civil, junto com o membro da Comissão de Prerrogativas, Fernando Duque Estrada. Em seguida chegou a viatura da PM, trazendo detidos o advogado e seu cliente, ambos algemados, segundo a OAB.

Boletim contra PMs – “Diante da situação o presidente da 4ª Subseção solicitou a retirada das algemas no que foi atendido. Após a lavratura do Boletim de Ocorrência pelos policiais militares, foi lavrado, a pedido do presidente da Subseção, um BO (Ocorrência nº 2920/2015) contra os policiais em razão do crime de abuso de autoridade”, afirma a nota.

Para o presidente local da OAB, o advogado Jeferson Antonio Baqueti foi vítima “de um labéu imerecido”. Ele afirma que a entidade continuará atuando em favor das prerrogativas dos advogados e “zelando pela defesa da Constituição, da ordem jurídica do Estado democrático de direito, dos direitos humanos e pela justiça social”.

A OAB promete “tomar todas as medidas cabíveis para que os culpados por essa flagrante violação sejam responsabilizados tanto na justiça comum como na justiça castrense”.

Comando vai apurar – O comando da Polícia Militar em Dourados informou que vai instaurar procedimento para apurar a conta do sargento e do soldado acusados de abuso de autoridade pela OAB.

Ao Campo Grande News, o tenente-coronel Carlos Silva, comandante do 3º Batalhão da PM, disse que até agora não recebeu a denúncia formal da OAB e nem mesmo um comunicado do Comando-Geral.

O oficial reclamou da forma como o caso foi tratado pela Subseção da OAB e disse que seus policiais já foram julgados e condenados, sem direito à defesa.

“Respeitamos o trabalho da OAB porque sempre consideramos a entidade uma bandeira de luta em defesa dos direitos de todos os cidadãos. Só temos a lamentar essa postura de ter julgado e condenado nossos policiais que tanto labutam na defesa dos cidadãos douradenses”, declarou Carlos Silva.

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