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Interior

Funai diz que acampamento inteiro foi queimado e índios expulsos de área

Índios denunciam que funcionários de fazendas e jagunços paraguaios atacaram acampamentos e queimaram barracos em duas fazendas ocupadas, no município de Coronel Sapucaia

Helio de Freitas, de Dourados | 03/02/2016 10:09
Índios que lutam pela demarcação do território de Kurussu Ambá (Foto: Cimi/Divulgação)
Índios que lutam pela demarcação do território de Kurussu Ambá (Foto: Cimi/Divulgação)

Todos os barracos de um acampamento de índios guarani-kaiowá teriam sido queimados durante o ataque ocorrido domingo (31) em Coronel Sapucaia, a 400 km de Campo Grande. A informação, atribuída ao coordenador regional da Funai em Ponta Porã, Elder Paulo Ribas da Silva, foi divulgada no site do Cimi (Conselho Indigenista Missionário).

Na segunda-feira (1º), Elder Ribas disse ao Campo Grande News que aguardava escolta da polícia ou do Exército para ir ao local do ataque, o que acabou acontecendo apenas ontem. Nesta quarta ele não atendeu às ligações feitas para seu telefone celular.

De acordo com o Cimi, servidores da Funai estão desde a manhã de ontem no local onde os índios lutam pela demarcação do território de Kurussu Ambá, formado por quatro fazendas. Três estão ocupadas. Com o ataque, o acampamento montado na fazenda Bom Retiro foi destruído, mas os índios continuam no local, embaixo de árvores.

“Todas as casas que estavam na fazenda Bom Retiro foram queimadas”, relatou Elder Ribas à assessoria de imprensa do Cimi. Ainda de acordo com a assessoria do órgão ligado à igreja católica, não há previsão de chegada da polícia ao local. Na segunda, o coordenador disse que procurou a Polícia Federal e pediu escolta para ir aos acampamentos, mas a PF teria alegado falta de efetivo para a missão.

“Um grupo de indígenas ouviu os pistoleiros dizerem que iriam aguardar a Funai sair do local pra atacar a [fazenda] Barra Bonita também”, informou ao Cimi o servidor da Funai Jorge Pereira. “Por isso nós permanecemos na área de conflito, aguardando que a PF ou a Força Nacional venham pra área”.

O ataque foi feito após a tentativa de ocupação da fazenda Madama, uma das propriedades que fazem parte do território reivindicado pelos índios. Em três caminhonetes e armados, os capangas repeliram a ocupação a tiros e depois teriam saído no encalço dos índios, queimando os barracos que encontraram pela frente.

“É inadmissível o descaso das forças de segurança, que até o momento sequer estiveram no local para garantir a mínima integridade dos indígenas e impedir que novos ataques ocorram”, afirma o Cimi, em nota. “Enquanto novos crimes e atentados premeditados podem estar prestes a ocorrer, as forças policiais, o Ministério da Justiça e o governo de Mato Grosso do Sul assistem a tudo calados, garantindo assim aos jagunços porteira aberta para a possibilidade de novos assassinatos”.

Terra não foi demarcada – Há quase uma década os índios lutam pela demarcação de Kurussu Ambá. A área ainda está em processo de identificação e delimitação. O relatório deveria ter sido publicado pela Funai em 2010, conforme estabeleceu um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) do Ministério Público Federal, em 2008.

No entanto, o relatório só foi entregue pelo grupo técnico em dezembro de 2012 e ainda aguarda aprovação da Funai de Brasília.

Em março de 2015 o STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a reintegração de posse contra Kurussu Ambá, garantindo a permanência das famílias em parte da área.

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