Um juiz de vida espartana. Sergio Moro, o juiz que abalou a República
Sergio Moro, o juiz que abalou a República.
Há um fato nos trabalhos desenvolvidos pelo juiz Sergio Moro que é irretorquível: foram pedidos 205 habeas corpus, apenas 2 foram concedidos. Enorme vitória. Explica-se: as centenas de advogados que defendem os políticos e empresários acusados por Moro tentaram no STF e no STJ, as instâncias superiores da justiça brasileira, a liberação da cadeia daqueles presidiários. Moro soube convencer as cortes superiores e venceu em 203 vezes. Um placar para dar inveja a alemães: 203 a 2.
Ele é frequentemente comparado com o ex-ministro Joaquim Barbosa. Mas o juiz não guarda nenhuma semelhança com o ex-ministro. Moro não dá entrevistas, mas se pronuncia o tempo inteiro em despachos. E essa é uma qualidade que os maiorais da justiça brasileira respeitam. O juiz não faz proselitismo político, toma decisões jurídicas.
Moro tem apenas 48 anos e uma curta e densa carreira. Filho de um professor de geografia da Universidade Estadual de Maringá, formou-se em Direito pela mesma universidade. Em pouco tempo virou juiz, estudou em Harvard (EUA) e participou de estudos sobre lavagem de dinheiro promovidos pelo governo norte americano. Atualmente acumula as funções de juiz do caso Lava Jato e as aulas no curso de Direito da Universidade Federal do Paraná. Em uma recente palestra a alunos dessa faculdade ele definiu o perfil da carreira de juiz: "O juiz carrega seus valores e sua experiência de vida. Forma sua convicção ao longo do processo, mas precisa ter a mente aberta para mudar de opinião. Deve ser eternamente vigilante com a conduta pessoal. Precisa estar acima dos interesses das partes, mas não deve confundir passividade com inatividade. A lei permite que tome iniciativas em providência de ofício".
Entrevista ele não concede. E esta foi, talvez, a maneira de Moro responder aos ataques que sofreu. O primeiro ataque era o de que agia como procurador e não como juiz. Em seguida, como nada encontraram em sua vida pessoal, foram pesquisar a vida de sua esposa, Rosângela Quadros Moro. E de seu irmão - César Fernando Moro. A esposa é assessora jurídica do Vice Governador do Paraná, Flávio Arns, membro do PSDB (anteriormente senador do PT). O irmão do juiz é administrador de uma empresa de tecnologia e declarado opositor petista.
Mas é difícil levar em consideração argumentos de ordem partidária contra um juiz de vida espartana. Ele dirige, sozinho, um Hyundai i30. Não tem nenhuma guarda particular e vive em uma residência típica de classe média, sem nenhuma ostentação. E mostra seus valores nos despachos. Na prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari, o juiz escreveu: "Não se trata aqui de prisão contra a agremiação partidária à qual ele [Vaccari] pertence. A corrupção não tem cores partidárias. Não é monopólio de agremiações políticas ou de governos específicos". O juiz que abalou a República fala baixo quase sem mostrar os dentes e é um obcecado pela privacidade. Um superstar que foge dos holofotes fáceis do sucesso. Ele acha que é simplesmente um juiz brasileiro.
Recuperação econômica: enfim, tivemos uma boa semana.
Bolsa de valores subindo, emprego em alta, dólar caindo e até as ações da Petrobras voltaram a subir. E teve mais: os mercados globais começaram a sinalizar uma mudança de humor em relação ao Brasil. A semana após o feriado de Tiradentes foi boa para o Brasil. Após dois meses de demissões e férias motivadas por estoque excessivo em algumas fábricas, tivemos um saldo positivo de mais de 19.000 postos de trabalho. O país começa a respirar novos ares. Será? Há muitos estudiosos que falam em "ponto fora da curva" nessa semana de bonança.
Mas há um fato que é inegável. O país deixou de viver o clima de "queda livre" que se instalou desde o fim do ano passado. Sem dúvida os sinais de hoje são mais positivos que os existentes no fim de 2014. Começa a existir alguma credibilidade macroeconômica. Mas ninguém, nem mesmo o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, garante que essa é uma tendência que veio para ficar.
A maior parte de economistas e jornalistas que trabalham com economia suspeita dessa boa semana devido a inflação. Ela está segurando o crédito, os gastos e, portanto, o consumo em geral. E as possibilidades de um crescimento duradouro. Tudo indica que houve uma "trégua", mas não o fim definitivo das más notícias na área econômica. Mas as medidas apresentadas pelo governo federal tiraram a sensação de um pessimismo exagerado. No entanto, há ainda um caminho a ser percorrido. Os ajustes precisam realmente ser feitos e com eles é muito provável que continuemos a desacelerar.
Brasilianistas dizem que Dilma é fraca, mas democracia é forte.
Uma avaliação pouco usual. Até surpreendente. Os brasilianistas, cientistas políticos estrangeiros, apresentam-nos uma percepção de solidez de nossas instituições bem como da democracia. Apesar dos altos índices de reprovação da presidenta, das manifestações nas ruas e da relação conflituosa entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, os estudiosos estrangeiros consideram improvável o impeachment e não veem qualquer perigo para a democracia. Eles acreditam que a população brasileira deseja um processo político mais transparente, louvam as gestões de FHC e de Lula e ainda afirmam que "o debate no Brasil se dá em um nível muito superior ao visto em países como Venezuela e Argentina".
Os estudiosos ressaltam que os casos de corrupção só vieram à tona porque o Ministério Público, os juízes e a Polícia Federal são independentes e a imprensa tem liberdade para atuar. Em um aspecto aparentemente contraditório, um dos principais combustíveis da crise política - a revelação dos casos de corrupção - está relacionado à robustez das instituições.
"Filho, me promete que vai atirar".
8 de maio de 1945. Um dia que jamais será esquecido pelos alemães de uma pequena cidade no noroeste denominada Demmin. Em seu museu há um documento que faz tremer quem o manuseia. Vinte e oito páginas repletas de nomes, da data e do motivo das mortes. Todos morreram em 8 de maio de 1945. E todos por uma mesma causa: suicídio. Quando a vitória final tantas vezes anunciada por Adolf Hitler parecia impossível e o Exército Vermelho se aproximava, entre 700 e 1.000 cidadãos de Dimmin (que à época tinha 15.000 habitantes) preferiram morrer a ter que viver em um mundo que não fosse governado por nazistas. Foi o maior suicídio em massa da história da Alemanha.
Uma onda de suicídios varreu a Alemanha entre janeiro e maio de 1945. Não existem números exatos, mas os historiadores calculam que entre 10.000 e 100.000 pessoas tenham tomado essa decisão. Ao tirar a própria vida era comum que os adultos levassem também seus filhos. Esse é o tema do best-seller europeu "Filho, me promete que vai atirar", escrito pelo historiador alemão Florian Huber. Ele conta que apesar de ter estudado história nunca havia ouvido falar desse assunto. Um dia leu uma nota de rodapé que mencionava a onda de suicídios nos últimos meses da guerra e resolveu investigar apenas pessoas comuns que não estavam diretamente envolvidas com a guerra. Sua descoberta foi estarrecedora. Mas, o que levou esses homens e mulheres a dar um tiro em si mesmos, a se enforcar e a pular nos rios sem saber nadar? Medo da represália dos vencedores? Fanatismo nazista? Sentimento de culpa pelos 12 anos de loucuras nazistas e seis anos de guerra? Uma mescla de todos esses fatores conclui Florian Huber. Também teve influência um efeito psicológico que transforma o suicídio em algo contagioso, quase como uma infecção.
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