Moderno desde os anos 70, casarão todo de concreto é história em avenida
Quando os olhos correm pela Avenida Afonso Pena com a 13 de Junho encontram concreto por todos os lados. O número 3.020 da principal via da cidade é a única obra, em Campo Grande, de um dos maiores arquitetos do País, João Batista Vilanova Artigas. Erguido em 1974, o imóvel que foi residencial até meados de 2007, hoje sede da Agepan (Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos) foi construído ao acaso, depois de um "chá de cadeira".
Segundo o professor e arquiteto, Ângelo Arruda, o proprietário do terreno, Antônio Barbosa de Souza, havia viajado para o Rio de Janeiro para fazer a casa com um arquiteto de lá. Depois de tomar um "chá de cadeira", ele deixou a capital carioca sem ser atendido e no aeroporto de São Paulo encontrou um amigo que fez a ponte com Vilanova Artigas.
No escritório do arquiteto, o dono teria dito o que esperava da casa e depois retornou para conhecer o projeto. "Inaugurada" em 1974, o terreno de 2 mil m² em "L", que pega tanto a Afonso Pena quanto a 13 de Junho deu à planta a possibilidade de se ter duas entradas para a casa. A social pela avenida, enquanto na lateral, os portões davam para a garagem e a área social. De área construída, são 1,2 mil m².
Os espaços internos foram organizados em dois pisos interligados por rampas. Para cada um deles havia uma estrutura própria de arcos de concreto armado. Na planta original, no térreo ficavam as salas e os jardins, enquanto no andar de cima, os quartos.
A principal característica da arquitetura é evidente aos olhos: concreto em todos os revestimentos, até nas paredes de dentro, que contrastam com as esquadrias de alumínio, símbolo do que era a arquitetura moderna brasileira na década de 70.
Em 2015 completou o centenário de Vilanova Artigas. Referência na arquitetura brasileira, embora tenha nascido em Curitiba, foi em São Paulo que consolidou seu nome em grandes obras, como a FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), além do estádio Morumbi.
Visitado frequentemente por acadêmicos de Arquitetura, o único projeto de Artigas por aqui passou por reformas para receber a sede da agência que regula e fiscaliza os serviços no Estado. "Eram dois grandes salões, como era residência, fomos adaptando com divisórias e paredes de gesso acartonado", explica o engenheiro civil e Diretor de Regulação da Agepan, Valter Almeida da Silva.
A estrutura toda de concreto permanece intacta, afirma o funcionário público. Boa parte do piso, mármore português, também. No contrato feito com a imobiliária, até para fotografias é preciso ter autorização. Outra alteração feita foi em relação ao telhado, antes de forro e hoje de laje.
Segundo Valter, o imóvel ficou um tempo fechado entre a mudança da família que é dona até hoje e a vinda da Agepan. Na área de serviço, o concreto se mistura ao verde do jardim e funciona agora como apoio aos funcionários. Na antiga garagem, foram feitas mais salas e o que era área de lazer, virou estacionamento. O pergolado ainda é o original e na área externa, os portões da 13 de Junho foram retirados e a abertura ganhou um concreto para seguir a arquitetura do imóvel.
Quem usufrui da obra hoje observa o quão "simplificados" ficaram os projetos nas décadas seguintes. "Pelo custo do concreto e também pela mão de obra, hoje as obras são mais simples. É para a gente uma oportunidade de se conviver, pela estrutura, com a história", reflete Valter.