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Arquitetura

Postais de colecionador mostram como Campo Grande dos anos 50 era linda

Paula Maciulevicius | 21/06/2016 06:15
Igreja da Matriz de Santo Antônio, antes da demolição.
Igreja da Matriz de Santo Antônio, antes da demolição.

As fotos são colorizadas por computador, mas remontam ao passado quase preto e branco da cidade. Campo Grande era linda na década de 1950 e alguns postais são a prova disso. A Igreja Matriz de Santo Antônio, antes da demolição, O Relógio da 14, quando ele realmente ficava na 14, o Edifício Nacao - que por anos sustentou o status de ser o mais alto da cidade - e o Hotel Americano na cor de pó de mica vermelho. As relíquias pertencem ao arquiteto e pesquisador da USP, Hugo Segawa, e escaneadas foram enviadas como "presente" ao nosso arquiteto Ângelo Arruda. 

Nas redes sociais, os compartilhamentos das imagens revelam a nostálgica que os postais trouxeram. Até quem não viveu aquela época sente saudade do que era a arquitetura e como aproveitaram dela seus moradores quando Campo Grande pertencia ao Estado de Mato Grosso. 

"Dono" da Campo Grande no papel, Hugo Segawa é arquiteto, professor da USP (Universidade de São Paulo), pesquisador e colecionador. Dos 60 anos de vida, pelo menos 40 deles são dedicados à arquitetura. Os quatro postais de Campo Grande fazem parte de um acervo de mais de mil que retratam paisagens urbanas ou prédios do Brasil afora, comprados ao longo dos últimos anos em leilões.

O professor que já veio a Campo Grande inúmeras vezes explica que o seu interesse pelos cartões vem do que eles testemunharam. "São testemunhos não só de imagens que não existem mais, como a maneira como os fotógrafos e pessoas em geral olhavam as partes que consideravam importantes da cidade".

Os retratos são de verdadeiros pontos da Capital que trazem a marca da identidade urbana campo-grandense.

A Igreja da Matriz de Santo Antônio, antes de vir abaixo, era linda. No postal, está o terceiro projeto dela, de 1933, do arquiteto alemão Frederico João Urlass. São duas torres na fachada frontal com aberturas em arco de ogiva gótica. A igreja ocupa até hoje parte do quarteirão entre as ruas Calógeras, 7 de Setembro e 15 de Novembro. Por conta de rachaduras, foi demolida nos anos 70. 

O Relógio da 14 e o Edifício Olinda, o primeiro prédio alto construído em Campo Grande, em 1947.
O Relógio da 14 e o Edifício Olinda, o primeiro prédio alto construído em Campo Grande, em 1947.

Relógio da 14

Pesquisa do próprio professor e arquiteto Ângelo Arruda afirma que o Relógio provavelmente também é obra do arquiteto Frederico Urlass, que à época da construção, em 1933, era o responsável técnica da empresa que conduziu a obra, Thomé & Irmãos.

O Relógio que virou monumento na cidade e palco de comícios e reuniões foi um pedido do coronel Newton Cavalcanti, comandante militar da época e foi inaugurado em agosto do mesmo ano. Na altura de 5m, sua base é projetada em estilo Art Déco revestido em pó de mica e a primeira construção o colocou bem no cruzamento das principais vias da cidade: Afonso Pena e 14 de Julho. Na década de 70, a mando do então prefeito Antônio Mendes Canale, o Relógio foi demolido.

Edifício Nacao e a 14 de Julho com a casa Sater, à esquerda.
Edifício Nacao e a 14 de Julho com a casa Sater, à esquerda.

Edifício Nacao 

Característico na 14 de Julho, foi durante anos o prédio mais alto de Campo Grande, construído em 1948, a pedido do empresário Joel Naim Dibo. O nome inicial era "Futurista", depois Santa Eliza, para então ser chamado de "Nacao", quando vendido à comerciante japonesa Nacao Gonsiro. Hoje o edifício tem o nome oficial João Rezek.

O Hotel Americano e o ônibus da época.
O Hotel Americano e o ônibus da época.

Hotel Americano

Construído para abrigar escritórios e lojas, o Hotel Americano foi o primeiro edifício de três andares de Campo Grande e logo que finalizada a obra, já foi inaugurado como hotel. Das mãos do arquiteto Urlass e do construtor português Manoel Rosa, o prédio sempre teve por nome "Edifício José Abrão", em homenagem ao seu proprietário. O pó de mica vermelho, cor que até hoje estampa a construção veio da região de Porto Murtinho.

O imóvel foi construído na área total do terreno, com duas moradias e três lojas no térreo e nos dois andares superiores, 35 quartos com lavatórios preparados para receber hóspedes. A localização, na esquina das ruas Cândido Mariano e 14 de Julho, permitiu a implantação de pequeninas sacadas. Os frisos geométricos verticais nas molduras das janelas, portas e as letras usadas no nome evidencial o estilo Art Déco.

Para o arquiteto Hugo Segawa, o que as imagens trazem podem até não ser o retrato fiel de parte da cidade, mas mostra quão representativo ficaram estes lugares, no imaginário da cidade.

Essa reportagem contou com o livro "Campo Grande Arquitetura e Urbanismo na década de 30", de Ângelo Arruda, como apoio de conteúdo.

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