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Artes

Campo Grande merece um grupo de teatro como o Circo do Mato

Ângela Kempfer | 02/04/2012 08:00
Aline Duenha se prepara para "Os Corcundas". (Foto - Marlon Ganassim).
Aline Duenha se prepara para "Os Corcundas". (Foto - Marlon Ganassim).
Mauro e o corcunda puro e feio.
Mauro e o corcunda puro e feio.

Você já deve ter visto alguns deles por aí, de pernas de pau, no meio da rua ou em eventos pela cidade. De propaganda à festa de 15 anos, o Circo do Mato aparece para ganhar dinheiro e viabilizar projetos que transformaram o grupo em um dos mais profissionais de Campo Grande.

A prova da organização começa pela qualidade do material que divulga as peças da trupe, criada para unir teatro e circo. As fotos são perfeitas, o layout da publicidade tem um cuidado difícil de se ver por aqui.

O figurino bem circense não aparece à toa nas montagens, é parte estudada, mais um conteúdo em cena. Para chegar ao palco, o estudo começa a partir do nada, apenas da decisão de procurar um novo tema a ser apresentado ao público, no teatro ou nas ruas.

Uma da regras é “não reclamar” da vida de artista. “Primeiro tivemos de aprender que não dá para ficar com esse discurso de que não dá dinheiro. Temos de parar com essas histórias e trabalhar”, ensina o ator Mauro Guimarães.

Agora, por exemplo, eles pensam em um novo espetáculo e para um bom resultado, fazem estudos, três vezes por semana. “A gente se reúne para estudar, das 7h30 às 11h30, para discutir teatro, sem nada pré-estabelecido. Deixamos qualquer outro assunto de lado nesses dias, não falamos de burocracia, por exemplo”, diz a atriz Aline Duenha.

A loirinha do grupo já morou no Rio de Janeiro para faculdade de Artes Cênicas e por lá encontrou Mauro, na Escola Nacional de Circo. Os dois retornaram a Mato Grosso do Sul e ao lado de Yago Garcia e Laila Pulchério, formam há 8 anos o Circo do Mato.

Aline, Mauro e Yago interpretam, fazem direção coletiva e também auxiliam na elaboração de projetos para fundos de incentivo à cultura. Laila administra e ajuda na parte técnica da cena.

As aulas de circo no galpão do bairro Sargento Amaral.
As aulas de circo no galpão do bairro Sargento Amaral.

No camarim do teatro Aracy Ballabanian, durante a Mostra Boca de Cena, sábado, na preparação para Os Corcundas entrarem em cena, Aline e Mauro se transformam em bufões que diante do público vão sofrer, fazer rir e se apaixonar. São dois feios e um amor puro.

A dedicação aos personagens no palco comove, a técnica e a arte já não preocupam. O que ainda perturba é a platéia. “Percebemos que são sempre as mesmas pessoas. A gente faz um trabalho de formação de platéia, mas sinto que não esta surtindo efeito”, comenta Aline.

“Vamos discutir isso porque é algo que incomoda todos os grupos. Hoje mesmo, tem gente que prefere pagar uma grana para ver o Tom Cavalcanti do que vir aqui conhecer”, reclama Mauro.

Começo - Primeiro eles queriam apenas uma charanga, como a que os palhaços exibem no circo. Mas o grupo conseguiu bem mais, um espaço para fazer teatro e também ensinar circo à comunidade, com investimento público que viabiliza aulas gratuitas para 30 estudantes em um galpão no bairro Sargento Amaral.

“A primeira vez que chegamos aqui a ideia era ter um imóvel só para guardar o nosso material. Era tão pequeno, que ali só cabiam as nossas coisas, a gente não cabia. Depois conseguimos alugar a casa ao lado e agora parece com o que a gente sempre quis”, lembra Aline.

E ainda sobra tempo para espalhar por aí apresentações de três peças: Os Corcundas, O Palhaço no ½ da Rua e Encruzilhada. Além do festival Pantalhaços, uma mostra sobre o principal personagem do circo para “semear, cultivar e ver florescer alegria”, resume o grupo.

O Circo do Mato: Aline, Yago, Laila, Leandro e Mauro, no espaço aberto pelo grupo.
O Circo do Mato: Aline, Yago, Laila, Leandro e Mauro, no espaço aberto pelo grupo.

A primeira edição foi “feita na raça”, ao lado do grupo Flor e Espinho. Mas agora, já na quarta mostra, há R$ 120 mil em patrocínio da Caixa Econômica e Funarte.

Nas últimas seleções abertas para projetos culturais, alguns pontos água mole conseguiram quebrar a pedra dura dos editais postos pelo governo, mais uma vitória do Circo do Mato.

Agora há verba específica para montagem e financiamento permanente, para manutenção dos grupos. “Foram coisas que a gente sempre defendeu e é uma vitória abrir os editais e ver que estão lá”, avalia Mauro.

Na última seleção do FIC (Fundo de Investimentos Culturais), o Circo do Mato também conseguiu recursos para rodar a fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai e a Bolívia, com o espetáculo o Palhaço no ½ da Rua, uma preocupação com municípios que não recebem o teatro com frequência.

E assim o Circo do Mato vai ensinando que Campo Grande merece a arte organizada.

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