Amigas de infância descobrem o amor adultas e no altar recomeçam vida a duas
Elas cresceram juntas na vida e também no amor. Amigas desde a infância ainda na cidade de Paranaíba, Míriam e Ludmila estreitaram os laços na adolescência, mas foi na fase adulta que reconheceram uma na outra um sentimento ainda mais forte. Depois do término do casamento de Míriam, o qual Ludmila foi madrinha, a chef de cozinha se mudou para Campo Grande.
"Vim morar com ela e outra amiga. Num dia, enquanto eu cozinhava, a gente foi conversando e rolou. Tudo o que não brigávamos enquanto amigas, começamos a brigar no relacionamento", lembra Míriam Arazini, de 32 anos. Por estarem no que as duas definem como "conexões diferentes" é que o namoro demorou um pouquinho mais para sair. "Ficamos separadas uns dois, três meses e aí a gente viu que não conseguia ficar uma longe da outra", conta Míriam. Em outubro de 2012 elas então passaram a namorar.
No período de adaptação, Míriam já tinha sua própria casa e Ludmila ainda dividia a residência com outra amiga. Aos poucos, as roupas pararam de ir e vir e ficaram num só lugar. Em maio do ano passado elas decidiram morar juntas e em setembro, o pedido de casamento foi feito.
"A gente já vinha falando em casar várias vezes, mas as mães não aceitavam, meu pai morreu..." descreve Míriam. Os 'poréns' sempre apareciam para adiar os planos do noivado, até que no retorno de uma prova internacional da chef, Ludmila a pediu em casamento.
"Ela me levou para jantar, sentamos e vi que ela estava estranha, eufórica. Achei que ia levar os nossos amigos para comemorar, aí ela inventou que a chefe dela tinha ligado", narra Míriam. Advogada, Ludmila Marques, de 31 anos, deixou a mesa para entregar ao garçom o que deveria ser levado até a namorada. Um rosa colombiana acompanhada da caixinha das alianças.
"O garçom veio por trás da mesa, ela não viu e ele deixou a flor", lembra Ludmila. O "sim" foi imediato e o resto do jantar, como elas descrevem, foi lindo.
Marcar a data - Uma das irmãs de Míriam mora na Holanda e vinha passar a licença maternidade, junto do bebê, aqui no Brasil. Antes de chegar, disse à irmã que ficaria até o final de janeiro deste ano. À época, em novembro, as meninas decidiram então aproveitar a data para a troca das alianças.
Sem saber quanto tempo mais demoraria para que a irmã viesse, elas marcaram o "sim" para o dia 24 de janeiro. A escolha do local foi pela simplicidade e também pela convivência. O Sítio Harmonia, em Rochedinho, que trabalha com a produção de queijos de cabra.
Escolhido lugar, o próximo passo foi definir a atração da festa, o grupo de samba Sampri e também convidar os casais de padrinhos. "Numa caixinha com doces, a gente escreveu um bilhete convidando. Depois que todos aceitaram, fechamos a data", descrevem as duas.
O convite já revelaria o tom de ternura que a festa iria passar. Na escolha da frase que falasse mais sobre o casal, elas encontraram o significado da união nas palavras de Clarice Lispector. "Não conseguimos identificar que horas que mudou de amizade para amor, então procuramos uma frase que fosse a nossa história: "Não me lembro mais qual foi nosso começo.. Já era amor antes de ser"... explicam.
De fato, até que elas chegassem à capelinha do sítio, Ludmila, Míriam, ninguém saberia dizer quando foi que o amor chegou ali.
O buffet que elas optaram por servir aos 75 convidados foi simples: comida de boteco. No cardápio, porções de mandioca e batata frita, além de arroz carreteiro, tábua de frios e de bedidas, cerveja e caipirinha.
Duas noivas, dois vestidos - Por Míriam, o casamento teria sido mais simples e aconchegante possível. Nem vestido de noiva ela queria, mas o primeiro "sim" da vida de Ludmila fez com que elas cedessem ao tradicional branco. As duas escolheram os vestidos na mesma loja. Míriam achou o modelo ao provar o sétimo, já Ludmila no quarto vestido soube que era aquele para o grande dia.
Tudo era surpresa uma para outra. "Para que a gente não fosse nem com vestido igual e nem com um destoando, um padrinho foi com a gente olhar o vestido das duas. Uma madrinha escolheu cabelo e maquiagem, ninguém sabia nada uma da outra", dizem.
No salão, todos os padrinhos se arrumaram junto delas. Mas nem Ludmila e nem Míriam se viram prontas. O encontro das noivas seria só na entrada rumo ao altar. "A Ludmila desceu, fiz a minha maquiagem, o cabelo, coloquei o vestido, tamparam o rosto dela e eu disse 'amor, estou te esperando, não demora'", recorda Míriam.
Na dúvida sobre quem entraria com quem e pelo fato de que as mães das noivas não concordavam com a união, é que as duas decidiram entrar juntas perante os convidados. Ludmila com o pai e Míriam com a avó materna. "A gente fazia questão disso, de uma estar de frente para a outra", detalha Míriam.
Elas estão pararam os dois carros lado a lado, uma fechou os olhos enquanto a outra descia e caminharam ao redor da casa até se encontrarem para cruzar o tapete. "Contornamos a casa, nos encontramos e seguimos", resumem. A marcha nupcial foi substituída pela doce voz de Vanessa da Mata e Gilberto Gil na canção "Quando amanhecer".
Depois da cerimônia celebrada por um juiz de paz, um diácono anglicano parente das noivas falou pequenos versos e conduziu os votos. Nas palavras, ele usou como exemplo de comprometimento e amor, o caso de Rute. "Que morava com a sogra e as cunhadas. Depois que os maridos morreram, a sogra disse que elas poderiam ir embora e Rute preferiu ficar dizendo que elas eram uma família, que elas tinham uma relação. Ele disse que poderia perfeitamente fazer uma alusão, sobre o sentimento que uma tem pela outra e a vontade de ficarem juntas".
Em seguida entrou o sobrinho e afilhado de Míriam com as alianças e também os votos. "Eu fiz os meus aqui e ela os dela no escritório. Só combinamos que seriam três. E foi exatamente assim, o que eu falava em um, ela respondia no outro", descreve Míriam. As palavras de uma era de que deixaria a outra dormir mais, enquanto a resposta era justamente a promessa de acordar mais cedo.
O diácono não podia abençoar a união, mas de surpresa chamou os familiares para que eles assim fizessem a benção. A mãe de Ludmila, que foi contrária à relação se levantou, impostou as mãos e atendeu ao pedido do diácono. A avó e a madrinha de Míriam fez o mesmo do outro lado.
A tensão tomou conta das duas neste momento. A mãe de Ludmila nunca havia visto as duas junto e o receio era de que tanto sentimento vindo à tona a fizesse passar mal. "O diácono falou que todo dia abençoa lenço, carro, casa e por que não abençoar o casamento de duas pessoas?" reproduzem as noivas.
"Ele fez uma oração lindíssima e a mãe da Ludmila falou eu abençoo vocês, Míriam eu abençoo você e quero que vocês sejam muito felizes. Nós não esperávamos e ela disse que quando olhou pra gente, para a capela, para o casamento pensou como que não iria abençoar isso?"
Foram sete casais de padrinhos, três deles gays. A saída das noivas foi sob o som de "Pra Sonhar", de Marcelo Jeneci e bolinhas de sabão. Além de curtirem cada momento dos preparativos, elas viveram um casamento sem fugir do que manda o protocolo. "A gente também pode e casou com o que todo mundo tem direito. E foi lindo". A notícia que se tem em Paranaíba, de onde a família das duas veio é de que a mãe de Ludmila é outra pessoa. Além da benção no casamento, conta a todo mundo sobre a filha e a nora e o quanto teria se arrependido se não tivesse visto e compartilhado do dia mais feliz da vida da filha.
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