Coitado do coelho, depois da festa de Páscoa acaba abandonado por aí
Para fazer do próximo domingo um dia especial para a criançada, tem muita mãe por aí que exagera. Nas casas de animais, funcionários contam que o sábado que antecede a Páscoa é sempre de grande movimento, com pessoas em busca do principal símbolo da festa: o coelho.
“Todo ano é assim, é a época que mais vende. Vem muita gente no sábado e também no domingo”, conta o atendente da casa de rações ao lado do Mercadão Municipal de Campo Grande. Ontem, as gaiolas estavam cheias de animais de orelhinhas baixas, por R$ 20,00 ou R$ 40,00.
Como o preço relativamente baixo, a maioria não se importa em investir e fazer a gracinha da comemoração e incrementar a entrega de ovos de chocolate. Não haveria problema se na semana seguinte a brincadeira não perdesse a graça e os coitados dos bichinhos fossem despejados de casa e abandonados em parques da cidade.
“A incidência de denúncias sobre esse tipo de abandono começa assim que a Páscoa termina”, diz Élson Borges, biólogo e coordenador do CRAS (Centro de Recuperação de Animais Silvestres).
Foi assim no ano passado, quando em uma tarde de caminhada no Parque das Nações Indígenas, no lugar das capivaras, um coelhinho branco ficou me encarando.
Ele não deveria estar ali, confirma Élson. Provavelmente, foi deixado por alguém que queria se livrar do trabalho. “As pessoas abandonam porque não dão conta”.
É só o bichinho mostrar os dentes e sair pela casa roendo os móveis, para a família tomar uma providência radical. “Os coelhos roem porque precisam desgastar os dentes, então ficam o tempo todo roendo. Mas tem algumas espécies que podem muito bem ser criadas como pet”, explica.
O mini coelho, ou “coelho anão”, não cresce muito e o trabalho é proporcionalmente igual. “Mas tem de se informar bem antes de comprar, para não ter surpresas”, recomenda Élson.
A organização Abrigo dos Bichos também se preocupa com essa “gracinha de Páscoa”, principalmente, porque ninguém doa o animal depois da festa. As pessoas preferem abandonar em um terreno qualquer.
A entidade recebe sempre ligações sobre animais soltos e considera mais uma prova da irresponsabilidade. Uma das coordenadoras da ONG diz que a situação é ainda pior com os coelhos porque as pessoas ficam constrangidas de fazer a doação, justamente, por saber que isso não está certo.
“Se comprou, tem de cuidar como de qualquer outra animal. Dar a ração apropriada, deixar em espaço adequado. Mas se não der certo mesmo, é melhor doar”, avisa Ana Clara Baldé.