Com 193 na linha, policial salva bebê de 11 meses e vira "médico" e amigo
A tarde da última segunda-feira teve a ocorrência mais especial da vida de Amaral. Os 26 anos de policial militar passaram como um filme depois que ele conseguiu salvar Brenda, de 11 meses, que apareceu nos braços de uma mãe desesperada no pelotão do Nova Lima.
Por volta das 3h da tarde, enquanto estava de plantão, o cabo Amaral foi surpreendido por um carro que parou e, às pressas, entrou gritando por ajuda. Eram vários familiares e uma criança desacordada. Foi essa a cena que ele conseguiu entender, antes de ouvir o clamor de Rosângela, a mãe.
"Ela entregou na minha mão e gritava 'pelo amor de Deus, socorre a minha filha'", lembra Agustinho Marques do Amaral, de 47 anos. De imediato, o cabo começou a fazer os procedimentos que aprendeu de primeiros socorros. "Virei de um lado, de outro, estiquei as perninhas, tentei de tudo para ver se ela reanimava", conta.
Aos parentes da menina, o policial pediu para que ligassem para os bombeiros ou Samu e por telefone foi orientado por uma bombeira. "Ela me passou as coordenadas e ficou comigo na linha, para ver se eu tinha sucesso em reverter a situação", narra.
No momento em que a família apareceu, Amaral estava sozinho no pelotão e a viatura se encontrava em ocorrência. "Quando eu virei ela de bruços e espalmei as costas, devagarzinho, ela chorou. A criança voltou a reagir e conseguimos salvar. Ela não tinha cor nenhuma", descreve.
Brenda é a quinta filha de Rosângela e Luís, que moram no bairro Jardim Noroeste. Na tarde de segunda, a mãe e o bebê estavam na casa de parentes no bairro Nova Lima. Eles contam que chegaram a tentar acionar o socorro em casa, mas não havia ambulância e foram orientados a levarem a criança ao posto de saúde.
No desespero, a mãe achou que não chegaria a tempo ao posto e os familiares decidiram pedir ajuda à polícia. Nesta terça-feira, já mais calma, é que Rosângela pode agradecer ao policial. "Quando ela começa a chorar, às vezes ela perde o fôlego. Ela ficou roxa, mas não tinha chorado, nem mamado e nem comido nada. Ela não engasgou. Eu estava pegando a minha bolsa para voltar para casa quando ela passou mal", conta a dona de casa Rosângela da Silva Vieira.
No pelotão policial, só lembra de entregar a filha ao policial. "Se fosse mais longe, não tinha chegado. Eu só joguei na mão dele, como se ele tivesse a obrigação de salvá-la", lembra. Quando a criança voltou, a família correu com a menina para o posto Nova Bahia e na falta de pediatra, foram encaminhados ao Coronel Antonino.
A mãe não sabe a causa dessa reação da filha, mas garante que vai procurar um especialista. Brenda fará 1 ano no próximo dia 3 de junho. "Meu sentimento é de alívio e estou muito agradecida. Hoje que fui agradecer, ontem eu não conseguia nem falar. Ele virou um anjo, o segundo médico dela. O primeiro foi quem trouxe ela à vida e ele, foi quem devolveu", agradece a mãe.
Em 26 anos de policial, Amaral fala - com a voz embargada pelas lágrimas - que não teve melhor ocorrência. "A mais interessante, a mais louvável. Diante de tanta coisa ruim que a gente se depara, essa tem um significado diferente. É salvar uma criança e isso a gente nunca espera que vai acontecer e não tem nada que pague", tenta dizer.