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Comportamento

Depois de 1 mês como padrinhos, médicos escolhem ser pais da menina de 10 anos

Paula Maciulevicius | 18/05/2016 06:17
Cartaz feito pela menininha no segundo mês de apadrinhamento. Em breve, tia e tio serão mãe e pai.
Cartaz feito pela menininha no segundo mês de apadrinhamento. Em breve, tia e tio serão mãe e pai.

Lívia e Lucas embarcaram na maior aventura de suas vidas: serem pais de um modo diferente. Casados desde 2014, a adoção sempre esteve no coração deles antes mesmo do "sim" no altar. No início da vida a dois, as condições ainda não eram propícias, nem financeiras e nem de trabalho. O caminho então foi o apadrinhamento afetivo. Através dele o casal achou que daria oportunidades à afilhada, mas na verdade foi ao contrário. Ela quem trouxe a chance de sentirem o amor incondicional. A menina de 10 anos ganhou uma família, quando eles encontraram uma filha.

Em novembro do ano passado, o calendário marcou o primeiro final de semana com uma criança em casa, depois de toda seleção criteriosa do projeto da Justiça e duas visitas ao abrigo. Aquele sentimento que eles já tinham, de adotar, se fortaleceu como nunca a partir do momento em que tiveram a menina ali na frente e viram as reais necessidades de uma pequena que cresce sem lar.

O vínculo cresceu. O amor também e um mês depois eles, que são médicos, já entraram com o processo de adoção. "A gente tinha a certeza que era ela. Você não escolhe filho biológico, nem as características físicas e nem as psicológicas. E nos encantamos. É incrível como tudo se encaixa", conta Lívia Rodrigues Figueiredo, de 35 anos.

"Por que não? Será que o afeto e o amor nascem só do sangue? E não da alma? Não seria injusto negar amor e oportunidades a uma criança "mais velha", que tem apenas 10 anos de idade?" questiona a mãe.
"Por que não? Será que o afeto e o amor nascem só do sangue? E não da alma? Não seria injusto negar amor e oportunidades a uma criança "mais velha", que tem apenas 10 anos de idade?" questiona a mãe.

O processo ainda está caminhando e é por isso que a menina não pode mostrar o sorriso lindo que tem e nem o brilho nos olhos. Os mesmos que conquistaram e fizeram os padrinhos, se tornarem pais. Ela também não sabe que está para ser adotada. Apesar de todos os pedidos direcionados. Até moedinha em fonte a menina já jogou, desejando que Lucas e Lívia fossem sua família. O segredo é para não criar uma expectativa muito grande num processo que ainda caminha.

Mesmo que o papel ainda não autorize, no coração, Lívia já é mãe e desde o começo. "Tive uma empatia imediata. Amor você vai construindo aos poucos. Você olha para aquela criança e fica imaginando a história dela. Como foram os primeiros anos? Eu não tenho isso, mas vejo que o mais importante é participar de cada descoberta dela", descreve.

Uma delas foi o dia em que a garotinha descobriu o brigadeiro e a quase "regra" de raspar a panela depois que termina de ser feito. "Você precisava ver a alegria dela quando raspou. Cada descoberta, para a gente pode parecer pequena e relativamente simples, mas é fantástico de ver o crescimento dela como pessoa", narra Lívia.

Quando os amigos tomam conhecimento do processo, a reação é de espanto e depois vem a dúvida, de que talvez eles não possam ter filhos biológicos e para isso, ela tem a resposta na ponta da língua. Não, não tem problemas de fertilidade. Aí o próximo ponto é outro: Porque adotar uma criança? Ainda mais sendo mais velha?

Os pezinhos da família ao lado do cachorro num passeio no parque.
Os pezinhos da família ao lado do cachorro num passeio no parque.

"Por que não? Será que o afeto e o amor nascem só do sangue? E não da alma? Não seria injusto negar amor e oportunidades a uma criança "mais velha", que tem apenas 10 anos de idade?

A convivência com essa criança nos fez melhores. Achamos que nós daríamos oportunidades pra ela, mas na verdade foi o contrário. Ela nos deu oportunidade de aprender a amar incondicionalmente, de termos alegrias contínuas, paciência infinita e aceitação plena. Enfim, nos tornamos pais!"

A fala é tão carregada de sentimento que é impossível de editar. Não tem como cortar nenhuma palavra que sai do coração da mãe. Como também não é possível segurar as lágrimas.

É com o coração aberto que os pais conversam com o Lado B justamente com a intenção de desmistificar a chamada "adoção tardia". "Você vai rotular de velha uma criança de 10 anos? Não temos vergonha ou receio de contar para todos a origem da nossa filha. Filha e ponto final. Não filha adotiva ou filha do coração. Apenas filha. E não será diferente com o filho "biológico", quando vier", enfatiza a mãe.

Lívia sabe que a menina não tem seus traços físicos. E que como mãe não terá, nem tampouco na memória, quais foram suas primeiras palavras ou onde foram dados os passinhos quando começou a andar. Mas pode ver a alegria na primeira vez que ela pos os pezinhos em sua casa e o brilho nos olhos no primeiro passeio juntas.

O casal segue escrevendo a história de vida da filha a partir do momento em que eles se conheceram. A definição de "aventura" vem do que a própria maternidade traz: desafios, angústias, alegrias e a sensação de que tudo valeu à pena.

A música abaixo não sai da cabeça da mãe, porque interpreta o coração dos pais que esperam o processo chegar ao final. "É exatamente o que a gente vive: 'Depois que te encontrei, uma estrela apareceu no meu teto, meu coração se encheu de afeto, é como se abrisse um portão em nossas vidas...', cantarola Lívia.

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