Depois de 30 anos, filha encontra a mãe no Facebook
A mensagem foi enviada em junho, mas só neste mês Jaqueline leu o que esperava há mais de 30 anos. A mãe biológica se revelou pelo Facebook. “Ela começou perguntando da minha mãe adotiva, dizendo que era amiga há mais de 40 anos. Então perguntei se ela conhecia minha mãe biológica e ela respondeu: ‘sua mãe de sangue sou eu”, conta a filha.
Mas antes do final feliz da história, a vida de Jaqueline teve um roteiro quase dramático. A menina, nascida em Dourados, foi entregue pela mãe à amiga, que anos depois, ao se divorciar, a deixou com a avó, que passou a guarda para o pai adotivo, que levou a garota para viver com um tio, que passou a fazer “rodízio” com a menina pela casa dos irmãos.
Os “quês” só terminaram aos 9 anos. Vendo a neta adotiva sofrer a cada mudança de endereço, a avó paterna (e postiça) tomou a menina para si. A garota ganhou uma referência familiar, mas não desistiu de encontrar a mãe verdadeira, uma vontade desde os 6 anos. “Mas eu era muito pequena e só aos 16 consegui sair para procurar. Comecei pelo cartório”, lembra.
A adolescente partiu praticamente do nada. As únicas informações eram o apelido e uma indicação de endereço: "Cida de São Paulo". Os pais adotivos nunca deram nenhum detalhe sobre a negociação que definiu o futuro da menina.
Aos 18 a moça resolveu seguir sozinha, veio para Campo Grande trabalhar em uma pousada para pacientes trazidos do interior e a sobrevivência passou a ser mais importante que a busca pelo passado.
Há 3 anos a vida deu um daqueles giros que leva tudo ao mesmo lugar. Solteira, Jaqueline engravidou e teve de optar entre ver o filho crescer ou não. Escolheu a maternidade e hoje comemora os 2 anos de Artur, menino arteiro, que adora subir em uma janela.
Com as coisas mais aprumadas, emprego em uma empresa fotográfica e casa dividida com 3 amigos, só faltava uma imagem: o rosto da mãe verdadeira, pelo menos isso.
Tecnologia - Cida encontrou Jaqueline graças a um filho, batalhador, que nunca desistiu de encontrar a irmã caçula. A sétima.
Feita a descoberta no Facebook, finalmente chegou o momento das duas conversarem e do abraço ser combinado.
No final de semana passado, Jaqueline viajou a Bauru, onde a mãe biológica vive. “Minha família adotiva pagou tudo e foi junto”, comenta.
Em São Paulo, conheceu primeiro o irmão de 40 anos, o responsável pelo encontro. Descobriu que a mãe voltou para buscá-la quando tinha 2 aninhos, mas a família já havia se mudado de Dourados para Campo Grande, em uma das muitas idas e vindas dos pais adotivos.
“Ela apanhava todos os dias do meu pai verdadeiro e já tinha 6 filhos. Então pediu para a minha mãe adotiva me registrar no nome dela, chegou a passar o aniversário de 1 aninho comigo e combinou de voltar todo o ano para me ver, mas a minha mãe adotiva não cumpriu nada”, diz Jaqueline.
Toda essa história foi contada por Cida, a mãe que recuperou a filha depois de 30 anos. O primeiro olhar trocado entre as duas foi pontuado com um abraço forte, mas sem choro. “Fiquei em choque, apesar de muito feliz. Não sei explicar”, comenta Jaqueline, a mulher aparentemente frágil, magrinha, com jeito de gente endurecida pelo tempo. “É que depois de tudo que a gente vive, fica com medo de que as coisa boas não durem”, argumenta.
Apesar da mãe postiça já ter morrido, a filha não duvida de nenhuma palavra dita pela mãe biológica sobre o que passou e justifica: “Ela é muito simples e fala de um jeito muito verdadeiro”.
Convidada para viver com a mãe em Bauru, Jaqueline abre o sorriso ao falar do futuro. “Vou com o meu filho para lá. Tenho de ficar perto, aproveitar minha mãe”.