Diversão na infância, até hoje a "descidinha" da Maracaju dá frio na barriga
A gente pode até crescer, mas tem certas sensações que nos acompanham por toda a vida. Na semana passada, presenciei uma das cenas mais singelas e que trouxe tantas lembranças num sorriso que só ouvi. Nem cheguei a dar rosto para essa personagem.
Uma menininha de rosa era a carona de uma motocicleta que descia pela Rua Maracaju, naquela "descidinha" na altura da Maracaju. Provavelmente estava com o pai e quando passou logo abaixo do pontilhão, soltou os bracinhos para sentir o que tantos campo-grandenses já sentiram: aquele frio na barriga. Só deu para sentir a alegria pelo som da risada, mas a gente consegue dar nomes a essas lembranças compartilhando-as entre amigos e indo até o mesmo lugar.
Os filhos da artesã Patrícia Loureiro, de 45 anos, hoje têm 21 e 26, mas quando meninos riam à beça ao passarem por aquele trecho. "Eles estudavam ali no Visconde de Cairu e minha avó morava ali no prédio da Ernesto Geisel, então era um trajeto que a gente sempre fazia e eles brincavam muito", recorda.
A risada da época se forma na voz e na feição da mãe. "Era bem engraçado e esse friozinho na barriga deve fazer parte das lembranças de muita gente", acredita. Quando passa hoje, a mãe sente é saudades, porque não está mais com os meninos crianças no carro, voltando da escola. "Adultos, não andam mais com a gente, cada um tem a sua vida, o seu carro. Eu sempre passo sozinha e dá uma saudade. A gente visualiza a cena", descreve.
Hoje seu Kalil é o carona. Quem dirige é o filho e a lembrança vem mais à tona no pai. "Frio na barriga", ri o pai ao responder o que sentem quando passam por ali. "A mesma coisa de quando era criança. A infância", completa Kalil Campos, de 55 anos.
Mas emoção maior, segundo propaga o policial Luiza Carlos Santos, de 48 anos, está em descer de ônibus. "Faz a experiência, dá mais certo", brinca. Como motociclista, ele explica que o impacto é mais forte e a diversão fica mesmo por conta do carona.
E se tem um pequenininho que não pode ver a rua que já reconhece, é Matheus. Estacionado, ele e o pai falavam da emoção que vem sendo passada de geração em geração. "Ele gosta, ele pede para correr e de longe ele fala: 'vai reto papai, vai reto'", conta o autônomo Thiago Santos, de 27 anos.
O friozinho na barriga não se resume só à Maracaju. A antiga Furnas, Avenida Paulo Coelho Machado, também tem uma descida de fazer estômago parar no pé. E por muitos anos, antes da região se desenvolver, tinha quem fosse ali só para sentir essa emoção.
O riso de menino ainda está no rosto do motorista Emerson Tavares. "Eu acelero e desço até quando estou no trabalho. É para dar susto", brinca.
E você que memória afetiva tem dessa descidinha?