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Comportamento

Dono de garagem de carros vive da paixão e tem dó de vender antiguidades

Paula Maciulevicius | 02/07/2013 06:14
O Opala 79 como vitrine não está à venda, mas remete às relíquias que a garagem hospeda. (Fotos: Cleber Gellio)
O Opala 79 como vitrine não está à venda, mas remete às relíquias que a garagem hospeda. (Fotos: Cleber Gellio)
A Variant 72 tem nota fiscal e manual de fábrica até hoje. Por ela, o dono Erley, já foi chamado de louco.
A Variant 72 tem nota fiscal e manual de fábrica até hoje. Por ela, o dono Erley, já foi chamado de louco.

Na subida da avenida Mascarenhas de Moraes, no bairro São Francisco, uma garagem de veículos que na vitrine está um Opala 79. Lá dentro, uma Variant 72 até com nota fiscal e manual de fábrica. Mais ao fundo, o laranja da C-10 ano 73 chega a brilhar aos olhos de tão lustrada. O lugar é palco para apaixonados que vivem de vender e contemplar relíquias.

O carro mais novo é um Tempra 97, raridade na revenda especializada em antiguidades. É quase um museu de veículos que já foram os carros da moda, mas que ao gosto dos colecionadores, hoje valem mais que um Camaro. “Eu não venderia de jeito nenhum. Meu Opala chama mais atenção que um Camaro amarelo”, defende Vitor Yoshio Alves Okumoto, 40 anos. Vendedor da garagem disposto a comercializar tudo, menos o seu Opala 79.

O estabelecimento existe há cinco anos e tem uma clientela formada de gente que vai para ‘namorar’ ou comprar mesmo. Dos 30 veículos que dividem dois galpões na avenida, todos são de Erley Carrilho Arantes, 40 anos, e estão lá para venda, mas só a quem se dispuser a pagar.

Na indicação, garagem diz que pode até vender carro, desde que paguem o valor pedido.
Na indicação, garagem diz que pode até vender carro, desde que paguem o valor pedido.
A C-10 que despertou a paixão do dono e não é vendida nem se pagarem o pedido, R$ 33 mil.
A C-10 que despertou a paixão do dono e não é vendida nem se pagarem o pedido, R$ 33 mil.

Na imitação do Herbie, o Fusca ano 68 e o mais antigo na garagem, já dá o recado: “posso até vender”, escrito no parabrisa. É a condição imposta por Erley, de que até vende, desde que paguem o que ele for pedir. O Fusca, no caso, está saindo R$ 6,5 mil.

A paixão por carros começou com a compra de um Corcel 76. “De lá para cá foram só carros antigos. A esposa não gosta, fica até brava porque não anda de carro novo. Mas eu já estou ficando velho, quando chegar nos 45, tenho que estar dentro de carro novo. Se não é velho dentro de carro velho”, brinca. Mas quem fala com o mesmo brilho nos olhos que os carros lustrados têm, leva a gente a duvidar.

Ele já adianta que de 10 pessoas, sete gostam das antiguidades e que até a equipe de reportagem vai gostar um dia. Andar pelos carros traz um ar de nostalgia até em que nunca andou neles. Sentimento impossível de evitar.

Entre Opala, Fusca, Corcel, Chevette e Fiat 147, a Variant com nota fiscal e tudo já fez cliente chamar Erley de louco. “Ele perguntou quanto era e eu disse R$ 12 mil. Ele falou o dono é doido, sabe quando é que ele vai vender? Nunca. Eu digo que o dono é louco mesmo, só não falo que sou eu”, responde.

A média de tempo para vender é de até três meses e o cliente pode comprar despreocupado, que Erley garante as peças. “Tem em ferro velho e em São Paulo. Você encontra de tudo, pode comprar que vai achar câmbio, motor, tudo se acha”.

“Por carro velho, homem faz loucura que por mulher não faz”. A frase resume a paixão com que dono e funcionário trabalham.
“Por carro velho, homem faz loucura que por mulher não faz”. A frase resume a paixão com que dono e funcionário trabalham.

No entanto, o tempo para vender pode ser maior se o dono criou amor. O vendedor é quem tenta explicar o que acontece na cabeça dos homens. “Por carro velho, homem faz loucura que por mulher não faz”, conta Vitor.

Na garagem tem carro que não sai nem se oferecerem o que Erley pede. A C-10, por exemplo, é avaliada em R$ 33 mil, mesmo sendo uma caminhonete de 40 anos. O mais barato é um Fiat Uno 91, que sai por R$ 4,5 mil. “Quem quiser comprar vai ter que brigar muito, ele pegou amor. A C-10, uma Caravan prata e o 147 ele não vende”, entrega o vendedor.

Erley justifica que abrir o negócio foi para ganhar dinheiro e por gostar. “Juntei as duas coisas. Aqui é da gente, uma hora vende, é um comércio para apaixonados”, diz orgulhoso.

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