Em 6 fotos, a história do amor genuíno que nasceu num asilo, já no fim da vida
Jorge e Iraídes. Um casal que sorri mesmo sem ter todos os dentes, que se entende mesmo quando um deles é surdo e mudo, que vive um amor genuíno e prova que depois de uma certa idade o caminho é voltar a ser criança. Na Casa de Abrãao, de acolhimento de idosos no bairro Taveirópolis, em Campo Grande, os dois se casaram depois de uma festa junina.
O fato aconteceu há cinco anos e os dois levaram a sério o que era apenas uma brincadeira de festa de São João. Jorge tem 72 anos, Iraídes, 70 e juntos dividem a mesma doença desde a infância. A meningite afetou a ela lhe deixando sem escutar direito e a impedindo de falar, mas não de se comunicar.
"Eu conheci ela aqui, olhei pra ela, a gente se engraçou. Namoramos seis meses, era para ver se valia à pena..." brinca Jorge Alves Constante. Quando pergunto o que eles fazem, ele resume pedindo à ela um beijo. "Ela fica comigo, aqui... A gente anda de um lado pra outro, assiste filme, só dormir que a gente dorme separado. Eu durmo no quarto dos homens e ela das mulheres...", descreve Jorge.
Na casa, Iraídes está desde a abertura, há uma década. Jorge veio depois, seis anos atrás. Na tal festa junina, Iraídes era a noiva e Jorge foi eleito o noivo. Quem nos conta a história deles é o administrador da casa, Alexandre Bruno de Souza da Silva. E quem confirma é o próprio casal, através dos sorrisos e carinhos.
"Ela não fala, mas briga, é ciumenta, manda nele. Ele é um dos únicos que não toma medicação", explica Alexandre Bruno.
Nas mãos dela e dele, anéis e pulseiras. Me chama atenção e pergunto a Jorge se são dela. Ele nem me dá tempo de perguntar e já responde de supetão: "é nosso. Ela é minha bonitinha".
"Nós casamos, ela estava como uma florzinha de jasmim. Como a gente começou? Foi ficando pertinho, pertinho, até eu começar a namorar e casar com ela. Ela me entende, faz roupinha, costura pra mim. É uma costureira de mão cheia. Eu levo água pra ela, cobertinha pra ela, lá no quarto..."
Jorge era morador de rua, no acolhimento o que se sabe dele é um histórico de álcool. Filho de pai alcoólatra que sumiu, a mãe, pelo que se conta, suicidou. Ele também procurou no álcool a companhia que não teve. Talvez seja essa a explicação para confusões de histórias que ele jura serem dele, como de ter servido no Exército e na Marinha e ter tocado violino para uma importante figura da nobreza francesa. "Paris é a cidade mais linda do mundo", sustenta por diversas vezes.
Iraídes, ao contrário, tem família. A mesma que às vezes se encarrega de levar os dois para as festividades em casa. "Quando a família levava Iraídes, Jorge se deprimia... Não queria comer, ficava só dentro do quarto. Avisamos então que quando fosse levar ela, tinha que levar ele também, a gente arca com os custos", conta o administrador.
Juntos os dois têm os pratos preferidos: panqueca, arroz carreteiro, galinha caipira...
"O amor que eles têm é um amor genuíno, que inclusive eles não se desgrudam", explica Alexandre, como se precisasse. Só de olhar, a gente entende.