Fã escreve “biografia” de Roberto Carlos à mão e trata Rei como filho amado
Roberto Carlos provavelmente não sabe, mas tem uma fã enlouquecida em Miranda, no interior de Mato Grosso do Sul, a 201 quilômetros de Campo Grande. A analista judiciária Vera Lúcia Trindade, de 49 anos, gosta tanto do Rei, a quem se refere como “meu filho querido”, que chegou a escrever a biografia dele à mão.
O material faz parte de uma “coleção” composta por quatro cadernos escolares, dois só de recortes, que ela mesma montou ao longo dos anos, e dois de histórias/notícias, que ela leu, resumiu e reproduziu a seu modo.
Não se trata, claro, de uma biografia oficial, autorizada, até porque a tarefa não seria nada fácil. O cantor vive “brigando” com quem se atreve a fazer isso. Roberto não gosta de se expor, e nem acha certo alguém contar sua própria trajetória de vida, sem que o material passe por suas mãos. Prova disso é que, em 2007, por exemplo, ele tirou de circulação a biografia “Roberto Carlos em Detalhes”, escrita pelo jornalista Paulo César de Araujo.
Mas a intenção de Vera passa bem longe disso. Ela não quer lucrar e nem tirar proveito da situação. Vera não reescreveu as noticias que leu pensando em publicar uma biografia, mas em registrar a vida de um homem que, para ela, é admirável, especial e já ocupou o papel de pai, irmão e, agora, está na posição de filho.
“Eu tinha a intenção, a vontade de que ele soubesse de tudo isso”, comenta. A mulher fala no passado porque já desistiu da ideia. Nunca conseguiu se aproximar do Rei. O contato mais próximo foi em um show, ainda assim, de longe, da plateia.
Fato é que, de tanto pesquisar e estudar a vida do cantor, a sul-mato-grossense tem respostas para alguns assuntos que o próprio Roberto não toca, como o acidente que, segundo ela, teria resultado na amputação de uma perna.
“Foi no dia 29 de julho de 1947. Ele estava no desfile escolar. Era o aniversário da cidade de Cachoeira de Itapemirim. Ele se distraiu, veio uma máquina e ele ficou enroscado na alça de limpar trilhos dessa máquina. Foi arrastado por alguns metros e isso causou aquele ferimento. Ele não gosta de entrar em detalhes, então a gente não sabe o que realmente aconteceu. Ele tinha só 6 anos de idade. Foi muito difícil para ele passar por isso. Era criacinha”, relata.
Ela também descreve com detalhes a vida dura do artista. “A infância não foi nada fácil, mas ele foi uma pessoa que estudou. O pai era relojoeiro e a mãe costureira. Eram extremamente religiosos”, diz, a contar que tem fotos do ídolos desde os 7 meses.
Vera começou a fazer esses registros e guardar toda e qualquer imagem do cantor por volta dos 12, 13 anos, época em que começou a trabalhar e ter acesso a publicações. Mas a admiração por Roberto surgiu bem antes, na infância, aos 7 anos de idade.
“Eu só tinha a oportunidade de ouvir ele quando o vizinho ligava o rádio. Em casa não tínhamos. Isso era tecnologia para poucas pessoas. Até então nem sabia quem ele era. Depois que fui tomando conhecimento”, revela.
Depois de conhecer o dono da voz que canta músicas românticas e embala cenas de novelas, ela ficou ainda mais encantada e começou a segui-lo. Roberto passou a ocupar, então, o espaço de um membro da família, de alguém muito próximo. “Ele é meu filho amado, querido. Bato o olho e sinto aquele carinho de mãe”, declara.
A identificação é tanta que Vera, assim como o cantor, prefere roupas com detalhes em branco ou azul. Não gosta de marrom e nem do cinza. As cores, justifica, não trazem alegria. A casa onde mora tem, além dos recortes, quadros do artista nas paredes, Cds e DVDs, Fitas K-7, entre outros objetos.
A “biografia” é um tesouro e continua intacta, mas não é atualizada desde 1995. “A última coisa que escrevi, se não me engano, foi sobre a morte da Maria Rita. Depois não tive muito tempo para acompanhar. Não dei mais sequência porque tive perdas na família, de pessoas importantíssimas, e fiquei com problemas de depressão”.