Homem acolhe morador de rua, aprende com ele uma profissão e se torna empresário
O olhar minucioso ao colar a espuma de um novo sofá jamais revela como Antônio Donizetti Ferreira, 50 anos, aprendeu a profissão. Sem qualquer curso para aprender a tapeçaria, ele “estuda” novas estampas e cria peças decorativas. Mas o curioso nessa história é que ele aprendeu tudo em 90 dias, com um morador de rua, que um dia bateu em sua porta e foi bem recebido.
“Ele foi um filho de Deus que apareceu na minha vida. Se tem alguém que preciso agradecer nessa vida é ele, que me ensinou e garantiu o sustento da minha família”, diz o dono da tapeçaria. O encontro dos dois ocorreu anos após Donizetti sair da roça, com 15 anos de idade, para trabalhar como eletricista e servente de pedreiro.
“Estava trabalhando na cidade, quando conheci minha esposa, que sempre foi costureira. Nós estávamos em casa, aqui em Campo Grande, quando bateu em nossa porta um mendigo, pedindo comida no horário do almoço. Ele retornou mais tarde e pediu janta. No outro dia, a mesma coisa, só que ele também pediu para pousar em casa e contou parte da sua história”, comenta o empresário.
Na época, há 35 anos, Donizetti fala que o homem estava embriagado e era usuário de drogas, porém mesmo assim a família não teve medo de dar abrigo a ele. “Ele contou que por conta do vício foi expulso de Bauru (SP), onde tinha mulher e filhos, só que sempre foi tapeceiro. E aqui ele arrumou um trabalho, mas não tinha dinheiro para se manter e o que recebia gastava com cachaça e droga. No terceiro dia, me convidou para conhecer o trabalho dele e me ensinar tudo”, relembra o empresário.
Foram 90 dias intensos, que ele aprendeu a montar sofás, bancos, cortinas, pufes e diversas peças. “Ele me ensinou a fazer os cortes, montar, colar a espuma e todo o acabamento final. A partir daí trabalhamos juntos por três anos, porém ele disse que voltaria para São Paulo e, após 30 anos, ele veio me fazer uma única visita”, comenta o empresário.
Nas três décadas, muitas coisas ocorreram. Com a esposa costureira, eles abriram um negócio. “Tinha um decorador que encomendava peças da minha mulher, porém ninguém fazia os sofás. Aí montamos a nossa loja. Mudamos seis vezes de local e há nove anos estamos aqui. Já cheguei até a me aventurar em Campinas (SP), mas aqui é o meu lugar”, fala o empresário.
No seu salão, localizado na rua Amazonas, a criatividade aflora. As peças vão desde pequenos bancos para piscina, sofás, colchas com estampa de zebra e até um conjunto de mesa e cadeira “de oncinha”, que chama a atenção de quem passa. “Acho que dá pra quebrar o galho, é melhor que muitas lojas de móveis de Campo Grande”, defende o empresário.