Hora do Mamaço tem adesão recorde, participação de pais e boas histórias
Pelo menos 50 mulheres participaram, na manhã deste domingo (4), da “Hora do Mamaço”, no Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande. O evento, que acontece em outras cidades, estados e países, em comemoração à Semana Mundial do Aleitamento Materno, promovida no início de agosto, teve maior adesão nesta segunda edição, mais que o quádruplo de público do ano passado, e reuniu não só mães de primeira viagem, mas quem deixou de amamentar há anos e até quem ainda está esperando o bebê.
Os pais, desta vez, compareceram em peso. Representantes de entidades e profissionais da saúde também estiveram presentes. No local marcado, próximo à entrada lateral da lagoa, o gramado ficou tomado de mães e de crianças de colo, acompanhadas de pais e avós “corujas”.
Não faltaram máquinas fotográficas para eternizar o momento. Em cada canto, com cada mãe, se encontrava uma história. Todas, em geral, sabem da importância do aleitamento materno, defendem a amamentação, valorizam e destacam os pontos positivos da iniciativa que, nas palavras delas e dos organizadores, deve continuar.
Para a médica veterinária Denise deMiranda, de 41 anos, que foi com a filha, Anahy, de 2 meses, a proposta vai além da divulgação da importância do ato porque reforça que o contato com o filho não deve ser dispensado. “Tem muito dessa questão humana. Aqui em Campo Grande temos poucas iniciativas que valorizam essa maternidade ativa, onde a mãe é protagonista e se envolve em todo o processo".
Denise leva isso tão à sério que fez questão de ter a filha por parto normal. Foi um "sufoco". Dez horas esperando a pequena vir ao mundo, mas o esforço, diz ela, valeu a pena. O envolvimento afetivo com a menina é muito maior. Discurso semelhante tem a policial militar Rosane Maciel, de 35 anos, mãe da pequena Giovanna Luiza, de 2 anos e três meses. A menina, filha única, ainda está sendo amamentada.
“Tenho vergonha da minha barriga, que ficou saliente, mas meus peitos vivem de fora para ela mamar”, disse, com segurança, sem o mínimo constrangimento. A vaidade ainda existe, mas a importância maior, hoje, é em ser mãe, sonho que ela só conseguiu realizar graças a um tratamento.
Giovanna veio ao mundo pelo processo de fertilização in vitro. “Foi uma luta para gente ter uma filha. Tenho colegas que desmamaram a criança aos 6 meses. Eu acho que tem que mamar até quando tiver vontade”, disse.
O marido dela, o policial civil Kleber Pigosso, de 33 anos, concorda e reforça que vê problemas, e é por isso que incentiva. Hoje acordou cedo para acompanhar a mulher. “É legal a ideia. Tem lugares em que o pessoal discrimina e tem homens que tem certa malícia, mas quanto minha esposa tiver leite, vai amamentar”.
Rosane arrastou quase a família toda, três primos e inclusive a tia, Sônia Pereira, de 43 anos, que deixou de trocar fraldas há tempos. “Não acho o justo o beber nascer e não dar mamar”, disse ela, ao contar que os quatro filhos tiveram esse privilégio.
Não é só um privilégio, dizem os especialistas. É necessidade. É essencial. “O aleitamento materno é o alimento ideal para o recém-nascido, até os 6 meses de vida”, explicou a enfermeira e consultora de alimento, Paula de Oliveira Serafim, de 32 anos, uma das organizadoras do evento.
A pedagoga Rosagela Ferreira, de 37 anos, sabe que essa declaração, que circula aos quatro ventos, é verdade. A segunda filha, Julia Helena, que hoje tem 2 anos e 5 meses, nasceu com problema no coração. Sofria de cardiopatia congênita, uma anormalidade na estrutura do órgão. “Era sopro. Ela tinha 50% do coração aberto”, comentou.
Logo que o problema foi identificado, por volta dos 5 meses, os médicos a alertaram para a necessidade de uma cirurgia, mas a menina, para enfrentar o procedimento precisava ganhar peso e crescer. O leite materno foi essencial, diz a mãe, que seguiu à risca a ordem médica.
Julia enfrentou a cirurgia dois dias depois de completar um ano. Foi operada com 6 quilos, 2 a menos que o ideal, mas agora, felizmente, está longe de perigo. A mãe, que a desmamou há pouco tempo, menos de 1 mês, agradece pelo “milagre” todos os dias. “Deus me deu ela duas vezes”, afirmou.
É por isso que, mesmo sem amamentar, Rosangela resolveu ir ao encontro no Parque das Nações, dar apoio a outras mamães. “Isso, pra mim, é muito importante”, sintetizou.
Amamentar, dizem os especialistas, não é, de fato, uma coisa fácil. A enfermeira Rosangela resume bem esse “ditado popular”: “O bebê sabe, mas a mãe, não. Precisa aprender”. Está aí a importância, na avaliação dela, de um evento como a “Hora do Mamaço”. Compartilhar experiências, trocar figurinhas, receber dicas e aprender novas técnicas, nunca é demais.
A organização do evento diz que a participação do público, este ano, superou as expectativas. Na primeira edição, realizada em uma sala do Comper, na Avenida, Mato Grosso, apenas 10 mães compareceram. A ação de hoje, segundo a advogada Fernanda Gomes de Araujo, de 37 anos, que também está na organização, vai resultar em um vídeo, que deve se juntar a outros registros para uma campanha na internet.