Levados para casa como afilhados, irmãos ganharam dois pais em 1 semana
Quando o processo começou, em abril, a ficha de adoção foi preenchida com a preferência por uma criança de 1 até 4 anos, mas a realidade mostrou que a família de Elias e Lucas seria completa com dois irmãos um pouquinho mais velhos. Há uma semana, Felipe e Fábio se mudaram de Sidrolândia para Campo Grande, onde ganharam dois pais, uma casa e escola novas.
A felicidade dos quatro é tamanha, que ninguém diz que pais e filhos ainda estão em processo de conhecer um ao outro. "A gente apadrinhou eles, mas não pensávamos em nada porque não fazia parte da faixa etária", conta o funcionário público Elias Canhete Neto, de 32 anos.
Os irmãos vieram de Sidrolândia para a Capital no domingo anterior ao Dia das Crianças e na quarta-feira, data marcada para retornarem, o coração dos quatro apertou. "Eu falei para o juiz que não estava conseguindo... Queríamos ficar mais uns dias e foi aí que decidimos que era o que a gente queria mesmo", conta o vendedor Lucas da Silva Ferraz, de 26 anos.
A adoção já era fato entre eles desde quando assistiram às palestras no ano passado e como sonho, desde sempre. Casados há quatro anos, para Elias já era claro como ele se tornaria pai. E ao longo do tempo de casamento, viu o mesmo sentimento brotar também no marido. O processo só começou depois que o combinado entre eles se cumpriu: de estarem estabilizados nas carreiras, com casa e carro próprios.
Depois dos dias apadrinhados, o vínculo foi criado e o casal então entrou com o pedido de adoção. "O processo está andando, o juiz já deferiu e agilizou porque eles são grandes. Não tinha ninguém esperando nessa faixa etária, não entramos na frente de ninguém e deu tudo certo, né filhos?", descreve Elias.
Fábio e Felipe começaram a estudar antes de ontem. "Para a gente, também é novo. Acordar cedo, arrumar eles, conversar com as professoras", exemplifica o casal.
A transição de padrinhos para pais foi considerada por eles, natural. "Foi tudo ótimo, graças a Deus, uma surpresa boa. Não é a faixa que a gente esperava, mas é melhor", comenta Elias. No segundo dia eles já tinham percebido que a família dos sonhos já estava toda reunida. "O carinho, a independência deles, isso vai mudando sua cabeça em pouco tempo", avalia Lucas.
Aos poucos, as crianças vão soltando "pai" para o casal e ainda manifestaram um desejo lá para o futuro. "Quero morar com você para cuidar de você quando ficar velhinho", reproduz Elias. Chamá-los de pais ainda oscila. Por vezes os meninos ainda soltam um "tio".
"Eu quase surtei quando ouvi pai", confessa Lucas, que nas palavras do marido, é a "emoção" da casa. "E volta e meia sai um tio, mas é natural. Tio? Que tio? Eu brinco... Mas é o tipo de coisa que é com o tempo. Tem menos de um ano que eles saíram de casa", conta Elias.
No dia a dia, os pais relatam que Felipe e Fábio são crianças como todas as outras, que brigam como irmãos, como eles também brigavam em família e que fazem arte.
Por serem grandinhos, as dificuldades estão na hora de impor limites. "Não é fácil, mas é possível. O que ajuda muito são os grupos de apoio à adoção, que a gente já participava. Ali você vai vendo e tendo uma noção e não se fala mais adoção tardia e sim, adoção na hora certa", explica Elias.
E como foi explicar aos filhos que eles teriam dois pais? "A gente sentou e conversou. Perguntamos se eles sabiam o que éramos, e o Felipe [mais velho] falou: namorados. O Fábio foi mais discreto...", brincam os pais.
Em casa, o casal explicou que na escola eles poderiam ter dificuldades quanto a isso. "Mas dissemos que a gente respeita todo mundo e para eles estarem preparados", resumem. E por enquanto, as atividades preferidas são aquelas em que a família toda se reúne. "A gente joga um colchão na sala, vê um filme, monta quebra-cabeça, coisas que nos unem. Um costume que a gente não tinha e hoje armamos uma mesinha para tomar café da manhã, almoço e jantar", descreve Elias.
Do trabalho do casal, vai sair um chá solidário com presentes para os meninos dos colegas de Elias, enquanto a chefe de Lucas, deu o jogo de quart completo para que a família possa curtir ainda mais este momento.
E durante a entrevista, o caçulinha dorme no colo do pai Lucas. Mais tímido, Felipe, de 10 anos, fala que está no 4º ano D da nova escola e que está gostando. As perguntas são respondidas com "sim" e sempre voltando os olhos para os pais. Sobre ser adotado ele disse que gostou e até chorou.
E o que mais gostou de casa? "Meus pais ué" e a resposta do menino emociona os pais. O que ele tentou ensinar a eles foi jogar bafo, brincadeira que Felipe mais gosta. O sonho de criança é se tornar jogador de futebol, enquanto o irmão quer ser juiz.
"É sonho, os pais sonham juntos e vamos fazer de tudo para realizar", garante Lucas. O marido emenda dizendo que apesar deles não serem ricos, vão se esforçar para correr atrás e dar tudo o que os meninos sonham.