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Comportamento

No Dia do Radialista, nunca a profissão esteve tão em alta

Ângela Kempfer e Elverson Cardozo | 07/11/2012 16:02
Dias de hoje, Fabrício Barreto, um dos novos na FM.
Dias de hoje, Fabrício Barreto, um dos novos na FM.

O novo prefeito é radialista, o vereador recém eleito é radialista, o deputado já das antigas também é. A profissão romântica, sempre reverenciada pela contribuição com a cultura e a divulgação em tempo real de informações fundamentais, nunca esteve tão em alta em Campo Grande.

Alcides Bernal durante anos apresentou o Refazenda, na FM Cidade. Venceu a eleição para vereador, depois para deputado, agora para prefeito e mesmo assim ainda anda falando que tem saudade da função.

Essa história de apresentador de rádio virar político ganhou até polêmica este ano, depois de discurso inflamado do ex-presidente Lula. “Não há na história deste país radialista que distribui cadeira de roda, dentadura, que tenha dado certo como prefeito de uma cidade”.

Bem, isso só o tempo dirá, mas o fato é que a audiência ainda faz muita gente vingar na política. Hoje, quem quer ganhar votos, trata de comprar um horário nas rádios da cidade para começar a convencer sobre supostas boas intenções.

Na história da rádio de Campo Grande, poucos são tão conhecidos como Juca Ganso. Hoje, aposentado, ele vive na periferia de Campo Grande com a filha. Carlos Achucarro, nome de batismo, começa o dia anunciando “o melhor programa de utilidade pública do Centro Oeste”.

Foram mais de 20 anos no mesmo programa. Pediu afastamento, ficou outros 5 anos fora e depois voltou para terminar a carreira dando o último aviso da “Hora do Fazendeiro”.

Muito tempo passou, veio a internet, as mídias sociais ganharam força, mas nada substitui a rádio.
As emissoras passaram a priorizar a propaganda e lançar o que o mercado dita. Hoje, a maioria toca a mesma coisa, mas na hora da conversa com o público, apresentador que sabe fazer diferente, passa a ser conhecido.

O problema é quando os radialistas de carreira perdem o espaço para quem quer votos. Julio Marcos dos Santos, o Brejinho, já foi uma das vítimas, mesmo depois de 11 anos como locutor. “Em 2000, o Ribeiro (vereador) comprou horário na antiga Rádio Educação Rural e eu tive de sair do ar”, conta.

Ele só conseguiu retornar anos depois e hoje completa 23 anos na apresentação do programa “Rancho Caboclo”. Saudades ele tem da época do pai, o famoso Zé do Brejo, que dedicou 30 anos ao rádio. Tempos em que a profissão surgia por amor. “Hoje tem muito oportunista. Exigir DRT (registro profissional) em Mato Grosso do Sul é balela”, reclama.

Mas a profissão não perde interessados e gente nova chega a cada dia. Para quem começou há menos tempo, a lição de casa é estar sempre bem informado. Fábio Barreto, da Blink, garante que só ter aquela voz de locutor não adianta. "O radialista de hoje tem a função de ser bem informado, falar línguas , não basta ter só um vozeirão".

Ciro de Oliveira, com 47 anos de experiência.
Ciro de Oliveira, com 47 anos de experiência.

Radialista também das antigas, Ciro de Oliveira, de 60 anos, é apaixonado pelo que faz. Está na rádio desde os 13 anos, quando conseguiu o primeiro emprego, como “garoto de recados”, na Educação Rural.

O convite, pelo gerente da empresa, surgiu por acaso, em uma lanchonete onde trabalhava. A primeira função foi como sonoplasta. “Eu sempre ouvi muita rádio quando era criança, antes mesmo de entrar na Rural”, conta.

Hoje, o radialista - que também é jornalista, coleciona experiência como programador, locutor e apresentador. É responsável por dois programas na 104 FM, rádio governamental em Mato Grosso do Sul.

De segunda à sexta-feira, das 8h às 11h da noite, faz o “Toque 104”, programa que leva ao ouvinte a MPB (Música Popular Brasileira), sucessos regionais e vozes de quem ainda está despontando no cenário musical.

No domingo, das 8h às 12h, tem o “Encontro de Gerações”, que resgata “parte da história de todos os tempos”, como costuma dizer. São sucessos de décadas passadas, dos anos 50, 60, 70, 80..., explica.

Há 17 anos na FM 104, Ciro de Oliveira tem boas histórias para contar, de ouvintes fiéis que deixam a televisão para sintonizar o rádio. Como radialista, um das recompensas é receber o carinho de quem está do outro lado, comenta. “Eu tenho um ouvinte que é down e aprendeu a falar alguma coisa ouvindo o rádio”, conta.

Para quem pensa em seguir carreira no rádio, vai um aviso de quem tem quase meio século de experiência: “Tem que gostar música, gostar do público. Fazer rádio não por achar bonitinho e ter uma bela voz. Para o radialista, não pode faltar sensibilidade, emoção e imparcialidade”.

Para esclarecer - Os radialistas têm atualmente duas datas para comemorar. O 21 de setembro sempre foi o dia da homenagem, mas lei de 2006 estabeleceu o 7 de novembro como o Dia do Radialista no Brasil.

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