Padre e pastor dividem o altar para casamento entre católico e evangélica
Laura é evangélica e Paulo é católico. No dia 24 de outubro, no pôr do sol, os dois levaram o respeito que mantinham há 3 anos e 3 meses para o altar, em uma cerimônia ecumênica repleta de significado não só para o casal, mas para quem acompanhava o encontro e celebrava a união.
Com um vestido branco, como manda a tradição, e ao lado da filha e dama de honra de 17 anos, Laura contou, minutos antes de subir ao altar, que optou pela cerimônia ecumênica como uma forma de provar que é possível, com dedicação, que o amor floresça em meio as diferenças.
“Existe tanto respeito eu com ele pela religião dele e ele comigo, nós tínhamos que mostrar para todos que é possível, porque existem tantas regras, tantos tabus, 'se não for da mesma religião não vai dar certo'... e está dando”, diz, emocionada.
O noivo confirma em meio ao nervosismo do dia, que desde o início os dois prometeram respeito um ao outro. “Sou católico e ela é evangélica. Desde o começo a gente já estipulou respeito. A religião nunca foi um problema”, diz.
Paulo Sérgio Santos da Silva, 30 anos, conheceu Laura Regina Paes Barbosa, 38 anos, no trabalho. Ela substituiu o então gerente de negócios, que havia pedido o desligamento do emprego para seguir com a carreira em outro local.
“Como eu tinha amizade com o pessoal do trabalho eu sai da empresa, mas continuei indo nas reuniões. Cerca de 15 dias depois teve uma festa junina e eu fui, ela também. Pedi para uma amiga falar com ela, dizer que eu tinha interesse e no primeiro momento ela não quis nada”, relembra o noivo.
Na época, Paulo não era tão bom partido assim. Avesso à namoros, ele não queria nada sério e foi sincero com Laura.
“Com duas semanas que nós estávamos ficando, um dia ela levantou e pediu para abrir o portão da minha casa para ela ir embora. Disse que estava gostando de mim, mas que por eu não querer nada sério, ela preferia acabar ali. Na hora, parece que Deus tocou meu coração e disse para eu aceitar aquilo. Começamos a namorar”, explica.
A partir desse momento foi o noivo que deu o ponta pé inicial em todas as outras fases.
“O casamento foi uma decisão tomada de comum acordo entre os dois. Eu sempre fui um cara que falava que não queria namorar, não queria casar e olha onde eu estou. As outras decisões fui eu que sugeri, de morar junto, de construir algo, queremos muito ainda, ter um filho nosso no futuro, ela já tem uma filha, que é minha filha também e agora queremos mais um”, planeja.
Laura conta que a ideia do casamento surgiu de forma inesperada. “Fomos a uma cerimônia de casamento que a noiva atrasou 2h30 e naquela situação ele começou a ficar encantando com tudo virou e disse 'vamos casar', na hora estranhei, mas concordei. Foi tudo muito rápido”, ressalta.
A cerimônia foi realizada na Morada dos Ipês para poucos convidados. A celebração ecumênica aconteceu ao ar livre, enquanto a festa ocupou o salão. A filha de Laura, então com 17 anos, precisou correr direto do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para o grande dia da mãe. Às 18h30, ela, que foi a responsável por levar as alianças a mãe e ao padrasto, ainda estava se maquiando. “Uma correria, loucura”, ri Laura.
Laura e Paulo já haviam se casado na igreja Nossa Senhora Aparecida na quarta-feira (21) e no sábado receberam a benção do pastor Dihego Flores Espindola, da Igreja Batista Nova Esperança e a benção nupcial do Padre Ricardo Alexandre Paganine, que também celebrou a primeira cerimônia.
Quem recebeu os noivos foi o pastor. Falando sobre o amor e agradecendo várias vezes a presença do padre Ricardo, Dihego demonstrou a todo o momento a importância do amor de Deus para o casal.
Durante os votos, que Laura e Paulo escreveram, Dhiego e Ricardo ficaram ao lado dos noivos, respectivos de cada crença. Por fim, os dois abençoaram a união.
“Existe sempre uma preocupação quando os noivos estão em comunidades cristãs diferentes. Quando eles me perguntaram, eu disse para eles nunca esquecerem que o princípio que nos leva a presença de Deus é o mesmo, Deus é pai, nos deu seu filho como caminho de benção e salvação. E nesse mesmo pai e nesse mesmo filho, e no seu espírito que deixou na igreja para caminhar, para evangelizar, que esses princípios sejam vividos. A lei divina é a mesma, se a doutrina nos difere com orientação com a igreja nos dá é para ajudar na nossa caminhada”, acredita padre Ricardo.
Já o pastor Dhiego diz que seria injusto com os noivos não celebrar a união com a presença das duas vertentes religiosas.
“É aquilo que a Laura queria demonstrar, podemos divergir um do outro, mas que na realidade somos todos cristãos, por estarmos com o mesmo Deus, não há porque estragar esse momento bonito com discussões. Viemos como ministros sermos benção na vida de duas pessoas”, diz.