Para conhecer quem mora ao lado, jantar reúne os vizinhos na Vila Margarida
Eles esperaram três anos até que fosse o momento certo. Aguardaram a construção e a entrega de uma das casas para que todos os vizinhos da rua estivessem presentes. Marcos e Maurício protagonizaram uma cena que nem em filmes e novelas se vê mais. Há duas semanas eles bateram de porta em porta convidando os vizinhos da região da Vila Margarida para um jantar, onde os dois seriam os cozinheiros e também os anfitriões.
A reunião foi para criar laços entre os moradores da rua Genebra que tampouco se conheciam. A troca de palavras se restringia a bom dia e boa tarde, dados no decorrer da chegada ou saída para o trabalho.
Paranaenses, mas moradores de Campo Grande há 10 anos, ele resolveram trazer um pouquinho do que viviam entre a família lá em Maringá, para o bairro. Uma tentativa de aproximar e acrescentar nomes aqueles cumprimentos por vezes tão impessoais, como um "bom dia Gislaine, como está o bebê?"
A ideia toda veio do educador físico Maurício Paulino da Silva, de 44 anos. “Eu convidei alguns vizinhos para esse jantar, porque no mundo de hoje as pessoas estão tão ligadas em Facebook e internet e tão individualistas, que esquecem um pouco esse lado da rua, dos vizinhos. A nossa família mais próxima são os vizinhos”, justifica. Quem já precisou de ajuda, socorro ou só uma xícara de açúcar entende a alegria de ter um bom relacionamento na vizinhança.
Outro incentivo para o jantar foi uma retribuição à solidariedade recebida. O co-anfitrião, Marcos Roberto dos Santos, de 44 anos, recorda do episódio da tentativa de assalto em casa, quando os vizinhos foram o primeiro socorro.
A data escolhida foi a última sexta-feira. Mas os convites foram feitos com duas semanas de antecedência justamente para garantir o maior número de pessoas. “A reação deles foi de surpresa e de felicidade, porque deu a impressão de resgatar aquele passado de reuniões de família. Eles inclusive perguntavam a gente tem que levar alguma coisa e eu respondi não, não precisa, nós que estamos oferecendo para vocês. Eles ficaram mais surpresos ainda”, descreve Maurício.
Dos vizinhos, faltaram apenas dois que tinham um evento no dia, no mais, 17 pessoas compareceram ao jantar que serviu bacalhau como prato principal. Embora tenha sido peixe o menu, o principal mesmo estava nas conversas. “As pessoas foram chegando e se cumprimentando, meu nome é fulano, mas você é daqui da frente? Olha eu nem sabia. Os que se conheciam, eram só por serem vizinhos de lado, mas não sabiam nomes, onde trabalhavam, da onde vieram, se eram daqui, do Paraná, de Santa Catarina e cada um contou a história da sua família e falamos sobre amizade”, conta Maurício.
O jantar foi oferecido na área de lazer da casa, no entanto, os anfitriões fizeram questão de mostrar a residência toda para os vizinhos. “Todo mundo acabou andando pela casa a gente queria mostrar como é, como vivemos, para as pessoas se sentirem parte”, completa Maurício.
O vizinho se empolga em descrever a cena como os antigos sarais, quando as pessoas visitavam umas às outras para tomar chá. A sensação boa da cena registrada em fotografia é sentida também pelo entusiasmo na voz e o brilho no olhar de quem ficou orgulhoso e ficou mais feliz em dar o jantar, do que os que receberam.
“É uma sensação muito boa, não que eu condene a vida de hoje, mas é tudo muito rápido. Conhecemos outras pessoas, aprendemos com aquelas de pouco mais idade”, resume.
Para Marcos, receber os vizinhos em casa foi criar intimidade. Antes do jantar ser servido, ele fez discurso, falou sobre amizade ao agradecer a presença de todos. “As pessoas sabem da dificuldade que é se encontrar, mas é importante poder ter esse tempo para se conhecer um pouco mais, conhecer a vida de cada um e tentar valorizar mais a relação real”, declarou Marcos.
A reação deles foi a mesma que Gislaine Gasparini, de 30 anos, compartilhou. Advogada, ela, o marido e dois filhos se mudaram há duas semanas para a rua. O jantar foi como uma recepção de boas vindas para quem mal recebia um bom dia na moradia anterior. “Morei dois anos num condomínio fechado de casas onde os vizinhos nem sequer se cumprimentavam. Eles são super receptivos, nos sentimos muito bem com a iniciativa”, comenta.
O fato de já ter confraternizado com os moradores da mesma rua trouxe a vizinha Fátima Ferreira, de 47 anos, uma cena inédita em 33 anos no bairro. “A gente achou legal, porque vizinho quase não se encontra, então é uma recepção muito boa”.
Do jantar já ficaram os planos para uma festa junina com direito à rua fechada. Histórias assim fazem a gente querer ter Marcos e Maurício como vizinhos.