Pedreiro sem mão e pintor na cadeira de rodas são "os caras" em canteiro de obra
Em um dos principais condomínios de luxo de Campo Grande, não são apenas as construções que chamam a atenção. Quem está construindo também. Um dos pedreiros não tem uma das mãos e o pintor assume as paredes em cima de uma cadeira de rodas.
É mais uma daquelas histórias de pessoas comuns, que trabalham independente da condição física, mas que no canteiro de obras são sempre bons exemplos citados pelos colegas.
O pintor Magno Ferreira Ribeiro, de 31 anos, aprendeu o ofício ainda quando criança, aos 12. Cadeirante desde 2009, ele foi vítima de uma bala perdida que o acertou nas costas, em uma conveniência no bairro Nova Lima. Quando se recuperou, não teve outra escolha a não ser seguir a vida.
Magno tem duas cadeiras de rodas. Uma “social”, para os eventos com os amigos e a família, e a outra para usar durante o trabalho. Ele conta que todo o serviço é feito em cima da cadeira e para um rendimento melhor, trocou o banco almofadado pela madeira. Mesmo sem conforto, ele não reclama e explica que o mais importante é a qualidade: “Fica mais firme e tem que ser resistente”.
O pintor diz que mesmo na cadeira consegue pintar de “tudo" e bem. Fez adaptações nos pincéis para alcançar qualquer ponto, até os mais altos. Quando precisa se locomover, os colegas de trabalho o ajudam a andar pela obra. A única limitação, "ainda", é não conseguir pintar usando andaimes.
Só obra grande - Para o pedreiro Firmino Sorrilha, de 44 anos, não ter uma das mãos não é problema na hora de pegar no “batente”, nem motivo para diminuir o ritmo. Como qualquer profissional competente, vai carregando o que for preciso sem dificuldade. É defensor daquela máxima: “Quem quer, arruma um jeito. Quem não quer, arruma uma desculpa.”
Ele conta que nasceu sem a mão esquerda e desde os 17 anos, quando veio morar em Campo Grande, trabalha com construção civil. Sem falsa modestia, garante: “Não tem nada que eu não faça”.
Ganhou o respeito não pela condição física, mas pelo cuidado com o acabamento de pisos, de azulejos. Por isso, hoje, é responsável pela equipe.
“Todo mundo fica curioso, mas se acostuma e acaba gostando do trabalho. Tenho bastante cliente, e só faço casa grande”, diz orgulhoso.