Preso após "gritaria" na igreja, pastor diz que fiel é empolgado, não criminoso
Foram 2 horas entre a chegada dos policiais e a saída de Cosmo Thiago Ferreira, de 36 anos, da delegacia. Ele é pastor e aquele tempo correu como eternidade, diz ele sobre a prisão por um crime que jura não ter cometido. O motivo da prisão foi a barulheira na igreja que administra, no bairro Silvia Regina, o que muito vizinho procura em Campo Grande, quando não aguentam o que consideram gritaria dos templos religiosos.
O pastor pagou pelo que as pessoas já estão cansadas de reclamar pela cidade, sem resposta positiva: os exageros da poluição sonora.
Cosmo afirma que isso não é real, é sim perseguição contra a fé que empolga. “Não foram os vizinhos que reclamaram, foi apenas um vizinho. Nem o que mora em cima da igreja reclamou. Se for ao outro lado da rua, ninguém ouve nada. Eu percebo que é perseguição”, declara.
A situação incomodou tanto que acabou virando barraco e caso de polícia. Ele descreve que estava finalizando o culto quando cerca de 6 policiais chegaram dando voz de prisão. “O policial invadiu a igreja e disse que eu estava detido. Eu perguntei o motivo e ele questionou se eu estava resistindo. Outro policial pegou e me arrastou para dentro do camburão. Acho que o meu único erro foi ter perguntado o motivo”, se justifica.
Cosmo, nega que tenha se recusado a diminuir o volume e desacatado os policiais, conforme consta no boletim de ocorrência. Ele afirma que isso não existiu e que a polícia já chegou intimidando. “Não gastaram nem 20 minutos para me prender. Eu pedi para uma fiel fazer imagens do momento que estavam menosprezando a minha pessoa. E elas também acabaram sendo presas", descreve.
O pastor diz que na igreja há microfones e caixa de som, como em qualquer outra. Admite que as pessoas sobem mesmo o tom, mas compara com outros locais. “Na boate você grita. Mas oração não é gritaria. Eles entendem dessa forma, porque nós não nos intimidamos em falar com Deus. Não falamos em pensamento como em outras religiões, nós conversamos, não contemos a emoção e como são várias pessoas, acabam entendendo como gritaria”, justifica sobre o barulho apontado.
Toda a situação não impediu que o culto acontecesse normalmente no dia seguinte, no entanto trouxe a vergonha para quem é pai e lida diariamente com os fiéis. “É vergonhoso, eu tenho uma família e a sociedade que recebo na minha igreja. Vi meu nome sendo esparramado e pessoas comentando, falando coisas que às vezes não compreendem como realmente acontecem”, lamenta.
Ele garante que toma cuidado para evitar incômodos, e não vê motivos para tanta desavença. “Nós medimos os decibéis na igreja, eu sei que estamos dentro do limite. Tive igrejas em outros lugares e aconteceu as vezes do som estar alto, mas teve conversa e a gente diminuiu. Isso que aconteceu comigo foi a primeira vez, em 20 anos como pastor eu nunca tinha passado por isso. Mas vamos fazer o melhor para evitar essa situação novamente”, relata.
O Lado B entrou em contato com os vizinhos que fizeram a denúncia. No entanto, eles não quiseram ser identificados, mas falam que o barulho ficou insuportável. “Já falei com os membros várias vezes, a gente pede para regular o som. Porque a gente não pode assistir uma televisão, não pode fazer um estudo, porque até dentro do nosso quarto de portas fechadas é impossível da gente assistir qualquer coisa”, afirma à moradora.
Alegando que houve despeito e grosseria por parte do pastor, ela diz que, mesmo depois da prisão, o problema segue. “Ele continua usando o microfone e tem um tom de voz muito forte, pelo tamanho do salão, não tem necessidade de ligar nenhum aparelho ali dentro. Se vizinho está satisfeito, eu estou falando por mim e pela minha família que está sendo perturbada. Pra mim não se trata da palavra de Deus, se trata de sossego”, afirma.
Outros vizinhos preferem não se indispor nem com uma parte, nem com outra. Heitor Esperatto, dono de uma pizzaria ao lado da igreja, afirma que não se sente incomodado, mas se coloca no lugar do outro morador. “O que eu entendo é que a caixa de som não é virada para o meu comércio, por isso não me incomoda”, afirma.
Outra vizinha, que também prefere não ser identificada, descreve a cena que viu durante a prisão. “Olha, foi um barraco... Eu estava aqui na frente. O barulho não é tanto assim, não sei o que aconteceu para ele ser preso, mas moro na frente e não me incomoda nada. Não sei se pra outro lado o som sai de outra maneira”, comenta.