Turma encanta ao dançar quadrilha sentada, como Manuella na cadeira de rodas
O exercício prático de se colocar no lugar do outro. No último sábado, crianças do Jardim III, que têm entre 5 e 6 anos, praticaram a empatia sem nem ao menos saber o que o nome quer dizer. Durante a dança da quadrilha na festa junina da escola Nova Geração, uma das coleguinhas que está na cadeira de rodas teve companhia das outras meninas. A professora ensaiou a turma toda para dançar com as mãos e braços. O resultado encantou quem assistiu e emocionou a mãe.
Manuella tem 5 anos, um sorriso lindo e uma espuletice típica da idade. Vê graça até em estar numa cadeira de rodas. "Eu sei girar, rodar, olha, olha", demonstra a pequena. A família descobriu com 2 anos e 8 meses que a menina tinha displasia no desenvolvimento do quadril e desde então essa já é a terceira cirurgia pela qual ela passa e exige repouso.
A cadeira é temporária, só seis semanas, para que ela "sossegue" um pouquinho e deixe o corpo se recuperar. Mas o período já foi suficiente para colher frutos da experiência na escola e na família.
"Ela levou de boa, voltamos da viagem da cirurgia num domingo e no dia seguinte ela já queria vir na escola. Para ela, a cadeira de rodas é brincadeira", conta a mãe, Terezinha Pereira Araújo, de 40 anos. Terezinha já é formada em Pedagogia, mas depois do problema da filha, começou a cursar Fisioterapia.
Quando o bilhete avisando da quadrilha chegou na agenda, a mãe perguntou se a menina queria dançar, mesmo na cadeira. Claro que a resposta foi positiva e ela então questionou a possibilidade na escola. "Eles disseram que ia arranjar algo que fosse acessível para ela dançar. Eu imaginava que ficaria lindo mesmo, porque ela gosta muito", descreve a mãe.
Para a menina, o "diferente" da quadrilha não foi nem a cadeira de rodas. Foi o vestido. "Colorido, eu que escolhi", diz Manuella. A cadeira também ganhou adereços, fitas e rendas feitas por Terezinha.
Professora Kemmy Rocha de Caravalho, de 32 anos, foi a responsável por arquitetar, junto da coordenação e direção da escola, uma coreografia que atendesse Manuella. "De início não foi fácil, era diferente, eu nunca tinha feito. As músicas das apresentações são sempre agitadas, mas não era um empecilho", conta Kemy.
A mestre levou em conta o conforto e bem estar da aluninha e dos demais, para que todo mundo se sentisse à vontade na dança. A música escolhida foi um forró das antigas, onde as meninas se sentavam em cadeiras e os meninos, como espantalhos, estavam adormecidos.
Lúdica, colorida e encantadora. Foi assim que seguiu a quadrilha do Jardim III. "Colocamos as cadeiras para que todas, de início, ficassem iguais. Quando movimentava, eu levava ela. Mas trabalhamos mais os braços e as mãos.
Na caixa estava o espantalho, os meninos adormeciam e para despertá-los, foi ela quem tocou na cabeça de todos", reproduz Kemmy.
Manuella foi novidade na escola durante todo o mês de junho e ainda será até metade de julho, por conta da cadeira. "Todos perguntavam por que, foram rodas de conversa na sala para explicar que era uma cirurgia e era temporário, mas neste momento eles querem é ajudá-la", descreve a professora.
Para organizar as crianças, toda saída da sala é em fila, mas dessa vez na imaginação deles, todos saem num trem onde Manu com a cadeira é a maquinista.
A quadrilha, no fim das contas, rendeu elogios, a ponto de ser eleita, por Manu, como a melhor de todos os anos. "Ela gostou tanto que disse: - mãe, acho que esse foi o melhor ano, de ter dançado na cadeira, foi o mais bonito", repete Terezinha a comemoração da filha.