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Comportamento

A graça de um programa bem campo-grandense: ver aviões no aeroporto

Ângela Kempfer | 25/01/2012 13:06
A família de Fábio Júnior espera a chegada de algum avião.
A família de Fábio Júnior espera a chegada de algum avião.

Em plena segunda-feira, com sol de rachar, famílias estacionam na avenida Duque de Caxias por volta das 16h para um programa bem campo-grandense: acompanhar pousos e decolagens de aeronaves no Aeroporto Internacional.

A mania já fez a prefeitura até pensar em construir um mirante na região, mas não foi preciso. O calçadão da avenida é suficiente. Quem passa e não para, deixa o comentário: “Que graça tem isso?”, diz o auxiliar de pedreiro Josiney Gonçalves, de 25 anos.

“Acho que é porque Campo Grande não tem nada para fazer. Só isso explica esse programa de índio”, avalia a diarista Jussara Santos, de 53.

O funcionário público Alberto de Araújo, de 55 anos, e a esposa Maria, levaram biscoito salgado e jornais para esperar a chegada e partida dos aviões. Ele, um carioca sorridente, admite algumas manias estranhas. “Antes eu ia para a rodoviária, ver os ônibus chegando. Mas fechou e a nova é muito longe. Então venho no Aeroporto”, explica.

A esposa tenta encontrar motivos para a diversão inusitada do marido. “Acho que é saudade do Rio de Janeiro. Ele fica imaginando que também vai viajar”, sorri.

Os dois moram em Campo Grande desde que o filho militar foi transferido para cá, há 15 anos. “Vim deixar ele aqui e chorei o caminho inteiro de volta para o Rio. Então decidi mudar para cá também”.

Dois anos depois da mudança, o rapaz foi para outra cidade, mas os pais e a irmã ficaram. “Eu gosto daqui”.

Alberto e a esposa, em um dia do lado de fora do Aeroporto.
Alberto e a esposa, em um dia do lado de fora do Aeroporto.
A frente, a pista.
A frente, a pista.
O vendedor de coco encontrou um point para ganhar dinheiro.
O vendedor de coco encontrou um point para ganhar dinheiro.

Ao lado do casal, a tia Sirley acompanha a felicidade do sobrinho Alisson, de 7 anos, ao ver um helicóptero sobrevoar a Base Aérea. “Já vi helicóptero, avião e agora só falta um jatinho”, conta.

O garoto mora em Bonito, está de férias em Campo Grande, “morre de medo” só de pensar em entrar em um avião, mas adora assistir decolagens.

Nem a hipótese de uma passagem de graça para Disneylândia faz Alisson pensar em subir em uma aeronave. “Vai que cai comigo e eu morro”, justifica com uma risada nervosa.

A dona de casa Marília Castro, antes de sair do bairro São Francisco, viu pela internet os horários das decolagens, para não perder o "espetáculo". Trouxe minhas filhas porque elas adora. Parece cinema", diz a mão abraçada a Ana Júlia, de 3 anos e Raphaela, de 6.

No estacionamento, o vendedor de água de coco diz que encontrou um super point para ganhar dinheiro. Ele conta que muita gente para correndo quando percebe que um avião vai decolar e, sem dúvida, a maior atração são as aeronaves.

“Tem dias que são mais de mil pessoas aqui. É uma festa de família, até às 8 da noite. Depois começa o funk e a coisa fica mais pesada”, relata José Roberto.

Fábio Júnior Menezes levou a tia e os primos para o programa do lado de fora do Aeroporto. Com tereré, biscoitos e um tapete de crochê, o grupo de 7 pessoas parece na beira da praia, em um conforto preguiçoso.

“A graça aqui não é ver os aviões, é sentar e sentir esse ventinho. O ar fresco compensa”, argumenta o rapaz sob a sombra de um pequeno coqueiro.

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