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Comportamento

As histórias de quem tem Natal na Carteira de Identidade

Ângela Kempfer | 25/12/2011 08:30
Natalício e a esposa, após 62 anos de casamento. (Foto: João Garrigó)
Natalício e a esposa, após 62 anos de casamento. (Foto: João Garrigó)

Em busca de boas histórias sobre o Natal, a lista telefônica é a fonte fácil para encontrar Natalícios, Natalinas e Natais, centenas de pessoas que ganharam nomes em homenagem à data. A maioria por ter nascido entre os dias 23 e 25, outros por motivos comoventes.

Natalício Caiçara faz aniversário no dia 23. Para comemorar os 85 anos, ganhou o almoço predileto em Campo Grande: macarronada com frango caipira. Sem ouvir muito bem, vai respondendo as perguntas aos berros, mas muito bem humorado, sentado na cadeira em frente á casa no bairro Jacy.

“Sou feliz, tenho saúde nesta idade e festa todo o ano. Ganho um monte de presente”, justifica, também lembrando dos 62 anos de casamento.

O nome não deu muita sorte na infância, lembra o aposentado. Nascido em Alagoas, diz que passou fome com a família na roça e então os pais e os 12 irmãos deixaram o nordeste para morar em Campo Grande.

Natalício virou pedreiro e, mesmo com a vida humilde, conseguiu “uma família unida e alegre”, comenta.

O xará, 32 anos mais novo, nasceu na véspera de Natal. Natalício Antônio Ribeiro para os amigos é “Natal”. A dificuldade quando criança era fazer festinha, pelos compromissos dos colegas com a família no fim de ano. “Todo mundo sempre tinha outra festa para ir”, lamenta.

Natalina Bezerra diz que já se acostumou. “É sempre um presente só, pelo Natal e pelo aniversário”. Neste fim de ano ganhou dinheiro como presente e já aproveitou. “Comprei muita coisa para mim, sapatos, roupas...”

O parto foi bem no dia 25, ao meio-dia. “Minha mãe não esperava, estava almoçando”, conta. A funcionária pública de 48 anos avalia não ter do que reclamar da vida. A filha de 22 já esta no sexto semestre do curso de Direito e o filho de 16 anos cursa o Ensino Médio. “Nunca me deram trabalho, só isso já é sorte.”

Natal mostra recorde de jornal com reportagem sobre o tio.
Natal mostra recorde de jornal com reportagem sobre o tio.

Ressurreição - Uma tragédia familiar, mas orgulho nacional, é o motivo do nome de Natal Baglioni Meira Barros. Ele nasceu em setembro, no dia 13, 15 anos depois do assassinato do tio Natal Meira Barros, nascido no dia 25 de dezembro.

O pai resolveu homenagear o irmão, morto pelas tropas do presidente Getúlio Vargas, durante a Revolução Constitucionalista de 1932.

O rapaz, estudante de Direito no Largo de São Francisco, em São Paulo, foi assassinado aos 18 anos durante confronto em Pinheiros, ao tentar evitar a entrada dos militares.

“Getúlio Vargas virou presidente, depois ditador e cancelou a Constituição. Prometeu que faria outra, não fez e os paulistas se revoltaram”, contextualiza Natal Baglioni, engenheiro agrônomo e atual secretário de Desenvolvimento Econômico, de Ciência e Tecnologia e do Agronegócio da prefeitura de Campo Grande.

O estopim para a revolução foi a morte de outros 4 universitários em praça pública, durante manifestação contra Vargas. Os mortos ficaram famosos pelas sigla das iniciais dos nomes MMDC: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo.

Como a maioria dos estudantes naquela época, o tio entrou para a resistência como voluntário, sem comunicar a família que só soube do envolvimento do jovem quando Natal morreu, alvo de uma rajada de metralhadora.

Na última carta escrita por ele, reproduzida em recorte de jornal guardado pelo sobrinho, Natal fala com entusiasmo sobre a luta “por São Paulo” a um amigo de nome João. “Na primeira noite me acostumei com o barulho da metralhadora e nada mais me amedronta...Temos um canhão 75 e muita munição...”.

Após a assinatura, no P.S da correspondência, o rapaz lembra que ainda não havia conversado com a família e pede ao amigo: “faça o favor de ir a minha casa e consolar bastante a mamãe.”

O tio virou nome de rua em São Paulo e em Piracicaba, onde nasceu, além de voltar simbolicamente na vida do sobrinho. “O nome tem dado sorte até hoje”, garante Natal Baglioni.

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