Manicure troca carro “do ano” por Variant 1970 e atende com uniforme vintage
Quinta-feira, 30 de outubro. 18h44. Voltando para casa, parado em um dos semáforos da Avenida Joaquim Murtinho, em Campo Grande, a imagem de uma Variant bege, envelopada com os dizeres “Ligue Manicure – 15 anos embelezando unhas”, e ilustrada com a foto de uma pin-up, chamou minha atenção.
De dentro do meu carro tentei ver o (a) motorista, mas como estava em um posição desprivilegiada, a uns três metros de distância e na faixa oposta, só dei conta de perceber que era alguém de cabelo curto, um homem talvez. O sinal abriu rápido.
Engatei a primeira e saí, mas, antes disso, fotografei a cena para, depois, ligar no número que completava o anúncio fixado nas laterais e no vidro de trás. Aquele carro, pensei, teria alguma história. E tem mesmo, descobri essa semana, quando liguei e, do outro lado da linha, Karen Gonçalves Campos, de 34 anos, me atendeu.
É ela quem dirige a Variant. E é ela, também, que encarna o estilo vintage, na figura de uma manicure de sorriso aberto, cheia de personalidade, toda estilosa, de cabelo preto curtíssimo, com tatuagem de Fusca vermelho na perna direita e joaninhas em meio a ramalhetes, desenhados no braço esquerdo.
O uniforme, composto por uma blusa florida, avental verde e sapatilhas pretas, dá ainda mais originalidade à mulher, que carrega, no meio do peito, um crucifixo e, do lado esquerdo, o próprio nome, em um crachá retangular de aço inoxidável.
Karen roda Campo Grande assim há um ano, desde quando decidiu trabalhar sozinha, “fazendo unhas” de casa em casa. A nova forma de atendimento é, de certa forma, novidade para ela, mas é a concretização de um sonho antigo.
A mulher aprendeu a profissão com a mãe, também manicure, aos 13 anos, e por 15 trabalhou com ela, na própria residência, e em salões conhecidos até que, em 2013, resolveu empreender e criou o “Ligue Manicure”, para atender as clientes em casa.
A ideia deu certo e saiu do jeitinho que ela pensou. “É um sonho meu desde criança e que está materializado hoje. Eu queria um carro antigo, uniforme retrô, com crachá. Também queria prestar um atendimento no modelo antigo, de eu chegar, fazer a unha e pintar, sem fazer desenhos”, conta.
Karen é uma manicure “das antigas”, tradicional, mas super moderna. O uniforme romântico, com detalhes floridos, foi ela quem desenhou e pediu para uma costureira fazer. O carro retrô foi adquirido em um “rolo” que, para muita gente, parece loucura.
A mulher trocou o Citroën C3 (2006, completo) que tinha pela Variant, fabricada em 1970. São 36 anos de diferença, mas ela não se arrepende.
“Saí perdendo, mas foi por amor. Esse carro é minha cara. Não tem outro. É do jeito que sonhei”, diz, ao comentar que, por muito tempo, buscou um Fusca vermelho, do pai, que a mãe havia vendido quando o marido faleceu. Como não encontrou, se contentou em tatuá-lo na perna e em em dirigir outro modelo.
A Variant, por si só, chama a atenção porque é um carro antigo, difícil de achar circulando. Envelopado, com a marca de Karen em detalhes na cor roxa, atrai ainda mais curiosos. “O povo tira foto, oferece dinheiro nele. Já chegaram a oferecer R$ 13 mil e 15 mil, mas eu não vendo não”, avisa.
Dá problema? “Dá sim, mas já estou aprendendo a resolver sozinha. O que mais acontece é arrebentar cabo de acelerador, de freio, mas são coisas fáceis de colocar. É só dar uma parafusadinha. Dou conta. Só pneu que não troco”, diz.
Karen não pega no macaco e nem na chave de roda, mas domina muito bem o alicate de tirar cutícula e as outras ferramentas, que carrega na parte de trás do carro.
Com ela não tem moleza. A manicure, quando chega para trabalhar, desce com a “tralha” toda, sobe escada carregando a maleta de esmaltes, a cadeira e outro suporte . O esforço faz parte da rotina e, no fim, gera bons resultados. “Perdi 15 quilos depois que comecei a trabalhar”, conta.
O importante, para ela, é fazer o serviço direito. “Gosto de fazer unha. É uma coisa que amo fazer. Adoro ver pé e mão bem feitos e as transformações que faço. É uma satisfação e sinto que minhas clientes ficam muito felizes. Chego a mudar o humor de uma pessoa fazendo as unhas dela”.
Cliente dela há aproximadamente 7 meses, a pedagoga Ana Carla Gomes Rosa, de 39 anos, só tem elogios e diz que a profissional se destaca pela originalidade. “Ela é toda descolada. Trocou o carro para se adequar à realidade dela. Eu gosto”.
Karen mais ainda. Ela já chegou a fazer outra coisa. Por um tempo, na adolescência, trabalhou como vendedora, mas descobriu que gosta mesmo é de “fazer unhas”.
“Muita gente pensa que as pessoas viram manicure porque não deu certo em outra coisa e não é assim. É uma questao de ser e estar. Eu sou. Eu não estou manicure. Nunca pensei em fazer outra coisa”, garante.
Serviço - A manicure atende apenas mulheres e trabalha de terça à sábado, das 7h30 às 18h. Pé e mão sai por R$ 40,00. Agendamentos devem ser feitos pelo telefone (67) 9195-3535.