A SNK leva a magia da marca para os portáteis em 98 com o Neo Geo Pocket
No capítulo anterior de nosso especial História dos Videogames falamos sobre o Dreamcast, último console lançado oficialmente pela SEGA, em 1998. Mas esse ano marcou também uma disputa interessante entre consoles portáteis. De um lado, a Nintendo e sua poderosa marca Game Boy, com o lançamento do Game Boy Color. De outro, uma gigante dos arcades buscava pela primeira vez na sua história um lugar ao sol nesse mercado: a SNK, que lança o Neo Geo Pocket.
O console, que tinha como processador principal um Toshiba de 16bit, seguiu o caminho oposto da linha Neo Geo de consoles de mesa e arcades: enquanto estes representavam o que havia de mais poderoso na tecnologia gamer (e cobravam caro por isso) quando foram lançados, nos portáteis a SNK resolveu adotar a linha do time que estava ganhando, no caso o “team Nintendo”: produzir um console de baixo custo, sem um hardware extremamente poderoso, mas que pudesse divertir muito e também gastar pouca pilha (algo que a história demonstrou ser fundamental para um portátil ser bem sucedido na década de 90).
Só que a Nintendo não estava nem um pouco afim de perder a coroa. Então, uma semana antes do lançamento do Neo Geo Pocket, chega ao mercado o Game Boy Color, trazendo cores ao portátil da Nintendo. Isso causou um baque tremendo no pequeno console da SNK, que já chegava ao mercado com cara de obsoleto. Mas a empresa agiu rápido e cinco meses depois lançou o Neo Geo Pocket Color, trazendo cores ao aparelho. Os jogos lançados para o console preto e branco (apenas 10) são compatíveis com o novo console, mas o oposto nem sempre acontecia.
Então, apesar de renovar as chances do novo console no mercado, o fato do Neo Geo Pocket preto e branco ter sido descontinuado tão rapidamente (apenas cinco meses de mercado) e que apenas cerca de metade dos lançamentos coloridos rodavam no Neo Geo Pocket preto e branco deixou uma impressão ruim no mercado e em especial para aqueles que investiram no console. Imagine você ter um console praticamente abandonado em apenas cinco meses? Mas foi um movimento necessário. Com a versão preto e branco a SNK não tinha nenhuma chance de competir com o pequeno gigante Game Boy Color. O que faltou à SNK foi um melhor trabalho quando o console estava sendo desenvolvido, momento em que ela tinha a chance de investigar e avaliar os concorrentes para poder tomar as melhores decisões. Enfim, não sabemos se foi falha da SNK, mérito da Nintendo ou as duas coisas.
Uma coisa é fato: essa má impressão não tira o fato do Neo Geo Pocket (agora em sua versão Color) ser um excelente console. Conseguia fazer coisas que o Game Boy Color jamais faria, graças ao melhor hardware e ao número três vezes maior de memória RAM. Gráficos mais bonitos, personagens maiores, fluidez de movimentos e efeitos sonoros com boa qualidade. Tudo isso estava incluso no pacote. Mas aí o nobre leitor pergunta: mas Edson, diante de todas essas qualidades, onde foi que a SNK errou? Na sua inabilidade em agregar apoio, principalmente de outras softhouses.
As grandes franquias da SNK estavam todas presentes em abundância no pequeno console: Metal Slug, Samurai Shodown, Fatal Fury, The King of Fighters e várias outras, todas com excelentes versões. Jogos da SEGA como Sonic e da Capcom como SNK Vs. Capcom, também deram as caras. Mas era pouco, diante do suporte massivo que a Nintendo recebia, com todas as grandes franquias, de praticamente todas as grandes desenvolvedoras de jogos. Os consumidores começaram a perceber que apesar de ter uma proposta diferente, o console também acabava sendo de nicho: era voltado praticamente para os fãs das franquias da SNK e isso significa também pouca diversidade nos estilos de jogos lançados. Como exemplo, os jogos de RPG, gênero cada vez mais popular em todo o mundo, eram raros para o sistema (a SNK não tinha tradição no gênero). E isso afastava quem não estava acostumado com o mundo Neo Geo.
Ainda havia a falta de apoio para distribuição de seus produtos, o que era algo natural, tendo em vista que a penetração no mercado de videogames da SNK fora do Japão era pequena, principalmente pelo fato do Neo Geo sempre ter sido um console para poucos – isso mudou um pouco com o Neo Geo CD, mas nessa época, o console já não representava mais o que havia de melhor na tecnologia gamer. Diante disso, o poder de barganha – e consequentemente de negociação – da SNK no mercado era infinitamente menor que o da Nintendo, em especial no mercado de portáteis, dominado com ampla margem pela Big N.
Em 2000, a SNK jogou a toalha e não resistiu à crise financeira pela qual passava. Foi então vendida para a empresa Azure, especializada em máquinas de apostas e Pachinko no Japão, que decidiu descontinuar o Neo Geo Pocket Color nos Estados Unidos e na Europa. No Japão o console ainda resistiu até 2001. No total foram vendidos aproximadamente duas milhões de unidades, somadas as versões preto e branco e colorida. O console marcou também a última aventura da empresa no mercado de hardware caseiro – em 2012 foi lançado o Neo Geo X, licenciado pela SNK, mas que não teve produção direta por parte da empresa.
Confira ao final da matéria alguns vídeos de jogos que fizeram a história no portátil da SNK. E assim encerramos mais um capítulo de nosso especial. No próximo, falaremos de outro console portátil com história e destino parecidos com o Neo Geo Pocket: falamos do WonderSwan da Bandai e também de sua versão colorida, o WonderSwan Color / Crystal.
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