Em 1993 chegava ao mercado o revolucionário (e também polêmico) 3DO
Na matéria anterior do especial “História dos Videogames”, falei sobre os primeiros videogames de 32bit da história, lançados bem antes do poderoso Playstation, que geralmente é o primeiro a vir à mente de todos. Na oportunidade mencionamos que o primeiro aparelho com essa tecnologia foi o Philips CDi. Vale aqui um adendo: o CDi utilizava um processador híbrido de 16 e 32 bit. Talvez por isso a história tenha negado a ele esse título de primeiro, né?!
Como já disse, além do CDi, também foram lançados o FM Towns Marty e o Amiga CD 32, ambos utilizando também essa mesma potência. Porém nenhum deles produziu impacto suficiente na indústria a ponto de chamar real atenção à nova tecnologia. Eis que em outubro de 1993 chega ao mercado o 3DO!! Console multimídia de 32bit que utilizava mídia em CD e prometia ser um centro de entretenimento completo para agradar a toda a família. Sentiu um “dejavú”? É uma história bem parecida com a contada pela Philips quando do lançamento do CD-i.
A ideia da 3DO Company, fundada pelo americano TripHawkins, famoso por ser fundador da ElectronicArts, uma das maiores softhouses ocidentais da história, era criar um novo tipo de hardware, que seria licenciado para que outras empresas o fabricassem, semelhante com o que acontecia com a tecnologia dos videocassetes, que foi criada pela JVC e esta fazia concessões (mediante pagamento de valores, claro) para que outras empresas produzissem os aparelhos. Portanto a 3DO Company não produzia hardware. Mas a empresa lucrava com a venda de cada aparelho 3DO. Um tempo depois do lançamento, a empresa implementou uma porcentagem a ser paga pelas softhouses sobre cada jogo vendido.
O erro inicial do 3DO foi o preço. O console chegou aos Estados Unidos sendo vendido a altíssimos 699 dólares, bem acima da concorrência. O alto preço era justificado pelo fato de que ao contrário das concorrentes (principalmente Sega e Nintendo) que geralmente vendiam os consoles por menos que o valor gasto para fabricação, buscando compensar a perda e lucrar com as vendas de softwares, os consoles da linha 3DO tinham que gerar lucro desde a venda dos consoles, caso contrário nenhuma fabricante teria interesse em fabricá-los.
Além desse lucro, era necessário também que o valor cobrisse a “taxa” que era paga para a própria 3DO Company. Percebendo que o preço atrapalhou demais as vendas iniciais do console, a Panasonic (criadora do primeiro modelo do sistema, o FZ-1) baixou o preço para 499 dólares menos de seis meses depois do lançamento. Além da Panasonic, outras empresas também produziram o aparelho, cada uma com seu modelo específico: Goldstar (a atual LG) e Sanyo.
O segundo erro da 3DO Company foi causado pela pressa: querendo aproveitar o fato de que os consoles da nova geração das gigantes do ramo ainda demorariam um pouco para serem lançados, e pressionados pelas grandes empresas parceirasdo projeto, o lançamento do 3DO foi bastante prematuro. Praticamente nada de software estava disponível, o que provocou um desânimo geral. Há relatos de muitos consumidores devolverem os aparelhos nas lojas por isso. Um queima filme muito grande.
Em 1994 o sistema começou a mostrar seu poder, principalmente pelas mãos da ElectronicArts. Oslançamentos de John Madden Football, Road Rash, Fifa International Soccer e The Need for Speed for aicônicos no aparelho. Todos eles eram jogos impressionantes para a época. Além deles, dois jogos de luta também fizeram sucesso: Samurai Shodown e principalmente Super Street Fighter 2 Turbo, este reconhecidamente uma das melhores versões desse fantástico jogo. Tudo parecia bem, certo? Mais ou menos. No mesmo ano desses lançamentos, a Nintendo lança Donkey Kong Country para o Super Nintendo, game que utilizava gráficos construídos nas famosas estações SiliconGraphics, a última palavra em tecnologia na época. Conclusão: o público percebeu que o 3DO era sim muito bonito, mas que não estava tão à frente assim que os consoles de 16bit.
Para piorar, no final desse mesmo ano, chegava ao mercado o Sega Saturn e poucos meses depois o Sony Playstation. Nesse ponto, a 3DO Company praticamente desistiu da guerra e decidiu que chegava a hora de apostar em uma nova plataforma: o M2. Ele seria um acessório que tornaria o 3DO um console de 64 bit, e também seria lançado como uma plataforma independente. As promessas eram enormes sobre o aparelho e o “hype” criado na imprensa e no mercado foi igualmente alto.
Porém, entre falsas promessas, apresentações em feiras que utilizavam gráficos em CG como se fossem gráficos de jogos do M2 e diversos desacordos comerciais, o M2 foi comprado da 3DO Company pela Matsushita/Panasonic. A princípio a própria empresa lançaria o console, mas vendo o domínio do Playstation no mercado e o poder da placa arcadeModel 3 da SEGA (que seria base para o novo console da marca – o Dreamcast), a empresa percebeu que o M2 não tinha chance. A tecnologia M2 foi sim utilizada, mas nunca para os videogames (alguns protótipos foram construídos e de vez em quando aparecem no ebay).
Voltando ao 3DO, o ano de 1995 foi bastante difícil, sofrendo a predatória concorrência dos consoles da SEGA e Nintendo. 1996 não seria diferente, com o agravante de que a Nintendo entrava na briga, com o Nintendo 64. Diante de tudo isso, a 3DO Company decidiu encerrar suas atividades na parte de hardware e se tornou apenas uma softhouse para produzir conteúdo para PC´s e também para os consoles concorrentes.
Apesar de todos esses problemas, o 3DO é um console que reside na memória de muita criança e adolescente de meados dos anos 90, incluindo este colunista. Além dos jogos que já mencionei, o console possui diversos outros clássicos, como Shock Wave, Wing Commander III, Killing Time, Captain Quazar, Star Control II e muitos outros. É um console que deixou saudade.
E assim termina mais um capítulo de nosso especial. Confira o gameplay de dois games do 3DO nos vídeos abaixo. No próximo capítulo falaremos do último console produzido pela Atari: o também polêmico Jaguar. Não deixem de conferir.
A coluna de games do Lado B tem o apoio do evento Parada Nerd, que vai rolar em Campo Grande nos dias 2 e 3 de maio.
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