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Em 1994 a SEGA surpreendeu a todos com o lançamento do Saturn

Edson Godoy | 23/06/2015 09:38
Em 1994 a SEGA surpreendeu a todos com o lançamento do Saturn

No capítulo anterior falamos sobre o Sega 32X, acessório lançado para o Mega Drive que tornava o aparelho um 32bit, estendendo sua vida útil e possibilitando que o mesmo competisse com os novos consoles de quinta geração que chegavam no mercado. Mas o foco da Sega estava no novo console da empresa, potente o suficiente para replicar os grandes arcades da empresa e não só competir, mas reinar na quinta geração: o Saturn.

O desenvolvimento do console começou em 1992, tendo como base a placa de arcade da SEGA, a Model 1, responsável por games como Virtua Fighter e Virtua Racing. Como se tratava de um hardware bastante caro, a Sega teve que procurar alternativas. Eis que a empresa se juntou à Hitachi para criar a CPU do Saturn: o SH-2. Em 1993 a arquitetura do console estava praticamente pronta. Porém, a empresa recebeu informes sobre as especificações do Playstation, primeiro console da gigante dos eletrônicos Sony, e percebeu que teria que aumentar a potência do console. Conclusão: o Saturn se tornou uma verdadeira salada tecnológica, com dois CPU’s SH-2 e mais seis processadores auxiliares.

O interessante é que durante o desenvolvimento do console, a SEGA teve a chance de fechar parcerias tanto com a Silicon Graphics (que futuramente se juntou à Nintendo para desenvolver o Nintendo 64) como com a Sony (que decidiu lançar um console por conta própria, depois de tentativas de parceria com a Sega e também com a Nintendo). Qualquer uma dessas parcerias poderia ter mudado significativamente (ou não!) o panorama da indústria do videogame.

Voltando ao Saturn, chega então o aguardado dia do lançamento do console no Japão: 22 de novembro de 1994, a um preço de aproximadamente 500 dólares. Todas as 200 mil unidades iniciais foram vendidas no primeiro dia. Um sucesso! Tudo isso impulsionado pelo hit Virtua Fighter, em sua primeira conversão caseira. Alguns dias depois veio o lançamento do Playstation. Mas o sucesso inicial do Saturn já estava consolidado e a SEGA saia na frente nessa disputa. Porém aos poucos o console da Sony ganhava terreno em terras nipônicas, muito em razão do grande suporte recebido das desenvolvedoras de jogos (a Sony oferecia diversas benesses a elas). Por outro lado, o Saturn, com sua salada de processadores, dificultava muito a vida das softhouses.

Nos Estados Unidos o Saturn estava programado para ser lançado em setembro de 1995, mas diante do avanço do Playstation, a matriz da empresa no Japão ordenou que o lançamento fosse adiantado, para chegar ao mercado americano antes do concorrente da Sony. Então, durante a E3 daquele ano, anunciou que o console seria vendido a U$ 399 (com o hit Virtua Fighter incluso) e que já estaria disponível em quantidade limitada em algumas lojas específicas.

Isso irritou outras lojas que não foram avisadas do lançamento. Conclusão: essas lojas decidiriam por boicotar a SEGA e passar a vender apenas produtos da concorrente. Esse adiantamento no lançamento se mostrou um enorme tiro no pé da SEGA. O efeito na Europa também foi sentido, pois não houve tempo hábil para realizar uma campanha de marketing, ao contrário da Sony, que investiu rios de dinheiro em propaganda.

Durante essa mesma E3, o presidente da Sony Computer Entertainment America anunciou que o preço do Playstation seria de 299 dólares (100 a menos que o Saturn!). Em setembro, o console da Sony é lançado na américa e em apenas dois dias, vende mais do que o Saturn vendeu nos cinco meses que esteve sozinho no mercado. Games como Ridge Racer e Tekken caíram no gosto do público americano, em detrimento de Daytona USA e Virtua Fighter, que eram criticados como sendo inferiores às suas versões arcade.

No mês seguinte a SEGA decide vender o Saturn pelos mesmos 299 dólares. No final de 95 chegam Sega Rally, Virtua Fighter 2 e Virtua Cop, todos jogos famosos no arcade e que agradaram bastante o público em suas versões caseiras. Isso fez com que o console reagisse nas vendas de fim de ano. Mas o Playstation já tinha uma biblioteca de jogos bem maior, com as softhouses impulsionadas pelas benesses da Sony e pela maior facilidade de programação nesse console. Em maio de 96 a Sony reduz o preço de seu aparelho para 199 dólares, obrigando a SEGA a seguir o mesmo caminho. Mas com um porém: o console da SEGA custava mais para ser produzido. Ou seja: a empresa estava gastando bem mais para produzir o console do que ganhava vendendo ele.

Daí em diante foi um problema atrás do outro para a SEGA: o Mega Drive ainda vendia muito bem, mas concentrada no Saturn, a empresa não conseguia atender a demanda desse console no mercado (deixando de ganhar dinheiro...); diversos desentendimentos rodeavam a matriz japonesa e a subsidiária da SEGA nos Estados Unidos, causando instabilidade interna na empresa; e talvez o mais decisivo deles – o cancelamento do game Sonic X-Treme, que seria o primeiro jogo de aventura do porco-espinho em 3D.

Há muito debate e especulação de como teria sido se Sonic X-Treme tivesse sido lançado e fosse um bom jogo. Parte decisiva do sucesso do Mega Drive nos Estados Unidos foi o sucesso do primeiro game do Sonic. Mas em 1996, parecia que o Saturn já estava condenado. Tudo que a SEGA fazia parecia não surtir efeito no mercado americano. Enquanto isso, no Japão, a Sony consolidava cada vez mais o seu console e o Saturn perdia terreno.

A SEGA começou a ter prejuízos financeiros enormes. Diante disso a empresa anunciou que o console não seria mais comercializado nos Estados Unidos, em prol do lançamento do futuro console, o Dreamcast. Considerando que este só foi lançado em setembro 1999, o mercado americano ficou sem produtosda SEGA por mais de um ano, algo que sem dúvida afeta a imagem de uma empresa desse porte. Em novembro de 1998 o Dreamcast era lançado no Japão, dando um novo fôlego de esperança de dias melhores para a empresa. O Saturn vendeu aproximadamente nove milhões de meio de unidades.

Lendo uma história desastrada como essa, parece até que o Saturn é um console ruim, certo? Não se engane. Apesar de inferior tecnicamente ao Playstation no quesito gráficos poligonais, o console possuía algumas características únicas como a possibilidade de aumento de memória RAM através do uso de cartuchos (que possibilitava jogos como Marvel Super Heroes Vs. Street Fighter a funcionar praticamente igual ao arcade). Jogos como os da série Panzer Dragoon, Night Into Dreams, Die Hard Arcade, Dungeons & Dragons Collection, Virtua Fighter 2, vários clássicos da SNK, Shining Force III, grandiosos shmups como Radiant Silvergun, e tantos outros jogos magníficos marcaram o console. Relembre alguns desses clássicos nos vídeos abaixo.

No próximo capítulo falaremos sobre o carrasco do Saturn. O console que marcou o início do legado da Sony nos videogames: o Playstation. A coluna de games do Lado B tem o apoio da loja Retro Gamers. Visite também o meu site, o Vídeo Game Data Base.

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