Vereadores compraram imóveis, bois e movimentaram até R$ 4 mi, diz Gaeco
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) apontou que os vereadores investigados na Operação Coffee Break adquiriram imóveis, veículos e até animais comprados em dinheiro vivo durante o período que culminou na cassação de Alcides Bernal (PP). Além disso, todos movimentaram valores superiores aos que declararam ter recebido no mesmo período. Em um dos casos a quantia chegou a ultrapassar R$ 4 milhões.
Conforme o relatório final da Coffee Break, que está sob à analise da Procuradoria Geral de Justiça, a quebra do sigilo bancário e fiscal de 14 vereadores, comprovou a incompatibilidade de rendimentos recebidos pelos investigados com suas movimentações financeiras através da análise da evolução patrimonial entre os anos de 2013 e 2014.
A denúncia aponta que ficou evidenciado o recebimento de "valores escusos", possivelmente decorrentes de acordo financeiro prévio para a cassação do mandato de Alcides Bernal com base na análise da evolução patrimonial dos vereadores: Jamal Mohamed Salem (PR), Paulo Siufi, Edil Albuquerque, ambos do PMDB, Edson Shimabukuru (PTB), João Batista da Rocha (PSDB), atual presidente da Câmara, Carlos Augusto Borges, o Carlão (PSB), José Airton Saraiva (DEM), Gilmar Neri de Souza, o Gilmar da Cruz (PRB), Flavio Cesar Mendes de Oliveira (PT do B), Otávio Augusto Trad Martins (PtdoB), Vanderlei Pinheiro de Lima, o Delei Pinheiro (PSD), Waldecy Batista Nunes, o Chocolate (PP) e Eduardo Romero (Rede).
A análise acerca dos dados fiscais de cinco vereadores chama a atenção, dentre elas a do vereador Jamal Salem, que se licenciou e assumiu a Secretaria Municipal de Saúde no período em que o prefeito afastado Gilmar Olarte ficou no poder.
Os rendimentos declarados por Jamal, nos anos de 2013 e 2014, período em que se deram os fatos investigados, divergiram da totalidade de créditos que transitaram por suas contas bancárias, de acordo com o Gaeco.
Conforme a movimentação financeira, Jamal declarou rendimentos de apenas R$ 393.258,29, mas relatório apontou que ele movimentou em suas contas R$ 4.699.468,17, em 2013. Já em 2014, o vereador declarou rendimentos de R$ 670.328,26 para uma movimentação de R$ 3.235.698,82.
Já o vereador Carlos Augusto Borges, o Carlão, movimentou em suas contas no ano de 2013 a quantia de R$ 444.729,81, mas declarou R$ 146 mil. E no ano seguinte seguinte seus rendimentos foram de R$ 177.096,15 para uma movimentação de R$ 601.403,12, três vezes superior.
Aliado a isso, a denúncia aponta que Carlão adquiriu em janeiro de 2014, 40 bezerras pelo valor de R$ 27,5 mil, quantia paga em espécie e à vista. O Gaeco ouviu o produtor rural que vendeu os animais para o vereador que afirmou que ele teria feito várias compras e animais de proprietários da região.
A denúncia aponta ainda que o vereador Flavio Cesar declarou ter recebido em 2013, R$ 143.879,31 em que pese ter movimentado em suas contas o valor de R$ 339.521,74. Já no ano de 2014, seus rendimentos foram de R$ 174.315 para uma movimentação de R$ 325.160,04.
Além disso, o relatório de inteligência financeira registrou a compra de um apartamento em nome de Flávio César no valor de R$ 560 mil no dia 4 de junho de 2014, sendo que a transação é considerada incompatível com sua renda. Concluindo-se que, notadamente quanto ao ano de 2014, vislumbra-se não ser equivalente o valor percebido com o salário pelo vereador Flávio César com a sua movimentação financeira.
As movimentações financeiras do vereador Waldecy Batista Nunes, O Chocolate, também chamaram a atenção do Gaeco.
Em 2013, o vereador declarou rendimentos de R$ 98.218,75 e movimentou em suas contas a quantia de R$ 189.495,19. Já no ano de 2014, seus rendimentos foram de R$ 137.019,93 para uma movimentação de R$ 341.135,48.
Consta que Chocolate movimentou em crédito valores superiores ao dobro de seus rendimentos e ainda declarou ter adquiridos dois veículos. Um Hyundai HB20, que foi registrado no nome de sua esposa, pelo qual pagou a quantia de R$39.359,00 à vista em dinheiro por meio de deposito bancário e um segundo veículo , um Hyudai Elantra, registrado em seu nome, que custou R$89 mil, do qual R$20 mil foram pagos em espécie.
O relatório cita que o vereador teria mencionado que as pessoas vincularam a compra dos veículos ao recebimentos de valores para a votação pela cassação de Alcides Bernal.
No caso do vereador Eduardo Romero, foi verificado o incremento patrimonial, em tese, para o exercício de 2014, sem cobertura econômica, resultando num patrimônio descoberto de R$ 25.996,46 ao qual se deve ser acrescido o valor de R$150 mil equivalente a um imóvel adquirido e não declarado em imposto de renda de pessoa física.
Confome o Gaeco, em 2013, o vereador declarou ter recebido R$ 117 mil e movimentou em suas contas o valor de R$296 mil. Já no ano de 2014, seus rendimentos foram de R$164 mil e ele movimentou R$232 mil.
Outro lado - O Campo Grande News tentou contato por telefone com todos os citados, mas somente os vereadores Chocolate e Eduardo Romero atenderam e ou retornaram as ligações até o fechamento desta matéria.
O vereador Chocolate rebateu a denúncia e afirmou que não há nenhum inconformidade em suas declarações. Quanto a aquisição dos veículos, que é citada pelo Gaeco, o vereador afirma que comprou os veículos financiado, o que seria possível com sua renda como parlamentar.
Já o vereador Eduardo Romero preferiu não se manifestar a respeito da denúncia, tendo em vista que ele ainda não teve acesso ao relatório e não teria como confrontar as informações. Romero apenas disse que não há irregularidades em suas movimentações.