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Capital

Líder de igreja é acusado de desvio de dinheiro em "golpe" de compra de terrenos

Apóstolo Denilson Fonseca é denunciado por ex-membros por humilhação e constrangimento coletivo

Por Lucas Mamédio | 30/08/2024 18:27
Fachada da sede da Comunidade Cristã Aliançados, nos alto da Mato Grosso (Foto: Paulo Francis)
Fachada da sede da Comunidade Cristã Aliançados, nos alto da Mato Grosso (Foto: Paulo Francis)

O líder da Comunidade Cristã Aliançados, apóstolo Denilson Fonseca, está envolvido em mais uma polêmica. Agora, ele é alvo de uma série de denúncias de ex-pastores e ex-membros que alegam terem sido expulsos da igreja sob humilhação e constrangimento coletivo, sem direitos trabalhistas cumpridos e após asfixia financeira que envolve, inclusive, redução salarial e quebra de acordos. Além disso, Denilson é acusado de sanha por dinheiro, com diversos relatos de pressão para arrecadação entre as unidades da Aliançados.

O caso de maior destaque que foi a ponta do fio puxado para outras histórias aparecerem é do pastor Paulo Cesar Lemos. Ele divulgou um vídeo no começo desta semana em seu perfil no Instagram, onde narra uma série de situações que passou ao longo de cinco anos como pastor na Aliançados, que desaguou em sua expulsão durante uma reunião com líderes da igreja.

Paulo jura que foi pego de surpresa com a forma como sua saída foi tratada. Em entrevista ao Campo Grande News, ele explica que foi convidado a morar em Mato Grosso do Sul a convite do apóstolo, em 2019. Mineiro de origem, Paulo já passou por vários estados antes de se mudar para cá.

“Eu inicialmente iria ficar à frente da igreja em Dourados, mas aí conversamos melhor e achamos melhor eu ficar em Campo Grande. Acertamos um salário de R$ 2.500 com aluguel pago pela igreja, depois houve uma reconfiguração por conta das minhas demandas, então salário subiu para R$ 2.750 com auxílio moradia de R$ 1.500, com o aluguel ficando sob minha responsabilidade”, conta Paulo.

Pastor Paulo Cesar Lemos em entrevista ao Campo Grande News (Foto: Paulo Francis)
Pastor Paulo Cesar Lemos em entrevista ao Campo Grande News (Foto: Paulo Francis)

Ainda houve novo reajuste, com salário chegando a mais de R$ 4 mil e uma porcentagem em cima de um curso que Paulo iria ministrar. Há cerca de um ano, o castelo começou a desmoronar.

Paulo conta que seu salário foi cortado pela metade sob a justificativa de que a igreja passava por diversas dificuldades financeiras causadas, principalmente, por conta da compra de um terreno ao lado da atual sede, na Avenida Mato Grosso, que pertencia à TIM.

O Campo Grande News noticiou no começo de agosto o imbróglio judicial envolvendo o terreno. A ação de rescisão de contrato foi proposta inicialmente pela igreja, que tenta cancelar e reaver R$ 4 milhões já pagos na negociação acordada em R$ 13,5 milhões. No contragolpe, a TIM pede, no mesmo processo, o pagamento de R$ 3,366 milhões, por multa contratual, pagamentos de contas de água, luz e IPTU e indenização pela “perda de chance” da venda da área. Depois disso, teve até boletim de ocorrência com denúncia de falsificação de documentos.

“Eu fui surpreendido em uma reunião este ano, onde tinha mais ou menos 50 ou 60 pessoas, em que fui acusado de passar informações que aconteciam dentro da cúpula da igreja para alguns jornais e sites. Ele expôs coisas das quais a gente trata em gabinete. Tem coisas que você fala com sacerdote, um pastor, um padre, que você não pode expor aquilo”, conta Paulo.

O ex-membro ainda conta que foi expulso sem nenhum direito trabalhista pago e que está sem renda, vivendo da ajuda de amigos. “Eu passei por um divórcio, que inclusive foi usado conta mim, que atribuo muito ao fato de ter passado por essas dificuldades financeiras”.

Apóstolo Denilson também teria usado o nome de outra ex-esposa para constrangê-lo na reunião que o expulsou, dizendo que havia conversado com ela. O próprio filho do Paulo, com esta ex, disse em comentário no Instagram que nunca houve tal conversa.

Apóstolo Denilson Fonseca durante culto na Aliançados (Foto: Reprodução/Instagram)
Apóstolo Denilson Fonseca durante culto na Aliançados (Foto: Reprodução/Instagram)

“Sou o filho que meu pai comentou no vídeo, eu aposto que o miserável não saiba nem o nome da minha mãe, não sei quem ele é para falar dela assim primeiramente, eu aposto ele postar ou comprovar de qualquer forma que entrou em contato com a minha mãe, além de prejudicar meu pai da maneira mais desonesta possível, quis atacar gente que não conhece, que Deus revele a verdade e que tenha piedade desse pastor, pois ele não sabe o que fala”, disse o filho.

Paulo entrou com duas ações na Justiça, uma trabalhista, pelos direitos alegados enquanto atuou na igreja, e uma por danos morais, por conta da modo como foi tratado na reunião que o expulsou. Os processos correm em segredo de Justiça.

Outros relatos -  Após o relato de Paulo, inclusive na postagem, mas não só, outras denúncias semelhantes surgiram. Elas trazem à tona até suposta perseguição depois que membros deixaram a igreja.

“Hoje digo com alegria no meu coração que fomos libertos de uma prisão enganosa, por muito tempo tive medo, medo das pessoas, medo de exposição com nosso nome dentro desse lugar, tive medo porque recebi tantos áudios, com humilhações e mentiras, eu grávida com barrigão ouvindo 'Deus, te abençoou nesse lugar, usou profetas desse lugar, para dizer que você iria casar e ter filhos... Agora você está aí grávida e não está aqui para agradecer a Deus, as promessas foram entregues e você abandonou esse lugar'", diz comentário de uma mulher que frequentava a Aliançados.

Em outro comentário, a Aliançados é chamada de seita. “Infelizmente eu e minha família servimos um dia nesse ministério, ou melhor dizendo essa seita. Tivemos nossos olhos vendados e hoje, pela graça de Deus, estamos libertos desse lugar. Assim como todos , na nossa saída para eles e para maioria que frequentam a igreja, nós ficamos como rebeldes e desleais. Foram ditas mentiras, calúnias a nosso respeito pelo atual pastor. Hoje dou graças a Deus por termos saído de lá”.

Denúncia de desvio de dinheiro - Um advogado, ex-membro da Aliançados, que não quis se identificar, faz uma nova denúncia envolvendo o terreno da TIM.

Segundo ele, nunca houve a intenção de obter realmente o terreno da TIM, a intenção sempre foi tentar a devolução para ficar com o dinheiro. Segundo ele, foi montado um estratagema onde o dinheiro levantado via consórcio para pagamento do terreno da TIM, avalizado por outro membro da igreja com capital o bastante, retornaria para as mãos de Denilson após a devolução do terreno.

O processo que corre sobre o terreno, no qual a TIM pediu reconvenção, a empresa anexa documentos em que os pagamentos foram feitos por “terceiros estranhos à lide e estranhos ao próprio estatuto social da PJ autora”. Dos pagamentos feitos, apenas um crédito em conta foi feito diretamente pelo presidente da Aliançados, Denilson Cordeiro da Fonseca.

Pressão por resultados – O Campo Grande News também teve acesso às conversas de um grupo com pastores de igrejas que faturam menos de R$ 12 mil. O nome do grupo é “Igrejas abaixo de 12k”. Nele, o apóstolo estabelece metas e cria até estratégias para aumentar arrecadação nos meses seguintes. Além disso, em áudio enviado direto a outro pastor, Denilson é enfático em chamá-lo de “funcionário” mais de uma vez, o que mostra a estrutura empresarial da igreja.

Conversas no grupo "Igrejas abaixo dos 12k" (Foto: Reprodução)
Conversas no grupo "Igrejas abaixo dos 12k" (Foto: Reprodução)

“Você é um funcionário e você é subordinado diretamente a mim, então você tem que aprender a separar a parte eclesiástica, em que eu sou seu pastor, quando a gente fala da parte espiritual, mas na parte administrativa sim, você é funcionário, é funcionário, eu acho que isso você não entendeu, se você tem horário para trabalhar, se você tem salário que você recebe, você é um funcionário, tá?”, diz parte do áudio.

Em uma das estratégias, nomeada pelo apóstolo de “Abençoando meu vizinho”, a única orientação dada era que fiéis lavassem um vizinho e os membros da igreja tentariam persuadi-los com mimos.

No grupo, apóstolo Denilson é chamado de “paizão” e se refere aos pastores como “filhos”. Em uma das mensagens, ele pede um relatório de arrecadação até aquele momento do mês. “Meus amados, daqui a pouco vou passar as estratégias de novembro, mas por gentileza me passem quanto vocês estão fechando este mês, faltam apenas 2 cultos!”, diz a mensagem seguida dos números de cada um presente.

Em outra mensagem, ao parabenizar dois pastores pelo desempenho, Denilson diz que em breve espera que eles saiam do grupo.

Conversas no grupo "Igrejas abaixo dos 12k" (Foto: Reprodução)
Conversas no grupo "Igrejas abaixo dos 12k" (Foto: Reprodução)

Outro pastor também alega ter sofrido perseguição por ser considerado uma ameaça ao protagonismo de Denilson dentro da igreja. Ele conta que foi excluído também após processo de desgaste, que consistiu em transferi-lo de para várias cidades até a expulsão. Este pastor destacou o comportamento predatório do apóstolo quando o assunto era arrecadação.

"As reuniões pastorais só nos era cobrado receitas, ofertas, dízimos e os tais 'votos' (ofertas). Sempre querendo nos ensinar a atribuir a Deus a quantidade de votos a pedir para escalpelar os ovelhas (membros) da igreja. Coisa que sempre repudiei e não fazia, porque sabia que era ganância do Denilson e errado perante a Deus. Ele não tem amor às almas, ele gosta de dinheiro. E tudo que é levado para os gabinetes, ele usa contra a pessoa", conta esse pastor.

Posição da Aliançados -  Sobre a saída do pastor Paulo, a igreja alega que ele não foi expulso. "Diferentemente do quanto alegado, o Pastor Paulo Lemos não foi expulso da Comunidade Cristã Aliançados. Ele foi destituído dos cargos que exercia de forma voluntária e, por má conduta, este foi afastado de suas atividades, nos termos do Código de Ética da instituição. Após isso, o próprio optou em sair desta igreja, jamais sendo expulso. Referidas afirmações de expulsão são meras ilações. Adicionalmente, cumpre destacar que o Pastor Paulo, assim como todos os demais pastores desta congregação, servem neste ministério de forma voluntária, e nos termos da Lei do Voluntariado, percebendo, tão somente ajuda de custo para despesas realizadas no exercício deste ofício voluntário, estando estas vinculadas ao exercício desta atividade desempenhada".

Sobre o grupo do WhatsApp onde pastores são "cobrados" por resultados, a Aliançados diz que conforme disposto em seu Estatuto Social, a igreja tem por objetivo divulgar o evangelho do Senhor Jesus Cristo, em todo o território nacional e fora dele, por meio da multiplicação de igrejas e de líderes para a consecução desse fim, sem quaisquer fins lucrativos.

"Dessa forma, as afirmações que esta instituição tenha como foco a arrecadação financeira mostra-se, unicamente, para denegrir a sua imagem, por meio de inúmeras fake News. Ademais, conforme já esclarecido nesta nota, Pastores desta congregação, servem neste ministério de forma voluntária, não possuindo estes relação trabalhista para serem chamados de 'funcionários'. Por fim, a afirmação de que esta instituição teve 'estratégia de persuadir vizinhos com mimos' mostra-se mais uma fake News".

Sobre a denúncia do uso de terrenos para desvio de dinheiro, o processo judicial envolvendo a aquisição de um terreno imobiliário é pautada em contrato celebrado entre as partes. Diante o não cumprimento de uma das partes acerca dos termos ora contratados, houve a necessidade do ajuizamento da competente ação judicial para que esta instituição tenha os seus direitos preservados.

"Sendo assim, as afirmações apresentados por este advogado, ex-membro da Aliançados, trata-se de mais uma Fake News visando denegrir a desta instituição, pois não é pautada em provas. Por fim, cabe destacar que a Comunidade Cristã Aliançados, nos termos do seu Estatuto Social, toda e qualquer operação financeira desta instituição é feita em conjunto pelo seu presidente, apóstolo Denílson Fonseca, bem como tesoureiro e conselho fiscal. Ademais, esta instituição declara à Receita Federal todas as entradas e saídas de recursos mensais, podendo ainda, os fiéis que sejam integrantes deste ministério, ter livre acesso aos relatórios, tanto de receitas, quanto de despesas. Portanto, considerado que esta instituição atende, rigorosamente as normas jurídicas e contábeis existentes, como forma de agir totalmente transparente acerca de suas operações financeiras, não há mais o que declarar mais sobre tal assunto".

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