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Interior

Europeus querem boicote à soja por genocídio indígena, diz deputado

Padre João acompanhou membros do Parlamento Europeu em diligência a três áreas indígenas na região sul e diz que estrangeiros saíram ainda mais comovidos com situação dos guarani-kaiowá

De Dourados | 07/12/2016 10:38
Deputados brasileiros e europeus com índios em área invadida (Foto: Divulgação)
Deputados brasileiros e europeus com índios em área invadida (Foto: Divulgação)
Índios fazem relatos a deputados brasileiros e europeus (Foto: Divulgação)
Índios fazem relatos a deputados brasileiros e europeus (Foto: Divulgação)

Parlamentares europeus saíram “indignados” e “comovidos” com a situação dos guarani-kaiowá de Mato Grosso do Sul e falam até mesmo em liderar um boicote a produtos brasileiros, principalmente soja, para exigir do governo do Brasil medidas urgentes de proteção aos direitos indígenas.

A afirmação é do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, deputado federal Padre João (PT/MG), que acompanhou as diligências feitas pelos europeus a áreas ocupadas pelos índios em Caarapó, Aral Moreira e Amambai. Esses locais foram palcos de ataques que terminaram na morte de índios.

Três parlamentares europeus, assessores representando alguns que não puderam vir ao Brasil e os deputados brasileiros Padre João, Edmílson Rodrigues (PSOL-PA), Janete Capiberibe (PSB-AP) e Zeca do PT (PT-MS) passaram o dia ontem percorrendo as aldeias e ouviram relatos da situação de desespero enfrentada pelos guarani-kaiowá. Também estavam com o grupo os deputados estaduais João Grandão e Pedro Kemp (ambos do PT).

"Percebemos a indignação do povo guarani-kaiowá em relação aos assassinatos e principalmente em relação ao sumiço de cadáveres, que aprofunda a dor da família”, afirmou Padre João ao Campo Grande News após se encontrar com a mãe do cacique Nizio Gomes, que teria sido morto em 2011 em Aral Moreira, mas o corpo nunca foi encontrado.

“O Nizio Gomes era uma grande liderança, uma referência para esse povo, mas sumiram com o cadáver. Isso aprofunda a dor e também a indignação dos guarani-kaiowá”, declarou o deputado mineiro.

“Soja com sangue” – Segundo Padre João, os parlamentares europeus ficaram ainda mais comovidos e prometem tomar providências para exigir ações de proteção aos direitos dos índios. “Agora eles sabem que os produtos brasileiros consumidos na Europa, especialmente a soja, têm o sabor indigesto de sangue indígena”.

O presidente da CDHM da Câmara disse que a indignação dos europeus só piorou após as diligências. Em novembro deste ano, o Parlamento Europeu, que representa 28 países e é formado por 751 integrantes, aprovou uma resolução condenando o extermínio de índios no Brasil.

“A comoção deles após ouvir as lideranças é bem maior. O sabor de sangue indígena com certeza provocará outras mobilizações pela Europa, nos países que recebem a soja do Brasil”, disse Padre João.

Mais invasões – O deputado mineiro disse que os relatos dos índios deixam claro que os guarani-kaiowá não vão mais se calar diante da violência. “Eles afirmam que para cada assassinato serão mais dez áreas retomadas. Eles estão dispostos a morrer, mas a cada morte serão feitas novas retomadas e terão nosso apoio e com certeza o apoio do Parlamento Europeu”.

Em Caarapó, onde o agente de saúde indígena Clodioude de Souza, 26, foi assassinado em junho, 11 áreas estão ocupadas.

Segundo Padre João, ainda hoje a comissão terá audiência no MPF (Ministério Público Federal) e na Assembleia Legislativa, em Campo Grande. Depois será elaborado um relatório, pedindo mais agilidade do governo federal, especialmente da Polícia Federal, nas investigações de mortes de índios em Mato Grosso do Sul.

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