A escolha entre livros digitais ou em papel na perspectiva da inovação
Recentemente a escolha entre livros digitais ou impressos veio à pauta devido à proposta do governo de São Paulo, que planeja adotar unicamente seu próprio conteúdo educacional, suplantando os livros provenientes do Programa Nacional de Livros Didáticos (PNLD), administrado pelo Ministério da Educação. Adicionalmente, existe a intenção de migrar todo esse conteúdo para o formato digital, direcionado aos estudantes a partir do 6º ano do ensino fundamental.
À primeira vista pode parecer que a escolha por livros digitais no lugar dos impressos é a opção mais inovadora, mas ela precisa ser observada criticamente. A transição para o âmbito digital carrega consigo uma série de possibilidades e obstáculos que podem influenciar o modo pelo qual os alunos aprendem e interagem com os materiais pedagógicos.
A utilização de livros digitais pode trazer benefícios, tais como o acesso instantâneo a uma vasta variedade de recursos e materiais interativos de forma acessível. Isso pode enriquecer a experiência de aprendizado, permitindo que os alunos explorem conteúdos de maneira mais dinâmica e personalizada. Além disso, os livros digitais possibilitam atualizações frequentes e incorporação de multimídia, mantendo o material sempre relevante e atraente.
Em contrapartida, a utilização de livros físicos oferece uma sensação tangível de aprendizado e pode reduzir potenciais distrações que os dispositivos eletrônicos podem trazer. Além disso, alguns estudos sugerem que a leitura em papel pode promover uma compreensão mais profunda e uma absorção mais eficaz do conteúdo, especialmente em textos mais longos e complexos.
Esses estudos também demonstram que estudantes que cultivavam o hábito de ler em papel frequentemente mostram maior satisfação ao se envolver na leitura, em comparação com aqueles que consumiam conteúdo digitalmente. Contrapontos assim levaram a Suécia, que desde os anos 90 utilizava livros digitais e está na 10ª colocação no exame mundial PISA, a retomar o uso de livros impressos.
Muitas vezes, os únicos livros presentes na casa de um estudante são seus livros escolares, ao passo que 84,4% dos brasileiros com mais de dez anos possuem celulares ou outros eletrônicos. Um levantamento do Hospital Infantil de Alberta, no Canadá, revelou que as crianças passam 4 horas por dia utilizando telas, um aumento de 50% desde a Pandemia de COVID 19. Ao mesmo tempo, o Observatório da Saúde da Criança e do Adolescente da UFMG recomenda não mais do que duas horas por dia para a mesma faixa etária.
Substituir integralmente os livros em papel por apresentações eletrônicas ou livros criados em formato PowerPoint pode ser considerado um enfoque inovador, dependendo do contexto em questão. Especialmente se essa abordagem atender às necessidades, preferências e capacidades de aprendizado da audiência envolvida. No entanto, é de suma importância avaliar tanto as vantagens quanto as desvantagens de ambas as alternativas, levando em consideração o cenário social circundante.
É essencial ponderar como essa transição impactará o processo de aprendizagem, a experiência do usuário e outros fatores pertinentes. A mera transposição do mesmo conteúdo presente no livro para um aparelho eletrônico não resulta em inovação, assim como trocar anotações no caderno por anotações num tablet não traz inovação alguma.
Finalmente, a autonomia do professor na escolha de seu próprio material de apoio é fundamental, já que essa liberdade possibilita que os educadores personalizem suas abordagens conforme as necessidades específicas dos alunos, o ambiente da sala de aula e os métodos pedagógicos a serem empregados.
Elementos que só quem está presente com os alunos pode conhecer muito melhor que gestores deslocados da realidade escolar. Além disso, conceder autonomia aos professores na seleção de materiais de apoio não apenas demonstra respeito e estima por sua experiência, mas também estimula a criação de um ambiente educativo adaptado, atraente e eficaz para os estudantes.
(*) Maria Karoline Domingues é estudante de Letras Português e Respectiva Literatura na UnB.
(*) Marina Nunes é graduanda em Letras Português.