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Conectando ensino de ciências e cultura do campo

Aline Guterres Ferreira e outros autores (*) | 19/04/2022 13:30

O projeto de extensão Clubes de Ciências do Campo (CCC) teve início em 2015 como estratégia metodológica inovadora para promover o diálogo entre os saberes locais das comunidades rurais em que as escolas do campo estavam inseridas com as áreas do conhecimento, fomentando uma cultura escolar fidedigna e significativa aos estudantes. A proposta tem origem no curso de Licenciatura em Educação do Campo – Ciências da Natureza da UFRGS, que atua nas escolas do campo da região metropolitana de Porto Alegre e Litoral Norte Gaúcho e demais articulações institucionais.

O projeto possui os seguintes objetivos: estimular em professores e estudantes, por meio de atividades interdisciplinares e culturais, o interesse pelas Ciências, incitando o desenvolvimento do caráter crítico e científico da prática docente; estimular o anseio dos estudantes por tecnologia, ambiente e cidadania por meio da participação em atividades lúdicas que envolvam conteúdos relacionados às ciências.

Atualmente o projeto possui 20 clubes participantes, distribuídos nas escolas do campo dos municípios de Nova Santa Rita, Gravataí, Viamão, Santo Antônio da Patrulha e Capão da Canoa. O desenvolvimento do projeto dos Clubes de Ciências do Campo ocorre no contraturno das aulas em espaços escolares e na comunidade rural, priorizando experiências que conjuguem o ensino das Ciências e a cultura do campo.

No livro “Clubes de Ciências: criação, funcionamento, dinamização”, Ronaldo Mancuzo relata que a prática dos Clubes de Ciências no Brasil surgiu no final dos anos 50 e início dos 60 como uma atividade extraclasse que favorecia a vivência da metodologia científica, a fim de repetir os feitos dos cientistas nos laboratórios. Mais recentemente, o pesquisador Demétrio Delizoicov aponta que os Clubes de Ciências são espaços de divulgação científica e cultural e não podem estar desvinculados do processo de ensino-aprendizagem, mas devem fazer parte dele de forma planejada, sistemática e articulada.

Nessa perspectiva, o projeto dos Clubes de Ciências do Campo desenvolve suas atividades voltadas à realidade de cada uma das comunidades onde a escola está inserida, oportunizando o desenvolvimento de novos conhecimentos adquiridos dos saberes populares das referidas comunidades rurais.

As diferentes propostas pensadas e desenvolvidas em cada um dos Clubes de Ciências do Campo têm proporcionado uma nova forma de ensinar e aprender Ciências da Natureza pela realização de diferentes atividades interdisciplinares.

Ao evidenciar mudanças reais na vida escolar a partir da extensão universitária, destacamos a trajetória e o histórico do projeto na primeira escola a adotar a proposta: a Escola Municipal de Ensino Fundamental Rui Barbosa, de Nova Santa Rita, que implementou o projeto em 2016. Qualificada como uma escola do/no campo, multisseriada de séries iniciais em turno integral e que atende em média 75 estudantes, a escola está localizada nas dependências de um assentamento do Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) e desenvolve suas atividades a partir do território educativo.

No ano de abertura foi eleito o nome Clube de Ciências Saberes do Campo e deu-se início à escolha da mascote do projeto. As famílias enviaram algumas sugestões de imagens, e as crianças votaram em qual seria mais representativa à escola. A imagem vencedora foi criada por Cauê Witcel Rubenich, estudante da escola.

Em 2017, foi realizado o projeto Cuidando e Preservando a nossa Comunidade, no qual se abordou saneamento básico e necessidades sanitárias das comunidades rurais ao redor da escola. Os estudantes dos 2.° e 3.° anos apresentaram esse projeto na Feira de Ciências do município e ganharam o primeiro lugar na categoria séries iniciais, sendo classificados para Mostra de Criatividade em Ciências, Arte e Tecnologia – Junior (Mostratec).

Em 2018, foi criada a Cooperativa Escolar Rui Barbosa (CoopERB). As atividades perpassaram dos estudos científicos às teorias do cooperativismo. No ano de 2019, foi construído o Galinheiro Pedagógico e realizadas muitas descobertas junto aos estudantes e comunidade escolar sobre a vida dos animais. O 2020 foi desafiador pelas adaptações do ensino remoto, mas foi realizado um resgate da história do Clube de Ciências e organizadas ações para serem realizadas junto às famílias. Já em 2021 foi planejado o “Pote das Descobertas”, a partir da curiosidade investigativa e atividades familiares. Também nesse ano foi criado o novo logotipo do Clube, atualizando sua identidade.

Outra atividade que podemos destacar foi a realização, em 2021, do Curso de Formação de Coordenadores/as de Clubes de Ciências do Campo: articulando saberes do campo com as áreas do conhecimento, um projeto de extensão em articulação com o Câmpus Litoral Norte da UFRGS. O curso foi coordenado pelos professores da UFRGS José Vicente Lima Robaina e Roniere dos Santos Fenner e realizado pelo Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação do Campo e Ciências da Natureza (GPEEC Natureza) e pelo Grupo de Pesquisa Estratégias de Ensino e Tecnologias para o Ensino de Ciências em parceria com o Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências da 11.ª Coordenadoria Regional de Educação.

Nesta mesma oportunidade, aconteceu o VI Encontro dos Clubes de Ciências do Campo, tradicional evento do projeto de extensão que ocorre ao final do ano letivo com objetivo da socialização das atividades dos clubes. O projeto já conta com a produção de três dissertações e um livro que sistematiza a história e a trajetória de cada Clube de Ciências do Campo. Para os próximos anos, está programada a ampliação do curso de formação para os municípios de Caçapava do Sul, São Gabriel, Santiago, Montenegro, Eldorado do Sul, Sapucaia do Sul, Viamão, Alvorada, Gravataí e Glorinha. Prevê-se, também, maior articulação com demais projetos da UFRGS, pois, sem dedicação, compromisso e respeito de todos/as, as atividades de extensão universitária são impossíveis de serem realizadas, ainda mais em tempos de pandemia e desgovernos.

(*) Aline Guterres Ferreira é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências da UFRGS.
(*) Andressa Luana Rodrigues é mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências da UFRGS.
(*) Daniela Alves da Silva é mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências da UFRGS.
(*) José Vicente Lima Robaina é professor do departamento de Ensino e Currículo da Faculdade de Educação (FACED) e do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências da UFRGS.
(*) Roniere dos Santos Fenner é professor do Câmpus Litoral Norte e do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências da UFRGS.
(*) Sabrina Silveira da Rosa é mestra em Educação em Ciências pela UFRGS e coordenadora da Cooperativa Escolar Rui Barbosa.

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