Dia Nacional dos Animais
Seria justo começar esse texto citando um grande pensador ou indivíduo genial da espécie humana. “Quanto mais conheço os seres humanos, mais admiro os animais.” Esse pensamento é atribuído ao escritor e historiador português Alexandre Herculano. Como outra representante da espécie humana, sou inclinada a concordar.
Pensando bem, acho que conheço melhor os animais do que os seres humanos. Afinal, esse fascínio pelas mais variadas espécies animais conduziu minhas escolhas de vida desde a infância, inclusive a escolha da medicina veterinária como carreira.
No dia 14 de março é comemorado o Dia Nacional dos Animais. Boa hora de refletir qual o papel dos animais nas nossas vida e se estamos sendo verdadeiramente humanos no trato com eles. Os animais de produção, que representam fonte de nutrição e sustento, merecem manejo com mínimo de estresse, e se for inevitável, um final de vida sem sofrimento.
Os animais silvestres representam a biodiversidade e o equilíbrio necessário para manutenção dos ecossistemas naturais. Preservar seus habitats e respeitar suas peculiaridades contribui para sobrevivência e integridade do planeta.
O que dizer então dos animais de companhia? Considerados parte da família, hoje podem representar a inocência, doçura e simplicidade que a vida corrida de todos nós frequentemente necessita.
A ciência já produziu inúmeros trabalhos, experimentos e relatos de como o convívio com animais faz bem à saúde física e mental dos humanos, além de servirem de catalisadores sociais nas relações entre as pessoas. Crianças que convivem com animais crescem mais responsáveis e possuem mais empatia com outros seres.
Os animais fornecem ótimas oportunidades para os pais educarem seus filhos sobre os fatos da vida, como responsabilidade, sofrimento físico, sexo, fragilidade, morte e a necessidade de cuidar e valorizar toda forma de vida.
Idosos, que estariam perdendo sua sensação de propósito de vida e que, com os filhos já criados e independentes, encontram novamente nos animais de companhia um motivo para sair da cama, para sair de casa e o sentimento de ser útil, de cuidar, de ser incondicionalmente amado, independente de sua condição física ou financeira.
Essa convivência tão próxima aos humanos também produziu distorções indesejáveis e negativas. Destaco aqui pelo menos duas: primeiro, a intensa seleção genética das raças de cães e gatos, baseada quase exclusivamente na aparência física, acarretando alterações anatômicas e fisiológicas, muitas vezes prejudiciais ao bem-estar do animal.
Alguns países desenvolvidos já estão proibindo a criação de cães braquicefálicos, por exemplo, por considerarem essas alterações anatômicas que prejudicam a respiração como maus tratos.
Outro tipo de distorção prejudicial na convivência entre os humanos e animais é o excesso de antropomorfização, isto é, a tentativa de transformar o animal num pequeno humano. Nesse processo, os instintos e comportamentos considerados naturais podem se tornar indesejáveis e novos comportamentos são estimulados e novos hábitos são implementados.
Nesse processo são cometidos muitos excessos: excesso de roupas e acessórios, excesso de medicamentos, produtos químicos, excesso de confinamento e descontrole da reprodução, culminando, muitas vezes, em abandono.
Desfrutar da companhia de um animal traz a responsabilidade de cuidar da saúde física e mental deles, afinal, ficar preso o dia todo num apartamento ou canil, sem interação e oportunidades de exercer atividades que lhes proporciona prazer e felicidade, perece muito mais punição do que proteção.
Vamos lembrar todo dia como é bom ser recebido em casa por olhares de afeto e amor verdadeiro. O benefício tem que ser mútuo, considerando que o egoísmo é um atributo humano e não animal.
Nesse Dia Nacional dos Animais, vamos refletir sobre o que é ser humano e se nos consideramos a espécie dominante no planeta, ainda temos muito que aprender com outras espécies.
(*) Christine Souza Martins é professora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária na Universidade de Brasília.