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Golpes Cibernéticos: a tecnologia como fonte de pressão psicológica

Por Cristiane Lang | 27/09/2024 08:32

Com o avanço da tecnologia, o ambiente virtual se tornou um campo fértil para uma nova modalidade de crime: os golpes cibernéticos. Embora muitas vezes sejam vistos apenas como ataques financeiros ou de roubo de informações, eles têm um impacto muito mais profundo, afetando significativamente a saúde mental das vítimas. Além do prejuízo econômico, os golpes cibernéticos geram uma enorme pressão psicológica, criando estresse, ansiedade e, em alguns casos, traumas duradouros.

O Cenário dos Golpes Cibernéticos

Os golpes cibernéticos evoluíram de formas simples de fraude para esquemas extremamente sofisticados. Roubo de identidade e engenharia social são algumas das ferramentas usadas pelos criminosos para enganar suas vítimas. Esses ataques muitas vezes exploram a vulnerabilidade humana, manipulando emoções como medo, urgência e confiança.

Com a crescente dependência de dispositivos eletrônicos e da internet para atividades diárias, o ambiente digital se tornou um terreno fértil para esses ataques. Transações bancárias, compras online e até interações sociais acontecem cada vez mais no mundo virtual, ampliando as oportunidades para golpistas. A facilidade com que eles podem se esconder por trás de identidades falsas ou invadir sistemas cria um ambiente de insegurança permanente para os usuários.

A Pressão Psicológica dos Golpes Cibernéticos

Embora as perdas financeiras sejam um dos principais focos dos golpes cibernéticos, o impacto psicológico pode ser igualmente devastador. Quando uma pessoa é vítima de um golpe, ela muitas vezes se sente violada, traída e envergonhada. Há um profundo sentimento de impotência, especialmente porque os golpistas raramente são capturados, e a sensação de que a segurança foi perdida é esmagadora.

Alguns dos efeitos psicológicos mais comuns incluem:

    ⁃    Ansiedade e medo: Depois de um golpe, as vítimas muitas vezes se tornam excessivamente cautelosas, desenvolvendo uma constante sensação de que podem ser atacadas novamente. Isso pode gerar um estado permanente de ansiedade, especialmente quando envolve o medo de perder dados pessoais ou financeiros.

    ⁃    Vergonha e culpa: Muitas vítimas de golpes cibernéticos sentem-se culpadas por terem caído na armadilha, acreditando que deveriam ter sido mais cuidadosas. Esse sentimento de vergonha é intensificado pela percepção de que poderiam ter evitado a situação, o que pode levar ao isolamento social e ao medo de pedir ajuda.

    ⁃    Perda de confiança: Os golpes, especialmente os que envolvem engenharia social (em que o golpista manipula emocionalmente a vítima), podem levar à desconfiança generalizada, dificultando relacionamentos futuros, tanto no mundo digital quanto no físico. A pessoa se torna desconfiada de todos os tipos de comunicação online, como e-mails e mensagens, afetando até sua vida profissional.

    ⁃    Estresse pós-traumático: Em casos mais graves, o estresse resultante do golpe pode evoluir para uma espécie de trauma. Vítimas podem reviver constantemente o evento, tornando difícil seguir em frente e restaurar uma sensação de normalidade.

O Impacto nos Grupos Vulneráveis

Embora qualquer pessoa possa ser vítima de um golpe cibernético, certos grupos são especialmente vulneráveis. Idosos, por exemplo, são frequentemente alvos devido à falta de familiaridade com a tecnologia. Além disso, a pressão psicológica sobre esses indivíduos pode ser mais acentuada, pois eles frequentemente dependem de recursos limitados e podem não ter apoio adequado para lidar com as consequências.

Outro grupo vulnerável inclui adolescentes e jovens adultos, que, apesar de serem nativos digitais, muitas vezes subestimam os riscos de golpes online. A exposição frequente às redes sociais e plataformas digitais, aliada à falta de discernimento sobre a segurança cibernética, os coloca em risco, tanto de golpes financeiros quanto de ataques que envolvem a manipulação de dados pessoais.

Como Reduzir o Impacto Psicológico

Diante do aumento das ameaças cibernéticas, é fundamental adotar medidas para reduzir não apenas o risco de ser vítima, mas também o impacto psicológico caso isso aconteça. Algumas estratégias incluem:

    1.    Educação e conscientização: Manter-se informado sobre os tipos de golpes mais comuns e as formas de se proteger é o primeiro passo. Isso envolve entender como funcionam os ataques, desde phishing até ransomware, e saber identificar comportamentos suspeitos.

    2.    Desenvolvimento de resiliência digital: É importante reconhecer que qualquer um pode ser vítima de um golpe cibernético e que o erro não deve ser motivo de vergonha. Buscar apoio, tanto psicológico quanto técnico, após um ataque pode ajudar a mitigar o impacto emocional.

    3.    Apoio psicológico: A terapia pode ser uma ferramenta valiosa para ajudar as vítimas a lidarem com os sentimentos de vergonha, culpa e medo. Profissionais de saúde mental estão cada vez mais cientes dos efeitos psicológicos dos crimes cibernéticos e podem oferecer suporte específico para essas situações.

    4.    Segurança digital: Além da proteção emocional, é fundamental adotar práticas de segurança digital, como usar senhas fortes, autenticação de dois fatores e programas antivírus. Essas práticas ajudam a reduzir a exposição ao risco e trazem uma sensação de controle, o que pode aliviar a ansiedade.

Os golpes cibernéticos representam uma ameaça crescente em nossa sociedade digitalizada, e seu impacto vai muito além das perdas financeiras. A pressão psicológica que eles exercem sobre as vítimas é real e muitas vezes profunda, afetando a saúde mental e o bem-estar. Reconhecer a dimensão desse problema e adotar medidas preventivas, tanto no campo da segurança digital quanto no apoio psicológico, é essencial para enfrentar essa nova realidade.

O mundo virtual oferece inúmeras oportunidades, mas também exige que estejamos cada vez mais preparados para os desafios que surgem com ele. Estar atento aos riscos e buscar apoio são passos fundamentais para enfrentar e superar os efeitos devastadores dos golpes cibernéticos.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo. 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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