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Inteligência estratégica antecipativa como alavanca para inovar

Raquel Janissek-Muniz e Fernanda Maciel Reichert (*) | 14/11/2021 08:30

Para onde as organizações estão olhando para inovar? Para o passado, sua história e tradição, ou para as oportunidades, para novos caminhos e para o futuro? Seu cenário é complexo, pois estão inseridas em ambientes dinâmicos, com mudanças aceleradas que geram muita incerteza.

Diante dessa realidade, inovar tem se tornado cada vez mais desafiador, devido à globalização da competição, à velocidade das transformações tecnológicas, ao encurtamento do ciclo de vida dos produtos, à escassez dos recursos naturais, à vasta quantidade de dados gerada diariamente, etc. No entanto, assim como surgem ameaças advindas da instabilidade do ambiente, dele também emergem oportunidades. As organizações podem promover, a partir do monitoramento desse ambiente, a criação de ideias ou ações que gerem novos conhecimentos que podem se tornar alavanca para a inovação nos negócios.

Esses processos de monitoramento são chamados de inteligência estratégica antecipativa (foresight, em inglês) e envolvem a atenção proativa ao ambiente, em um ciclo permanente de observação, percepção, seleção, coleta, compartilhamento de sinais, interpretação via criação coletiva de sentido e uso da informação. Foresight, diferentemente de forecast, que envolve previsão e tendências, refere-se à antecipação, em uma atitude de percepção de sinais no ambiente que permitam, por meio do olhar coletivo, orientar decisões futuras, devendo, portanto, ser considerado parte da gestão estratégica de inovação.

Assim, uma inovação pode iniciar com a identificação e exploração de um sinal pertinente no ambiente.

O foresight estimula o aprendizado contínuo e provoca ambientes criativos, trazendo ao debate informações que inspiram novas ideias, fomentando a identificação de oportunidades, o monitoramento de trajetórias tecnológicas, a aquisição de novos conhecimentos, a exploração de novos modelos de negócios, a exploração de oportunidades e riscos envolvidos no desenvolvimento de inovações atuais ou futuras, etc. Dessa forma, a partir de processos sistemáticos de atenção ao ambiente, a organização aprimora sua capacidade de gerar conhecimento, considerando, em suas decisões, os sinais antecipativos advindos do ambiente.

A abordagem de monitoramento estratégico antecipativo tem o potencial de desenvolver esta capacidade, incorporando elementos prospectivos para estimular a reflexão sobre possíveis desenvolvimentos futuros, alimentando processos de planejamento e decisão estratégica e fortalecendo capacidades de inovação sustentáveis ao longo da trajetória da organização.

Considerando que a inovação é uma nova solução criada e ofertada pela organização, o fato de esta se antecipar às mudanças do ambiente amplia a sua capacidade de inovação. De fato, o foresight proporciona formas de ver o futuro sob diferentes perspectivas, possibilitando compreender as implicações dos caminhos tecnológicos ou sociais alternativos que se apresentam e que podem influenciar as inovações, fornecendo insights para reposicionar ou reorientar a gestão da inovação.

[…] apesar dos esforços de pesquisa na exploração da capacidade de interpretação do ambiente na alavancagem do processo de inovação, a maneira como o foresight afeta o desempenho de inovação ainda permanece frágil.

Acredita-se, contudo, que pela associação dessas engrenagens (monitoramento e promoção de novos conhecimentos) elas possam estimular a inovação. Assim, a inovação pode ser incentivada se mercado e tecnologia estiverem sendo monitorados e considerados na definição da estratégia organizacional.

O foresight torna a tomada de decisão orientada para o futuro menos incerta, proporcionando às organizações tempo de ajuste e definição de caminhos a seguir. Ele também permite desenvolver uma postura proativa frente aos desafios que se apresentam no ambiente, preparando o terreno com respostas estratégicas. Quando implementado, o foresight potencializa a compreensão do ecossistema e a percepção antecipada de movimentos de ruptura, contribuindo para a redução de incertezas, o entendimento de mercados ou o acesso a conhecimentos que impactam na capacidade de inovação e, consequentemente, no desempenho competitivo sustentável das organizações.

Já se sabe também que a competitividade, a sustentabilidade e a sobrevivência das organizações num contexto de permanente desequilíbrio, disrupção e incerteza tornam-se dependentes de sua capacidade de monitorar seu ambiente, adaptar-se e antecipar-se a ele. Porém, pouco ainda se sabe sobre como o uso das informações prospectivas pode contribuir para a inovação.

Algumas agendas de pesquisa atuais têm buscado investigar como as organizações podem usar o foresight para alavancar a capacidade de inovação com vistas a incrementar sua sustentabilidade competitiva. Uma abordagem possível para aprofundar o fenômeno é avaliar o delineamento estratégico da empresa para a inovação a partir da relação entre as capacidades de inovação de uma empresa e seus processos de inteligência estratégica. Também é possível explorar o foresight como moderador do impacto da transformação digital na inovação da firma. Outra avenida de estudos é definir a capacidade do foresight na geração de inovações, bem como investigar como o potencial humano criativo desenvolvido pelo foresight pode se beneficiar da associação com a inteligência artificial.

Ainda que a pauta de pesquisa esteja aberta e seja ampla, por hora é importante reconhecer o potencial do fenômeno de amplificação da informação através do foresight e sua capacidade de alimentar processos criativos, o que potencializa o processo inovativo. Tem-se, assim, o foresight como uma inovação de processos inovativos, provocando e alimentando, ou seja, alavancando a inovação.

(*) Raquel Janissek-Muniz é professora no Programa de Pós-graduação em Administração (PPGA/EA/UFRGS)

(*) Fernanda Maciel Reichert é professora no Programa de Pós-graduação em Administração (PPGA/EA/UFRGS).

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