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Mudança climática se combate com cidadania mundial

Por Rafael Amaral Shayani (*) | 20/03/2024 09:00

A humanidade precisa de uma abordagem diferente para combater as mudanças climáticas. Mesmo com reuniões anuais de líderes mundiais (COPs) e contínuas promessas de redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE), as ações realizadas pelas nações são ainda pontuais e insuficientes. Um indicativo claro de que algo diferente precisa ser feito é o fato de 2023 ter sido o ano recorde de emissões de GEE no mundo.

O Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, por conta de hidrelétricas e etanol, mas ainda não é o suficiente. Somos o sexto maior emissor de GEE do mundo. Ao considerar a emissão per capta, somos o quarto maior emissor, superados apenas por Estados Unidos, Rússia e China.

Este formidável desafio que se apresenta à humanidade precisa de uma nova estratégia para evitar o aumento de eventos climáticos extremos que tanto prejuízo material causam às pessoas afetadas, além de mortes causadas por chuvas em demasia ou seca extrema.

A conscientização sobre as Mudanças Climáticas por meio da educação é o caminho a ser seguido! Em 2021 a Unesco enfatizou a importância de um reset na educação, para que estudantes sejam empoderados não para repetir informações, mas para construir futuros pacíficos, justos e sustentáveis.

Em 2023, uma nova diretriz educacional foi apresentada ao mundo. A Unesco enfatiza que a educação deve possibilitar que o estudante desenvolva: pensamento crítico; capacidade de antecipar oportunidades e ameaças; senso de conectividade e de pertencimento a uma humanidade comum e diversa; trabalho colaborativo; e cidadania mundial, entre outros.

Esta é a receita para combater as mudanças climáticas! O pensamento crítico nos possibilita evitar os erros do passado, buscando soluções que não mais sejam baseadas em combustíveis fósseis; a capacidade de antecipar ameaças permite visualizar que o custo dos desastres naturais causados pelas mudanças climáticas é muito maior do que o investimento necessário para mitigação e adaptação climática, direcionando assim o prolongado debate sobre financiamento do desenvolvimento sustentável.

O senso de conectividade permite aos estudantes se conectarem com a natureza, constatarem que temos apenas um planeta e uma habitação, e que todos os ecossistemas estão interligados e devem ser preservados; o trabalho colaborativo aumenta a cooperação entre os países em busca de soluções comuns para todo o planeta.

Todos estes aspectos são guiados pela consciência de cidadania mundial. Ao reconhecermos a unicidade da humanidade, de que todos são importantes, de que ninguém pode ficar para trás, de que todos tem direito à um clima saudável, neste momento, os países irão genuinamente se unir de coração em busca de soluções climáticas, em vez de se reunirem em mesas de reunião, mas estarem extremamente distantes em questões de preocupação com o futuro comum da humanidade.

Ao considerar a cidadania mundial, a preocupação não mais será se uma pessoa, empresa ou nação alcançou sucesso, mas sim se o mundo alcançou sucesso. A priorização de posses dará lugar à priorização de relacionamentos. A visão materialista que enxerga os indivíduos apenas como uma unidade econômica egoísta, competindo para acumular quantidades cada vez maiores de recursos materiais, terá fim, visto que o princípio da moderação terá uma maior expressão. A cidadania mundial mudar o olhar do “eu” para “nós”.

Citando Bahá’u’lláh (1817-1892), “a Terra é um só país, e os seres humanos seus cidadãos”. Essa visão de cidadania mundial deve ser trabalhada, desde já, por todos os educadores do planeta, para que a nova geração de profissionais possa, efetivamente, reduzir a emissão de GEE, algo que a atual geração não está conseguindo realizar.

(*) Rafael Amaral Shayani é professor do Departamento de Engenharia Elétrica, da Universidade de Brasília. Doutor em Engenharia Elétrica pela UnB.

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