O futebol feminino nas redes sociais dos clubes gaúchos
O futebol feminino pede licença para entrar na casa dos brasileiros. O esporte que representa o Brasil e que possui nomes como Pelé, Ronaldo e Romário também é o de Marta, seis vezes eleita a melhor do mundo. A prática, que já foi proibida pela lei brasileira, hoje conquista cada vez mais fãs e torcedores ao redor do mundo. Ao mesmo passo, clubes tradicionais do futebol nacional e internacional foram, com o tempo, criando suas equipes femininas e contribuindo para o crescimento da modalidade.
Um movimento da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), em 2016, contribuiu para uma mudança no cenário das mulheres no futebol. Buscando aumentar os números do futebol feminino e dar maior visibilidade à categoria, a Conmebol determinou que os clubes sul-americanos precisavam ter também uma equipe feminina de futebol profissional se quisessem disputar a Copa Libertadores masculina de 2019.
No Rio Grande do Sul, o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e o Sport Club Internacional, que disputaram a competição continental naquele ano, precisaram agir. Reativaram suas equipes femininas, que estavam desativadas por falta de interesse e investimento na categoria. A partir daí, a cada ano, os dois clubes aumentaram o investimento em infraestrutura, elenco e comissão técnica, a fim de conquistar títulos, desenvolver a modalidade e conquistar cada vez mais adeptos e torcedores.
Grandes aliadas à essa expansão do futebol feminino na sociedade esportiva, as redes sociais entram como uma ponte entre clubes e torcedores. Os perfis oficiais de um clube no Facebook, Twitter e Instagram, por exemplo, abrem um canal de comunicação no qual o torcedor pode interagir não só com a instituição, mas também com os demais torcedores, criando uma rede de interação entre usuários. Por isso, cabe à comunicação de cada clube entender a forma como o conteúdo será entregue.
Buscar compreender o tamanho da atenção dada pela dupla Grenal às suas equipes femininas nas redes sociais e ampliar o debate sobre a comunicação do futebol feminino nos clubes e na internet foram os objetivos do Trabalho de Conclusão de curso de Jornalismo escrito sob orientação da professora Sandra de Deus. Com o título “Um perfil para elas ou com elas? A produção e a segmentação de conteúdo do futebol feminino nos perfis @coloradasgurias, @scinternacional e @gremio no Twitter e no Instagram”, o estudo faz um mapeamento das publicações dos três perfis nas redes sociais Instagram e Twitter para debater sobre o que contribui mais para o futebol feminino: a segmentação ou a não segmentação de perfil para a equipe feminina.
Antes de olhar para o objeto de estudo, foi necessário entender alguns conceitos de marketing esportivo e a comunicação de clubes voltada principalmente ao futebol. A partir das bibliografias consultadas, tendo como referência o estudioso Francisco de Paulo Melo Neto, foi possível perceber um novo comportamento por parte do torcedor do século XXI. Esse torcedor quer se sentir presente no dia a dia do seu clube do coração, participar, dar opiniões, se sentir parte do clube. E esse comportamento também está surgindo quando o assunto é futebol feminino. Por isso, os que o fazem, que acompanham, assistem e que torcem necessitam de um conteúdo aprofundado sobre a modalidade. Cabe aos clubes, portanto, acompanharem esse movimento.
A partir da pesquisa desenvolvida, percebe-se certo grau de interesse e compromisso dos dois clubes gaúchos em contribuir para a criação de conteúdo nas suas redes sociais no que diz respeito às equipes femininas. No entanto, é preciso olhar com atenção para a qualidade e a constância desses conteúdos.
Não basta manter uma equipe feminina a partir das regras impostas. É preciso estar atento ao que se quer passar aos torcedores sobre um assunto, uma marca ou um produto. O futebol feminino, nesse caso, se encaixa nas três situações. E não há melhor forma de passar esse posicionamento desejado se não por meio das redes sociais.
Precisa-se, todavia, entender que, no contexto em que se vive, ainda é possível perceber claramente um conceito elaborado por Silvana Goellner e Cláudia Kessler: a sub-representação do futebol praticado por mulheres. Muitos torcedores ainda percebem a equipe feminina dos principais clubes brasileiros como equipes secundárias ou até mesmo não profissionalizadas. Espera-se que essa percepção seja perdida com o tempo e com o desenvolvimento cada vez maior da modalidade, por isso cabe aos clubes passarem uma visão diferente sobre sua equipe feminina. Mas de que forma fazer isso?
Conforme a proposta do estudo, foi possível constatar o quanto ter um perfil segmentado é importante para o desenvolvimento de uma marca no futebol feminino e para a sua maior cobertura. Essa decisão precisa ser tomada com consciência e cuidado, pois esse movimento também pode contribuir para o entendimento de que a equipe feminina é realmente algo secundário ou à parte do clube e, por isso, está em um perfil separado do institucional.
A partir de uma entrega justa em um perfil segmentado e com um desenvolvimento cada vez maior da modalidade e do imaginário brasileiro a respeito do futebol feminino, os perfis institucionais dos clubes devem assumir o protagonismo de distribuição de conteúdos das equipes femininas no mesmo nível e quantidade da equipe masculina.
Há anos o futebol feminino brasileiro luta por uma maior atenção da mídia, da torcida e dos próprios clubes. O desenvolvimento da modalidade já é nítido. Ele está no aumento da identificação da torcida, na procura por produtos, no crescimento da audiência das partidas e no consumo das redes sociais, sejam elas segmentadas ou não. Ou seja, o futebol feminino já entrou na casa dos brasileiros, agora, só espera receber o mesmo protagonismo dado ao masculino em todas as esferas que constroem esse esporte.
(*) Heloíse Bordin é formanda em Jornalismo pela faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS.