Outubro rosa: o impacto do câncer de mama nos familiares
O Outubro Rosa é uma campanha global dedicada à conscientização sobre o câncer de mama, destacando a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do apoio às pessoas diagnosticadas com a doença. No entanto, o impacto do câncer de mama não se restringe apenas à pessoa que enfrenta o diagnóstico – os familiares também passam por um processo emocional intenso e, muitas vezes, desafiador. Este artigo explora como o câncer de mama afeta os familiares, suas reações emocionais e como eles podem encontrar maneiras de lidar com a situação.
O diagnóstico: o choque inicial
Quando uma pessoa recebe o diagnóstico de câncer de mama, a notícia abala profundamente seus familiares. O choque inicial é comum, muitas vezes acompanhado por um misto de descrença, medo e preocupação. A incerteza sobre o futuro, o medo de perder o ente querido e o desconhecimento sobre o tratamento costumam causar estresse e ansiedade. Cada membro da família reage de maneira única: alguns podem sentir necessidade de se distanciar temporariamente, enquanto outros buscam se aproximar ainda mais, tentando oferecer apoio incondicional.
A montanha-russa emocional
O tratamento do câncer de mama pode ser longo e árduo, envolvendo cirurgias, quimioterapia, radioterapia e outras terapias que afetam profundamente o corpo e a mente. Para os familiares, acompanhar esse processo significa vivenciar uma montanha-russa emocional. Em muitos casos, os familiares enfrentam sentimentos de impotência, pois gostariam de fazer mais para aliviar o sofrimento, mas encontram-se limitados no que podem fazer. O medo de que o tratamento não seja eficaz ou que a doença retorne também é uma preocupação constante.
Além disso, a mudança na rotina pode trazer desafios práticos e emocionais. Familiares frequentemente se tornam cuidadores, assumindo novas responsabilidades, como acompanhar consultas médicas, ajudar na administração de medicamentos, e oferecer apoio emocional diário. Esse papel pode ser uma fonte de estresse adicional, especialmente quando combinado com obrigações profissionais e pessoais.
A ansiedade e o medo
A ansiedade sobre o resultado do tratamento é uma constante para os familiares. A cada exame, cada consulta ou atualização médica, a tensão aumenta, com familiares frequentemente oscilando entre a esperança e o medo. Esse estado de incerteza pode ter um impacto psicológico significativo, levando à exaustão emocional e, em alguns casos, até mesmo à depressão.
O medo de perder o ente querido também pode se manifestar de maneiras sutis, levando a um comportamento superprotetor ou, em alguns casos, a um distanciamento emocional como uma forma de autoproteção. A necessidade de ser forte para apoiar o outro pode fazer com que familiares suprimam seus próprios sentimentos, criando um acúmulo de tensão e estresse.
Impacto nos relacionamentos familiares
O câncer de mama pode alterar profundamente a dinâmica familiar. Em muitos casos, familiares precisam ajustar suas rotinas, dividir responsabilidades e se apoiar mutuamente. Isso pode fortalecer os laços familiares, mas também pode gerar conflitos, especialmente se houver diferenças na maneira como cada um lida com a doença. Por exemplo, enquanto alguns familiares podem querer discutir abertamente sobre o câncer, outros podem preferir evitar o assunto como uma maneira de preservar a normalidade.
Os filhos, especialmente, podem ter dificuldades em entender o que está acontecendo. Crianças e adolescentes podem se sentir confusos, ansiosos ou até mesmo culpados pelo que está acontecendo com o pai ou a mãe. Explicar a situação de maneira clara, honesta e adequada à idade é crucial para ajudá-los a processar suas emoções e a lidar com o medo da perda.
Cuidando do cuidador
Embora o foco muitas vezes esteja no paciente, os cuidadores – geralmente familiares – também precisam de atenção e apoio. Cuidar de alguém com câncer pode ser desgastante, tanto fisicamente quanto emocionalmente. É comum que familiares negligenciem suas próprias necessidades em favor do ente querido, o que pode levar à exaustão. Para garantir que o cuidador tenha energia e saúde mental para continuar oferecendo suporte, é importante que ele ou ela encontre maneiras de cuidar de si mesmo. Isso pode incluir buscar apoio de amigos e familiares, tirar pequenos momentos para descanso e lazer, ou até mesmo procurar aconselhamento psicológico.
A esperança e a resiliência
Embora o impacto do câncer de mama seja devastador, muitos familiares encontram maneiras de desenvolver resiliência e força ao longo do processo. O apoio mútuo, a comunicação aberta e a busca por informações precisas sobre o tratamento podem ajudar a reduzir a ansiedade e a promover uma visão mais positiva. Muitas famílias descobrem novas formas de conexão e solidariedade, percebendo a importância de estar presente e de apoiar emocionalmente quem enfrenta a doença.
Além disso, o Outubro Rosa não é apenas um mês de conscientização sobre a prevenção, mas também um momento para fortalecer redes de apoio e lembrar que ninguém enfrenta o câncer sozinho. Grupos de apoio e recursos especializados podem ser valiosos para os familiares, oferecendo um espaço seguro para compartilhar suas experiências, dúvidas e medos.
O câncer de mama, especialmente durante o Outubro Rosa, nos lembra da importância de cuidar da saúde, mas também nos alerta para o impacto emocional que a doença causa em toda a família. Para os familiares, lidar com o diagnóstico de um ente querido significa enfrentar uma série de emoções, desde o medo e a ansiedade até a resiliência e a esperança. Apoio emocional, compreensão mútua e o cuidado de si mesmo são fundamentais para que os familiares consigam atravessar essa jornada desafiadora com força e solidariedade.
(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.
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