Por que falar de copa do mundo de futebol feminino e gênero?
O Futebol Feminino tem ganhado destaque nos noticiários com a chegada da Copa do Mundo que está sendo disputada na Austrália e na Nova Zelândia entre os meses de julho e agosto. Em comparação com a primeira edição do Campeonato Feminino que foi realizado no ano de 1991 na China, com participação de apenas 12 seleções (incluindo o Brasil), pela primeira vez a Copa ganha o mesmo formato que o masculino, com oito chaves e classificação das duas melhores equipes de cada uma.
A Federação Internacional de Futebol (FIFA) também passou a investir na competição de mulheres, com aumento do prêmio geral a ser distribuído para as seleções participantes e para as vencedoras da competição. Outros marcadores passaram a ser notados como recordes de público e ingressos esgotados para as semifinais e finais; repartições públicas de diferentes esferas de governo decretando ponto facultativo aos/às servidores/as em horários dos dias de jogos da Seleção Feminina de Futebol, a exemplo do que ocorre no futebol masculino.
Mas o que isso tem a ver com as questões de gênero?
Muito a além da discussão quanto a necessidade de investimento e reconhecimento do esporte no Brasil e no mundo, aqui inclui o próprio incremento financeiro da FIFA que, apesar do aumento, ainda não condiz com o da competição masculina, falamos dos espaços que as mulheres ocupam cada vez mais e que caracterizam suas conquistas construídas ao longo da história.
A estudiosa Joan Scott, uma das precursoras dos estudos de gênero, afirma que o termo se refere à organização social da relação entre os sexos, uma rejeição ao determinismo biológico, que representa um sistema de relações que pode incluir o sexo, porém, não é determinado por ele. É uma forma de indicar construções culturais, ou seja, a criação social de ideias sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres.
Numa sociedade machista e patriarcal como a nossa, em que há um hiato gigantesco para a produção de relações simétricas entre homens e mulheres, igualmente encontradas no mundo do futebol, que querem determinar o que as mulheres devem ou não fazer, essas problemáticas estão intimamente ligadas ao poder, seja por meio da dominação masculina, seja de uma ideologia que o sustenta.
Esse poder também é ambíguo, pois, por um lado, é distribuído de forma desigual e hierárquica entre os sexos, cabendo às mulheres uma posição de subalternidade nos ordenamentos da vida social; mas, por outro, designa possibilidades de resistências femininas, exercido com uma multiplicidade de relação de forças.
E é exatamente aqui que o Futebol Feminino encontra representação, contribuindo para a luta das mulheres, para que possam ocupar todos os lugares que quiserem, são só no futebol, mas na política, na educação, na saúde, em todos os âmbitos, com lugares de destaque e protagonismo. Isso que sustenta a luta por uma sociedade justa e equitativa entre os gêneros.
Vai lá Brasil, nossa torcida é pelas mulheres!
(*) Fabricia Santina de Oliveira Carissimi é Assistente Social do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS/Ebserh) e Doutoranda em Psicologia da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).