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Por uma suinocultura mais sustentável

Felipe Mathias Weber Hickmann (*) | 26/08/2021 08:30

A suinocultura passou por importantes transformações ao longo dos últimos anos com o aumento da escala e do nível tecnológico e com a verticalização da cadeia produtiva. Até meados da década de 1990, a produção em ciclo completo predominava na suinocultura. Em outras palavras, o mesmo estabelecimento desenvolvia todas as etapas de produção do animal (maternidade, creche e terminação). De lá para cá, a segregação da produção em múltiplos sítios se tornou uma realidade. Essa tendência à especialização ocorreu em todo o país, mas se dá de forma mais intensa na região Sul, juntamente com o aumento da escala e a redução no número de produtores rurais.

O suíno produzido atualmente é bem diferente do suíno produzido em décadas anteriores, principalmente devido aos avanços da genética e da sanidade animal. Considerando o aumento populacional previsto, a perspectiva é de que a cadeia produtiva cresça nos próximos anos de modo a suprir a demanda crescente por carne suína. Apesar da melhora dos índices zootécnicos, a suinocultura é frequentemente questionada pelo seu impacto ambiental e potencial poluidor. Nesse contexto, é essencial identificar e incentivar sistemas de produção de suínos mais sustentáveis.

A suinocultura sustentável do futuro precisa atender à crescente demanda por alimentos sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. Isso é particularmente importante no atual contexto de urbanização e de alta demanda por alimentos. Estima-se que 70% dos alimentos adicionais necessários precisarão ser fornecidos por sistemas agroalimentares inovadores e mais eficientes. Nessas circunstâncias, sistemas sustentáveis de produção precisam buscar continuamente alternativas para melhorar a eficiência na utilização de recursos.

A alimentação dos animais vem sendo apontada como a maior fonte de impacto ambiental associada à suinocultura, uma vez que requer enormes quantidades de recursos alimentares especialmente ricos em proteína. A maioria das abordagens convencionais de mitigação dos impactos ambientais de sistemas de produção de suínos tem-se concentrado nos efeitos ambientais locais da atividade, como, por exemplo, o impacto da excreção de nutrientes via dejeto animal. Poucas abordagens enfocam a eficiência no uso de recursos num contexto global, como a metodologia de análise de ciclo de vida. Considerando a relevância do tema, é importante investigar práticas alimentares que possam mitigar os impactos ambientais associados à alimentação dos animais.

Novas estratégias de alimentação podem ser alternativas eficazes para mitigar os impactos ambientais da produção de suínos.

A redução dos níveis de proteína bruta na dieta e o uso de enzimas exógenas são algumas estratégias nutricionais reconhecidas por diminuir o uso de ingredientes alimentares de alto impacto ambiental, de modo a alterar também a composição dos dejetos animais. Pouco ainda se sabe sobre os impactos ambientais da produção de ração para suínos nas condições brasileiras por meio da comparação de diferentes cenários de produção de grãos, suplementação de enzimas exógenas e/ou diferentes níveis de proteína bruta na dieta, por exemplo. Em relação ao impacto ambiental da suinocultura, a maioria dos bancos de dados disponíveis está baseada nas condições europeias de produção.

A avaliação de impacto ambiental em um sistema brasileiro de produção precisa levar em conta a diversidade existente entre as regiões produtoras, desde as práticas agrícolas utilizadas para a produção dos ingredientes da ração até a fase de criação animal. De maneira geral, a redução da proteína bruta da dieta por meio da utilização de aminoácidos industriais pode reduzir os impactos de acidificação e eutrofização. Nem sempre essa redução de impacto ambiental, entretanto, é significativa, devido ao efeito da variabilidade existente entre os animais. O crescimento animal é um fenômeno complexo, dirigido pela regulação combinada da ingestão de alimentos com a utilização de nutrientes.

A variabilidade dos resultados encontrados na literatura tem sido grande, dada a variedade de unidades funcionais e sistemas de produção considerados. Padronização de metodologias ou novas abordagens são necessárias. Como perspectivas, a avaliação de novas estratégias de alimentação como forma de reduzir o impacto da produção de suínos possui inúmeras aplicações em diferentes contextos produtivos. O sucesso da atividade dependerá de práticas que diminuam os custos de produção, sem dúvida, mas também de novas estratégias, como alimentação de precisão, uso de enzimas exógenas, tratamento de resíduos e uso de biofertilizantes. De modo geral, são inúmeras as possibilidades de mitigação dos impactos ambientais da suinocultura, cada uma delas dentro de um contexto produtivo específico.

Embora estratégias alternativas de alimentação possam mitigar de forma significativa os impactos ambientais associados à produção de suínos, outras abordagens e técnicas também devem ser consideradas de forma integrada. Além disso, aspectos econômicos e sociais também precisam ser levados em consideração. A UFRGS, uma Universidade plural e inovadora, é protagonista nas mudanças que impactam a sociedade. De portas abertas para o conhecimento, para a formação e para a informação, a UFRGS investe em pesquisa e inovação, dialogando com a sociedade e com o mundo, conectando vidas, construindo conhecimento. A Universidade, por meio das atividades de ensino, pesquisa e extensão, tem muito a contribuir neste debate. Por uma suinocultura mais sustentável, onde todos saem ganhando!

(*) Felipe Mathias Weber Hickmann é Engenheiro Agrônomo (UFRGS) e doutorando no programa de pós-graduação em Zootecnia da UFRGS.

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